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Nº 1741 - Ano 37
6.6.2011

POESIA reunida

Projeto Sentimentos do Mundo promove eventos que lembram história do movimento estudantil e da poesia marginal

Itamar Rigueira Jr.

Detalhe de intervenção artística nas imediações da Escola Municipal Aurélio Pires: vivência real
cartaz do acervo do Projeto República
Cartaz do acervo do Projeto República

A UFMG recebe este mês três visitantes que têm relação próxima e intensa – e de longa data – com os estudantes. Chacal, Marcelo Dolabela e Ricardo Aleixo atuarão como mestres de cerimônia de um grande encontro da poesia marginal dos anos 70 e 80 com a história do movimento estudantil.

Na manhã desta terça-feira, 7, às 10h30, o carioca Chacal oferece performance no auditório da Reitoria, que vai resgatar 40 anos de poesia (veja entrevista na página ao lado). Aproveita para lançar dois livros e presenciar a abertura da exposição Marginália e Experimentação: a Poesia e o Movimento Estudantil. No mesmo dia, às 19h30, Chacal se junta a Marcelo Dolabela e Ricardo Aleixo, além da professora Heloisa Starling, da Fafich, para um debate no Espaço TIM UFMG do Conhecimento. Para fechar o projeto, no dia 22, às 10h30, os mineiros Dolabela e Aleixo apresentarão performances, mais uma vez no auditório da Reitoria.

Coordenadora do programa Sentimentos do Mundo, a professora Ana Caetano lembra que acontece em campos como o cinema, a literatura e a música um movimento de resgate da resistência à ditadura militar. Mas ressalta que dois atores coletivos merecem registro mais forte: o movimento estudantil e a poesia marginal, “que foi uma mistura irreverente de experimentação, humor e política e inventou uma dicção própria e original”.

De acordo com Ana Caetano, mais que um estilo, a geração de poetas criou espaço novo de produção e circulação: livros, jornais e fanzines eram feitos em mimeógrafo – o instrumento que fazia cópias em papel utilizando estêncil e álcool acabaria se tornando símbolo da poesia marginal e do movimento estudantil – e vendidos ou distribuídos no corpo a corpo, muitas vezes em reuniões de estudantes.

“Os elos entre os dois (os movimentos poético e estudantil) são históricos e permitem investigação iluminadora do papel da cultura e, mais especificamente, da voz dos poetas e estudantes nos grandes movimentos de contestação da juventude, em um tempo em que ser criativo e de esquerda era também ser marginal”, afirma Ana Caetano, em texto de apresentação do projeto.

Pioneirismo

Ex-integrante do grupo Cemflores, sediado na década de 1970 no DCE da UFMG, Marcelo Dolabela destaca que Chacal foi o primeiro daquela geração de poetas a manter contato com a academia, através dos diretórios de estudantes de universidades como as federais Fluminense (UFF) e do Rio de Janeiro (UFRJ).

“As coisas foram um pouco diferentes em Belo Horizonte. Aqui a poesia marginal surgiu com o movimento estudantil, enquanto no Rio alguns professores, como Heloisa Buarque de Holanda, começaram a apoiar os poetas”, diz Dolabela, que organiza livro sobre memórias do movimento estudantil, com publicação prevista para 2012.

Curador da exposição que integra o projeto emoldurado pelas performances poéticas, Marcelo Dolabela afirma que a poesia marginal demorou a ser vista como literatura. “Ficou excessivamente caracterizada como contracultura. Só recentemente estudiosos reconheceram seu valor como forma de renovação da poesia”, diz Dolabela.

O poeta, músico e produtor cultural Ricardo Aleixo acompanhou a distância o movimento estudantil – até porque seguiu trajetória que não incluiu a academia –, mas acha que os eventos deste mês serão ótima oportunidade para conversar sobre afinidades e diferenças com nomes como Chacal e Marcelo Dolabela. “Há tendência de se verem histórias como as nossas como isoladas, mas nos encontramos em aspectos como a rebeldia e a experimentação estética”, diz Aleixo.

Chacal, Ricardo e Marcelo

‘Reencontro’ em exposição

A mostra que promoverá reencontro da poesia marginal com o movimento estudantil terá cartazes, programas de política universitária, livros de poesia, jornais e panfletos de calouradas, entre outros itens dos acervos do Projeto República, da UFMG, e de Marcelo Dolabela.

Todo esse material estará em vitrines e em projeções. Estas vão acontecer em uma mesma sala, mas em planos separados: um com poemas e capas de livros, e outro com imagens de época, que pretendem oferecer panorama dos acontecimentos no país. Em fones de ouvido, música suave e um som mais pesado vão acompanhar, respectivamente, os poemas e as fotos de época.

“Vamos explorar as linguagens que marcaram esses movimentos, e a exposição terá uma estética um tanto ruidosa, que remete à precariedade dos meios de produção de poetas e estudantes”, explica o artista plástico e designer gráfico Paulo Schmidt, que assina a concepção museográfica.

Leia também: Entrevista com Ricardo de Carvalho Duarte, o Chacal