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Nº 1733 - Ano 37
11.04.2011


O AMOR nos tempos da WEB

Pesquisa da Ciência da Informação revela o que pensam e como se comportam os usuários do Orkut que entram em comunidades sobre o tema

Clarice Cerqueira

O que é o amor? Como ter um relacionamento amoroso saudável? Por que muitas relações – ou o término delas – levam os parceiros a um grande sofrimento? Esses questionamentos, que passam pela cabeça de praticamente todo ser humano, levaram o pesquisador Ruleandson do Carmo Cruz a sentir a “pulsação” dos internautas do Orkut, a mais popular rede social entre os brasileiros. O resultado de sua incursão está na dissertação Redes sociais virtuais de informação sobre amor: comportamento e cultura informacional de usuários do Orkut, defendida no último dia 28 junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFMG.

“O assunto é visto com certo preconceito entre os pesquisadores, mas meu estudo evidencia como a sociedade tem buscado respostas para seus dilemas afetivos e sexuais”, comenta Ruleandson. Temáticas envolvendo amor e relacionamentos são amplamente debatidas no Orkut. De acordo com pesquisa da Nielsen Online, realizada em 2009, dois terços da população global acessam as redes sociais e 23% do tempo que os brasileiros passam na internet é dedicado a essas ferramentas.

Segundo o pesquisador, a necessidade de falar e compartilhar problemas amorosos é um traço presente na humanidade desde a antiguidade. Como exemplo, ele cita O banquete, diálogo escrito por volta de 380 a.C., em que Platão e Aristófanes atribuíram características ao sentimento.

Motivações

A saudade, a vontade de se aprofundar no tema, a extrema felicidade e a tristeza são os motivos que mais levam os internautas a participar das cinco comunidades avaliadas. Essa constatação foi extraída a partir de respostas a questionários aplicados entre 103 dos usuários mais ativos na criação de tópicos e enquetes.

A dissertação aponta que 46% dos entrevistados avaliam a obtenção de informações sobre o tema de muito importante a importante e 46% qualificam a informação como mediana. “O interesse pelo assunto existe entre pessoas de ambos os sexos”, comenta Ruleandson do Carmo. As comunidades têm mais mulheres, mas os homens são usuários mais ativos. A maioria, com idades entre 25 e 59 anos, é solteira e manifesta desejo de casar.

A pesquisa indica ainda que alguns usuários recorrem ao sobrenatural para resolver seus problemas amorosos. “Isso mostra que as pessoas buscam informações de todo tipo para serem mais felizes”, comenta o pesquisador. De acordo com ele, muitos usuários tentam encontrar soluções através de orações, simpatias e do compartilhamento de seus problemas com pessoas que passam pela mesma situação.

Pesquisa

O trabalho foi desenvolvido a partir de cinco comunidades: Eu ACREDITO no AMOR; O mito do amor romântico; Se é amor... q seja verdadeiro!; Amor, Respeito e Confiança!; e Amor e sexo em debate.

Dentre as representações de amor observadas, três se sobressaíram: o amor romântico, o poliamor e o amor líquido. O amor romântico, recorrente em filmes, livros e novelas, é definido como um sentimento de paixão direcionado a um único parceiro e capaz de perdurar até a eternidade. O amor líquido é vivenciado por aqueles que, apesar de idealizarem o amor romântico, não estabelecem relacionamento duradouro e mudam de parceiro assim que surgem problemas na convivência. Os poliamoristas acreditam que o amor se manifesta de diferentes formas e que as pessoas podem ter vários parceiros no âmbito afetivo e sexual ao mesmo tempo.

Ruleandson do Carmo Cruz é graduado em jornalismo e estuda o tema desde a monografia da graduação, concluída em 2007. É titular do blog Eu só queria um café... (www.eusoqueriaumcafe.com), em que reúne crônicas de amor, notícias e entrevistas sobre o comportamento e o desabafo de leitores.

Dissertação: Redes sociais virtuais de informação sobre amor: comportamento e cultura informacional de usuários do Orkut Autor: Ruleandson do Carmo Cruz Programa: Pós-graduação em Ciência da Informação Defesa: 28 de março Orientadora: professora Júlia Gonçalves da Silveira, da Escola de Ciência da Informação