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Nº 1704 - Ano 36
9.8.2010


Aprendendo com a paisagem

Professor do IGC lança manuais que mapeiam a riqueza geoambiental e cultural da região de Catas Altas

Ana Rita Araújo

Paisagens revelam histórias – de lugares, pessoas e grupos sociais. Mas sem um olhar treinado e o domínio de técnicas adequadas de interpretação nem sempre é possível decifrar a riqueza dos signos mais instrutivos contidos em cada ambiente. Uma série de três manuais, com informações sobre o patrimônio histórico, cultural e geográfico do município de Catas Altas, em Minas Gerais, apresenta proposta inédita para o ensino de questões ambientais e para dar suporte técnico a empresas que atuam com turismo ecopedagógico.

“Com o Manual de Turismo Pedagógico em mãos, todo professor, de qualquer nível de ensino, terá condições de formatar uma aula de campo, para comunicar conhecimentos fundamentais sobre as características geoambientais de uma das regiões mais importantes do estado”, diz o autor do trabalho, professor Alloua Saadi, do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências (IGC), da UFMG.

A reedição do material, produzido originalmente para distribuição no município de Catas Altas, está sob análise no Núcleo Caraça da Rede Organizada para o Turismo Autossustentável na Estrada Real, que tem o apoio da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Segundo o professor, a distribuição dos manuais na estrutura da rede tem por objetivo viabilizar o processo de ensino e aprendizagem dos profissionais e das instituições que atuam na região, em especial as empresas ligadas à rede de turismo local.

“Na nova edição, a dimensão pedagógica dos manuais será ampliada”, antecipa Alloua. “Para isso é necessário um conhecimento íntimo da região e o domínio de técnicas apuradas de identificação e interpretação dos signos da paisagem mais pertinentes e portadores de informações importantes, em meio aos milhares que carregam o campo da visão”, ensina. Segundo ele, o Centro de Pesquisa-Ação em Planejamento Turístico, do IGC, tem capacidade para atender outras demandas semelhantes. Professor convidado da Universidade da Córsega, na França, onde ministra anualmente disciplina sobre turismo, Alloua comenta que a experiência brasileira inspirou agências públicas daquele país a produzir manuais similares.

Identidade ambiental

O foco no ensino de questões ambientais ganha destaque ao se considerar que “o indivíduo que vivencia e experimenta uma localidade desenvolve uma identidade com o ambiente em questão”, diz Alloua. Com a experiência de 30 anos de atuação na produção de conhecimento e no ensino das questões ambientais, o pesquisador explica que a comunidade científica se conecta à paisagem ao realizar análises da sua estrutura, funcionamento e dinâmica. “A questão é traçar estratégias para usufruir determinadas paisagens, dando ênfase ao que é mais adequado para cada uma, e harmonizar a ocupação com as especificidades da área”, destaca.

No caso de Catas Altas do Mato Dentro – município localizado a 120 quilômetros de Belo Horizonte, ao pé da Serra do Caraça –, os manuais trazem informações com três abordagens do local: história da mineração; da arte e da cultura; e do Santuário do Caraça. O primeiro explica que o lugar onde está situada Catas Altas foi descoberto por volta de 1695, sendo a mineração a base histórica do desenvolvimento do município durante quase todo o século 18. Seguem-se textos didáticos sobre a história da mineração e o minério de ferro – processo produtivo, com extração, beneficiamento, fluxo internacional. O material também inclui o perfil geológico da Serra do Caraça, com mapas, ilustrações, fotografias e roteiros.

No manual sobre história da arte e da cultura há informações sobre artesanato, eventos, o sítio arqueológico da Pedra Pintada e o tradicional vinho de jabuticaba, responsável pelo complemento de renda de mais de 30 famílias na cidade. O terceiro é específico sobre o Santuário do Caraça, Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), berço de colégio de formação religiosa fundado em 1774 e transformado em hotel, depois de incêndio ocorrido em 1968. A cartilha traz ainda informações sobre a biodiversidade da região e texto sobre responsabilidade ambiental.