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Nº 1745 - Ano 37
22.8.2011


“Devemos formar engenheiros CRIATIVOS e EMPREENDEDORES”

Itamar Rigueira Jr.

Arquivo pessoal
Miller: seleção de alunos com múltiplas inteligências

Os altos índices de evasão e retenção nos cursos de engenharia no Brasil preocupam dirigentes de universidades e de entidades profissionais, especialmente em tempos de crescimento da demanda por engenheiros no país. A Escola de Engenharia da UFMG, cuja direção assumiu o compromisso de promover mudanças na graduação, realiza esta semana o seminário Engenheiro do Futuro, que vai discutir o assunto. E o vice-diretor da unidade, Alessandro Fernandes Moreira, visitou recentemente o Franklin W. Olin College of Engineering, nos Estados Unidos, que ostenta o invejável índice de evasão zero.

O presidente de Olin College, Richard K. Miller, um dos convidados do evento, explica nesta entrevista os principais aspectos envolvidos no processo de criação da escola e no desenvolvimento de sua metodologia. Ex-consultor do Banco Mundial para a implantação de universidades, ele defende que a formação dos engenheiros priorize, além de conhecimentos em matemática e ciências, a capacidade de liderança e de comunicação.

Qual é a história de Olin College?

A instituição surgiu em 1997 dentro de um contexto de insatisfação com a formação de engenheiros nos Estados Unidos. Olin College nasceu com o propósito específico de criar um novo paradigma para a formação em engenharia. Sua primeira graduação aconteceu em maio de 2006, e os novos engenheiros foram, em grande medida, diferentes daqueles saídos das escolas mais tradicionais.

A evasão de estudantes ainda é um problema nos Estados Unidos? E no resto do mundo?

Menos de 5% das graduações nos Estados Unidos este ano foram de engenheiros. Esse percentual tem caído nos últimos anos. E isso tem acontecido também em outros países desenvolvidos. É fato que, à medida que aumenta a riqueza de uma nação, diminui a percentagem de sua juventude que opta pela engenharia.

O que principalmente o senhor vem dizer no seminário da UFMG?

Matemática e ciência serão sempre importantes para os engenheiros, mas essas disciplinas não bastarão para líderes em tecnologia no século 21. Engenheiros precisam aprender também a trabalhar bem em equipes multidisciplinares, liderar e comunicar-se com eficiência, pensar e agir como empreendedores, e tornar-se cidadãos globais que pretendam fazer diferença positiva no mundo. Parece impossível conseguir isso em um curso de graduação de quatro ou cinco anos, mas não é. Pensar de forma diferente sobre educação e utilizar avanços recentes na área da cognição permitem ganhos substanciais. Isso vai além do conteúdo, e inclui atitudes, comportamentos e motivações.

Quais são as bases das mudanças implantadas por Olin College?

Nossa missão é produzir profissionais inovadores. Os desafios do século 21 exigem grandes doses de inovação, e a engenharia provê os melhores fundamentos nessa direção. Inovações não são apenas novas ideias, mas também novos equipamentos e processos bem-sucedidos que mudarão para sempre nosso modo de vida. Mas a inovação envolve sempre três aspectos independentes: exequibilidade, viabilidade e a qualidade de ser desejável. Nada acontece no mundo físico a menos que seja exequível, e nesse sentido o estudo de ciência e matemática é essencial. Mas é preciso ainda que a inovação seja financeiramente viável, e os inovadores devem entender os fundamentos de negócios e empreendedorismo. Finalmente, novas ideias nem sempre conquistam, de imediato, a adesão de muitas pessoas, que dispõem de outras alternativas. Portanto, é preciso conhecer as bases da motivação humana e do marketing.

E quais as principais inovações do curso?

Em primeiro lugar, nossa escola seleciona estudantes que detêm múltiplas inteligências. E implementa um programa rigoroso, com ênfase no design e na criatividade. Todos os estudantes de Olin devem iniciar e tocar um negócio para graduar-se, e apresentá-lo a uma grande audiência no fim de cada semestre. Em cada semestre, eles trabalham em, pelo menos, um projeto focado em design de engenharia. No último ano, eles trabalham em pequenas equipes para um cliente corporativo que paga 50 mil dólares pelo seu projeto.

Que instituições e países adotaram o programa de Olin College?

Nosso propósito é contribuir de forma relevante e constante para o avanço da educação em engenharia nos EUA e no mundo. E mantemos contato com outras universidades para compartilhar nossas ideias e resultados. Nos últimos dois anos, fomos visitados por cerca de uma centena de instituições de todo o mundo, interessadas em inovar de forma semelhante à nossa. E temos trabalhado com diversas universidades que adotaram parcelas de nosso programa, como University of Illinois at Urbana-Champaign, Creighton University (ambas nos EUA) e University of Singapore.

Vocês enfrentaram algum tipo de oposição?

Implantar uma nova instituição do nada obrigou-nos a enfrentar diversos desafios. Entretanto, tivemos pequena oposição explícita de outras universidades americanas. Isso se deve, em parte, ao nosso esforço, desde o princípio, para nos aproximarmos delas pedindo conselhos e ajuda no planejamento do novo currículo. Criamos um conselho consultor que inclui dirigentes de diversas das mais famosas escolas de engenharia dos Estados Unidos e o presidente da Academia Nacional de Engenharia, além de nomes importantes da indústria. Este conselho foi extremamente útil na tomada de decisões estratégicas, assim como na divulgação das inovações que desenvolvemos.