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Nº 1698 - Ano 36
7.6.2010

Sertão de contrastes

UFMG realiza quinta edição do Seminário Visões do Vale, com programação que inclui lançamento de livros e apresentação de trabalhos de pesquisa e extensão

Zirlene Lemos*

Rio Jequitinhonha, de Rita da Glória
Sertão

Quando o assunto é o sertão e o sertanejo, emergem as ideias de escassez, rusticidade, atraso, miséria. Essa visão, ainda que dotada de sentido, não expressa a complexidade de uma região como o Vale de Jequitinhonha. Outros modos de olhar para esse lugar e sua gente serão mostrados no seminário Visões do Vale 5 – Jequitinhonha: desenvolvimento e sustentabilidade, que será realizado nesta quarta e quinta-feira, 9 e 10 de junho, na UFMG.

O evento, aberto ao público, é promovido pela Pró-reitoria de Extensão e realizado pelo Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha desde 2004. Esta edição, que ocorrerá na Faculdade de Ciências Econômicas, inclui conferências, mesas-redondas, lançamento de livros e apresentação de trabalhos de pesquisa e extensão.

Podem participar pesquisadores, estudantes, membros da comunidade, gestores e interessados em geral. O objetivo é realizar discussões temáticas nas quais tenham vez e voz as diferentes visões do Jequitinhonha. “O seminário é um espaço para discussões amplas, compartilhamento de saberes e, principalmente, para difundir os resultados de pesquisas que poderão contribuir para a elaboração de diretrizes destinadas ao desenvolvimento social do Vale do Jequitinhonha”, destaca o professor João Valdir Alves de Souza, da Faculdade de Educação e coordenador do seminário.

Seguindo a temática desenvolvimento e sustentabilidade, a proposta é trazer, para o âmbito das universidades, experiências reais do cotidiano da região. “Há grande quantidade de pesquisas produzidas, entre teses, dissertações e monografias, mas o que a universidade conhece sobre o Vale?”, questiona Souza. O professor defende que “há pelo menos 20 anos, muito antes do debate entrar nas universidades, na mídia e na sociedade em geral, essas questões estavam presentes nos movimentos sociais, que já operavam com tais mecanismos na prática”.

João Valdir de Souza cita o exemplo do Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica, associação sem fins lucrativos criada na década de 90, ligada aos trabalhadores rurais de Turmalina e que realiza atividades adaptadas às características sociais, econômicas e ambientais da região. “No seminário, não queremos ‘levar’ o que entendemos por sustentabilidade; queremos ouvi-los, compreender o que fazem para aprender e compartilhar”, frisa.

Essa postura dialógica, na opinião de Souza, gera mudanças positivas nas universidades. “Esse tipo de discussão sensibiliza uma série de agentes; os professores levam o debate para a sala de aula, transformam o assunto em objeto de pesquisa e extensão, o que naturalmente provoca mudanças de atitude. As universidades começam a perceber as ações concretas desenvolvidas há anos e que desconhecemos”, acredita.

Trabalhos

Este ano, o evento voltou a abrir chamada pública para apresentação de trabalhos, priorizando propostas que envolvem alternativas de geração de trabalho e renda, atores coletivos, representações sociais, concepções de desenvolvimento e estratégias de organização socioeconômica de promoção humana. Das 30 propostas enviadas, foram selecionadas dez entre trabalhos da UFMG, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Instituto de Geociências Aplicadas de Minas Gerais (IGA) e Rede Vale Mais de Cultura. Eles versam sobre o artesanato cooperativo no Jequitinhonha, a criação do Instituto Nacional do Artesanato Brasileiro, desenvolvimento turístico e agricultura familiar, entre outros temas.

Ambivalência em análise

O que é o Jequitinhonha? Como interpretar a ambivalência de uma região que, na maior parte das vezes, é retratada por suas carências (miséria, abandono, estagnação), mas que desperta curiosidade pela riqueza de seu artesanato, força de sua música e variedade de suas festas?

Reflexões sobre essas e outras questões estão no livro Vale do Jequitinhonha: Formação histórica, populações e movimentos, um dos seis que serão lançados durante o seminário. Fruto do Seminário Visões do Vale 4, foi organizado pelos professores João Valdir Alves de Souza e Márcio Simeone Henriques, este do Departamento de Comunicação Social da Fafich. A obra é dividida em três partes: formação histórica do Vale; características da população; e estratégias de comunidades rurais para lidar com recursos naturais e suas formas de organização social.

A programação completa do evento pode ser acessada aqui. As inscrições, gratuitas, devem ser feitas pelo e-mail visoesdovale@proex.ufmg.br. Outras informações pelo telefone (31) 3409-4067.

*Jornalista da Pró-reitoria de Extensão da UFMG