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Nº 1733 - Ano 37
11.04.2011

No RASTRO de DUMONT

Centro de Estudos Aeronáuticos da UFMG é referência mundial em inovação e desenvolvimento de aeronaves

Hélio Brandão

A recente homologação de quatro recordes mundiais em aeronáutica representa o coroamento de um longo trabalho de pesquisa e desenvolvimento científico realizado no Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA-UFMG). Após 11 anos de trabalho, a Fédération Aéronautique Internationale (FAI), entidade com sede na Suíça e que homologa os registros em aviação, reconheceu o CEA-308 como o avião leve mais rápido do mundo.

O projeto da aeronave surgiu durante a graduação de Paulo Iscold, hoje professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG. “Desde o início, sabíamos que estabelecer um recorde absoluto de velocidade seria difícil. Assim, focamos em uma marca para aviões de até 300 kg, projeto que poderia ser realizado dentro da Universidade”, explica ele, citando que o último recorde com piloto e aeronave brasileiros reconhecido pela FAI pertencia ao aviador Alberto Santos Dumont.

Foca Lisboa
Manuscrito
Mario Chaves e Luiz Menezes: mineral com inédita composição química e organização atômica

A aeronave bateu três recordes mundiais de velocidade (percursos de 3, 15 e 100 quilômetros) e um de razão de subida (até três mil metros). No caso deste último, o desempenho foi além das expectativas, já que o protótipo não fora projetado para superar a marca. A explicação para o sucesso, segundo Iscold, está na aerodinâmica. “Toda a estrutura e a concepção do projeto foram desenvolvidas aqui na Universidade”, lembra ele, acrescentando que o processo incluiu cálculos, testes em solo e em voo. Bem-humorado, ele comenta: “Agora, os segredos para fazer o avião voar assim eu não posso revelar, senão você vai lá e quebra o nosso recorde”. Os recordes anteriores já eram bem antigos, sendo que o mais recente, na modalidade de percurso de três quilômetros, foi cravado em 1999, na Áustria (veja tabela nesta página).

Facilitando a pilotagem

Criado em 1963, o Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) já recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, pelos seus projetos. Consolidado o recorde, Paulo Iscold não vê desafios iminentes para o CEA-308. Mas isso não quer dizer que o ritmo de trabalho vá diminuir. Segundo o pesquisador, o CEA também desenvolve protótipos de acrobacias, aviões-autônomos, peças como turbinas eólicas e o projeto do avião facilitado, cujo objetivo é popularizar a condução de aeronaves: “Queremos tornar a pilotagem de um avião tão fácil quanto a de um carro. Estamos desenvolvendo um computador capaz de auxiliar nos comandos, quase um piloto automático, mas ainda submetido a um piloto humano”, explica Iscold.

Essa variedade de projetos atrai tanto parceiros públicos, como agências de fomento a pesquisa e inovação, quanto empresas privadas, num claro sinal da credibilidade conquistada pelo CEA ao longo dos anos, inclusive no cenário internacional. O Centro de Estudos Aeronáuticos já auxiliou equipes da África do Sul e da Inglaterra no Red Bull Air Race, desafio que mistura corrida e acrobacias com aviões, trabalhando com a equipe campeã da edição de 2010 do torneio.

O CEA também tem registrado patentes dos produtos desenvolvidos pelos estudantes. “Muitos dos conceitos formulados aqui acabam sendo aproveitados pelas empresas. É como um carro de Fórmula 1: difícil virar um produto, mas o avanço tecnológico chega, de alguma forma, até o consumidor”, diz Paulo Iscold.

O pesquisador acredita que o alcance do recorde é mais significativo do que o registro de patentes ou a publicação de artigos. “Temos que mensurar a produção científica de outras formas. Um projeto como o do CEA-308 é muito mais benéfico para a formação do aluno do que a publicação de artigos”, opina o professor, indicando a preocupação do Centro de Estudos Aeronáuticos com a consolidação da cultura aeronáutica no Brasil e a ênfase na formação dos estudantes.

Um dos meios usados para isso é o incentivo à tecnologia in-house, ou seja, o desenvolvimento próprio de peças, ferramentas, programas e projetos, em vez da simples aquisição de componentes no mercado internacional. “É importante estimular o desenvolvimento interno de tecnologia, pois dessa forma o aluno entende que a formação dele não deve em nada à que se oferece em outros países”, avalia.

 

Categoria Recordes do CEA-308 (batidos em 2010 pelo comandante Gunar Armin) Recordes anteriores
Percurso de 3 km 360.13 km/h 351.39 km/h, por Peter Scheichenberger, Áustria, 1999
Percurso de 15 km 329.1km/h 292.15 km/h, por Charles Andrews, USA, 1982
Percurso de 100 km 326.8 km/h 297.7 km/h, por Brian Dempsey, USA, 1989
Razão de subida (até 3.000 m) 8 minutos e 51 segundos 13 minutos e 40 segundos, por Mikhail Markov, antiga União Soviética, 1990