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Nº 1758 - Ano 38
21.11.2011

Transplantando novos CONCEITOS

Trabalho premiado internacionalmente propõe regular mercado de órgãos

Maurício Paulucci

A criação de um mercado lícito e regulado pode ser alternativa para solucionar o problema da escassez de órgãos e tecidos humanos destinados a transplantes, defendem alunos da Faculdade de Direito, em trabalho premiado no evento XIX Jornadas de Jovens Estudantes do Grupo Montevidéu, realizado em outubro no Paraguai. O artigo, desenvolvido por Daniel Mendes Ribeiro, Mariana Alves Lara e Nara Pereira Carvalho, integra as atividades do Grupo Persona, coordenado pelo professor Brunello Stancioli.

Os autores destacam que transplantes de órgãos e tecidos são tratamentos terapêuticos cada vez mais recorrentes para diversas doenças, enquanto cresce também o número de pessoas que aguardam nas listas de espera. A comercialização de órgãos e tecidos é vedada no ordenamento jurídico brasileiro, com pena prevista de multa e detenção de até oito anos, pois o país adota sistema baseado exclusivamente em doações, tanto entre vivos quanto na retirada de órgãos após a morte.

Para Mariana Lara, um dos motivos da proibição é o culto à sacralidade do corpo, e qualquer forma de monetarização dele seria considerada indigna. “Partindo do pressuposto de que a dignidade é a autorrealização da pessoa, a possibilidade de ela ser autônoma e fazer o que quiser com o próprio corpo não pode ser considerada como algo indigno”, acrescenta.

Lista de espera x transplantes de rins no Brasil
Grafico

Restrições ao livre mercado

Outro argumento bastante utilizado para a defesa da proibição, segundo os autores, é a possibilidade de exploração de pessoas carentes, que poderiam ser coagidas ou compelidas a venderem seus órgãos como forma de sobrevivência. O trabalho, porém, sustenta que a pobreza não implica perda da autonomia e da capacidade de fazer escolhas. Além disso, argumentam, tais escolhas seriam condicionadas pela obrigatoriedade do consentimento informado e a existência de critérios de risco para seleção e filtragem dos potenciais vendedores.

Além disso, os autores afirmam que a criação de um mercado para comércio de órgãos deve respeitar critérios de justiça e equidade, com restrições de práticas de “livre mercado”, fixação de preços e subsídios para os mais pobres e estabelecimento de critérios médicos de prioridade. “Não há razão forte o suficiente para proibir a venda de órgãos. Essa restrição é baseada em concepções morais de cunho religioso”, diz Mariana Lara, ao acrescentar que “em um Estado laico e democrático como o brasileiro, não se poderia limitar a possibilidade de ação das pessoas, com a imposição de uma visão moral”.

Nara Pereira Carvalho, mestre em Direito pela UFMG e coautora do artigo, destaca a importância de estabelecer o diálogo e de divulgar a consistência das ideias e da argumentação do artigo. “O interesse do grupo é levar essa discussão para a sociedade”, reforça.

Trabalho: Um mercado lícito regulado como alternativa para o problema da escassez de órgãos e tecidos – Desafios e propostas
Autores: Daniel Mendes Ribeiro, Mariana Alves Lara e Nara Pereira Carvalho
Orientador: Brunello Stancioli

Um olhar sobre a DIVERSIDADE

A conferência Lições de caça, proferida pelo índio Maurício Yekuana, abre nesta segunda-feira, 21, às 11h, no campus Pampulha, a programação do Festival do Cinema Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte (forumdoc.bh). O evento acontece no auditório Luiz Pompeu de Castro, da Faculdade de Educação (FaE). Na sequência, serão exibidos, às 14h, no auditório Sônia Viegas, da Fafich, dois filmes que marcaram o discurso documental – o norte-americano Nanook, o esquimó (1922), de Robert Flaherty; e o inglês Drifters (1929), de John Grierson.

O forumdoc.bh celebra 15 anos de trajetória e, segundo os organizadores, reforça seu objetivo de “pensar o cinema de uma forma mais democrática”. A programação, tradicionalmente gratuita, contempla mostras retrospectivas de movimentos emblemáticos para o cinema documental, seleções competitivas nacional e estrangeira, fórum de debates, o curso Dilemas da Observação, com o cineasta Eduardo Escorel, sessões comentadas e, pela primeira vez, o Encontro de Realizadores.

Até 4 de dezembro, o festival vai exibir cem filmes, diferentes em sua origem, forma e conteúdo, com o intuito de chamar a atenção para a diversidade de perspectivas. As atividades ocorrem, simultaneamente, no Cine Humberto Mauro (Palácio das Artes), no Centro Cultural UFMG e no campus Pampulha. A programação completa pode ser vista no site www.forumdocbh.org.br.