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Nº 1689 - Ano 36
5.4.2010


“Observatório tenta decodificar
sociedade da informação”

Coordenador do INWeb, maior rede nacional de pesquisa dedicada a tecnologias da internet, o professor Virgílio Fernandes de Almeida aborda suas percepções sobre a área a partir da vida do cidadão comum. Por conta dessa capacidade de avaliar tendências e desafios científicos, tecnológicos e sociais, ele se tornou um pesquisador bastante requisitado também no cenário internacional. Em entrevista ao BOLETIM, o professor do DCC falou sobre o estágio e as direções dos trabalhos do Instituto da Web.

Quando a proposta do INCT da Web foi aprovada, no final de 2008, o senhor apontou que um dos grandes desafios do grupo estaria relacionado à área de ciências sociais, especialmente em identificar e modelar padrões de comportamento a partir da internet. O Observatório expressa a concretização dessa meta?

Sabemos que os recursos que a Web oferece – e-mail, chat, MSN, Google, Facebook, Twitter – serão cada vez mais a base da infraestrutura do país, que afetará tudo: trabalho, lazer, educação, relações humanas e sociais. Assim, ao focalizarmos o projeto Observatório da Web, tentamos compreender a sociedade da informação, em que as tecnologias da comunicação e as sociais (Facebook, Twitter, You Tube e blogs) continuarão mudando o rumo dos negócios, da mídia (quem poderia imaginar que as pessoas hoje obteriam mais informações na internet que nos jornais ou TV) e da sociedade – veja os exemplos do Irã e da China, onde Twitter e e-mails contornam processos de censura.

Com o Observatório, tentamos decodificar ‘’trilhões de bytes de informação’’, buscando mostrar ao cidadão o que ocorre nesse universo da Web, formado, no Brasil, por mais de 56 milhões de pessoas e no mundo por cerca de 1,6 bilhão. A rede social Facebook conta com mais de 400 milhões de usuários. Selecionamos inicialmente os temas eleições, celebridades e esportes porque fazem parte do universo de praticamente todo brasileiro. Além disso, num país onde quase 100% dos domicílios possuem TV, esses temas repercutem nas conversas do dia a dia. Isso também ocorre na Web, mas nela as conversas e as informações não são determinadas pelas editorias ou pelos donos de TV ou de jornais.

Quais são as contribuições e questões postas por esse projeto para outras áreas do conhecimento, além da computação?

Um segundo grande projeto do INWeb será a constituição da Rede INCT. Coletaremos informações dos pesquisadores envolvidos em todos os projetos INCT do país – currículo Lattes, produção científica, artigos, livros, patentes tecnológicas etc. A partir daí, deveremos mostrar como as áreas da ciência e do conhecimento se organizam nesses grupos, como são as colaborações entre pesquisadores e como surgem as interações multidisciplinares. Podemos dizer que buscamos construir um mapa da ciência no país, usando como amostra os cerca de 120 institutos aprovados nacionalmente.

O desenvolvimento de algoritmos para softwares é considerado o ponto forte da UFMG no mercado internacional. Como os projetos do INWeb estão reforçando essa vocação?

O INCT da Web está desenvolvendo algoritmos sofisticados para traduzir o mundo da informação na rede para o cidadão comum. Como, por exemplo, aqueles que interpretam automaticamente o sentido de um comentário feito sobre uma personalidade. Quando alguém escreve ‘’Serra grande’’ está fazendo referência qualitativa sobre o governador Serra ou a uma praia na Bahia? O Observatório da Web aplica essa modalidade de algoritmo e os aperfeiçoa. Além disso, os algoritmos permitem dar sentido, em segundos, a trilhões de informações coletadas em qualquer ponto do universo informacional. Não há restrição de lugar e hora: as informações vão surgindo e os robôs, coletando. Também quando tentamos entender a chamada Collective Intelligence, usamos algoritmos que extraem significado implícito ou explícito do comportamento coletivo na Web. No Observatório, o item Polaridade – expressão da aprovação ou reprovação de um fato ou alguém – é exemplo desse trabalho. Outro ponto importante é que os algoritmos permitem a construção de filtros, artefatos-chaves em tempos de excesso de informação. Exemplos são os filtros de privacidade, de reputação, de eventos que importam.