Busca no site da UFMG

Nº 1893 - Ano 41
02.03.2015

y

Aqui é meu lugar

Discussões sobre direitos humanos voltam a pontuar recepção aos calouros da UFMG

Bruna Moreira*

Nesta semana, os mais de 33 mil alunos de graduação da UFMG retornam às salas de aula para o início de mais um ano letivo. Ao mesmo tempo, a instituição abre as portas para cerca de quatro mil novos estudantes ansiosos para conhecê-la e vivenciá-la. Para receber esses alunos e acolhê-los em toda a sua diversidade, a recepção de calouros adota, pelo segundo ano consecutivo, a temática dos direitos humanos. Serão três palestras que vão estimular os estudantes a refletir sobre a relação entre universidade e inclusão social.

Abrindo a programação nesta segunda-feira, o reitor Jaime Ramírez dará as boas-vindas aos calouros às 9h, no auditório da Reitoria. Em seguida, os estudantes vão assistir a uma palestra do professor Rodrigo Ednilson de Jesus, pró-reitor adjunto de Assuntos Estudantis e coordenador do grupo Ações Afirmativas, que articula práticas de permanência de estudantes negros e de baixa renda na Universidade. Rodrigo falará sobre a vivência universitária como experiência de aprendizagem.

“Vamos contrapor a ideia de formação para o mercado de trabalho com a de formação para a sociedade. A universidade não oferece apenas preparação profissional, ela é lugar de aprendizado dos direitos, principalmente por meio das relações que se estabelecem. Cabe ao estudante aproveitar essa vivência e à instituição propiciá-la com equivalência, garantindo o acesso e condições de permanência a diferentes grupos”, destaca o professor.

Os calouros do noturno também serão recepcionados pelo reitor e vão assistir a uma palestra da professora Claudia Mayorga, pró-reitora adjunta de Extensão e coordenadora do projeto Conexões de Saberes, que estimula a troca de conhecimento entre jovens universitários e moradores de comunidades pobres. A atividade terá início às 19h, no auditório da Reitoria.

Luiza Ananda
Rodrigo Ednilson: Universidade deve garantir acesso e condições de permanência
Rodrigo Ednilson: Universidade deve garantir acesso e condições de permanência

Tanto a programação da manhã quanto a da noite serão encerradas com apresentação do Ars Nova – Coral da UFMG e transmitidas ao vivo para os auditórios do Centro de Atividades Didáticas de Ciências Naturais (CAD1) e para os polos de educação a distância da UFMG.

Pela primeira vez, o Instituto de Ciências Agrárias, em Montes Claros, sediará uma cerimônia oficial de recepção de calouros. O evento ocorrerá no dia 3, a partir das 10h. A abertura será feita pelo reitor Jaime Ramírez, seguida de palestra com o professor Rodrigo Ednilson. Ao fim da cerimônia, os novos alunos serão convidados a participar de um almoço musical, com apresentação do projeto Violonistas da Moradia, formado por estudantes residentes na Moradia Universitária Cyro dos Anjos.

Esforço para incluir

A escolha da temática Direitos Humanos reflete o crescente esforço da UFMG para se tornar mais plural e democratizar o acesso ao Ensino Superior. Em 2009, a Universidade instituiu uma política de bônus que beneficiava estudantes negros e oriundos de escolas públicas. Quatro anos depois, esse instrumento deu lugar à Lei de Reserva de Vagas, que garante a inclusão racial e socioeconômica por meio da criação de cotas. Já em 2014, o Concurso Vestibular foi substituído pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que tornou o processo seletivo acessível a qualquer pessoa que tenha feito o Enem.

Hoje, além de políticas inclusivas, a UFMG busca desenvolver ações que promovam o respeito à diversidade, como conta o professor Tarcísio Mauro Vago, pró-reitor de Assuntos Estudantis: “Ao longo de 2014 tivemos várias iniciativas com o propósito de expandir direitos. Um exemplo é a publicação da resolução contra o trote, que proíbe qualquer tipo de ofensa, agressão física ou psicológica e intolerância de cunho religioso, político ou ideológico”. A medida, aprovada em maio passado pelo Conselho Universitário, inovou ao incluir manifestações de homofobia, machismo e racismo como passíveis de punição.

Foca Lisboa
Tarcísio Vago: instituição luta pela expansão dos direitos humanos
Tarcísio Vago: instituição luta pela expansão dos direitos humanos

Para garantir os direitos das minorias, a Instituição também atendeu a uma reivindicação antiga de travestis e transexuais: o uso do nome social. “Nomeamos uma comissão, presidida pelo professor Marco Aurélio Prado, do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH), para regulamentar o uso do nome social na UFMG. A norma ainda não foi concluída, mas o Departamento de Registro e Controle Acadêmico (DRCA) já foi instruído a atender as demandas”, explica.

Outro avanço mencionado pelo professor Tarcísio Vago foi a criação, também no ano passado, do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão, que visa promover a inserção de pessoas com deficiência por meio de projetos propostos pela comunidade acadêmica. “A criação dessas iniciativas faz parte de um movimento que queremos manter em 2015. Nossa intenção é mostrar aos estudantes recém-chegados que esta é uma universidade que luta pela expansão dos direitos humanos e convidá-los a fazer essa reflexão”, conclui o pró-reitor de Assuntos Estudantis.

Uma pró-reitoria para chamar de sua

Para garantir que a vivência universitária seja a melhor experiência possível, os estudantes da UFMG contam agora com um órgão criado exclusivamente para discutir seu acesso e permanência na Universidade: a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae).

Segundo o pró-reitor Tarcísio Mauro Vago, a instância foi criada para acolher e atender às demandas do movimento estudantil. “Trata-se de uma reivindicação dos discentes que há muito tempo desejavam um órgão que coordenasse toda a política de assuntos estudantis, desenvolvendo ações afirmativas, cuidando da assistência e apoiando projetos dos alunos. É uma instância extremamente necessária, porque nosso corpo estudantil está cada vez mais heterogêneo, e isso traz novas demandas. Costumo dizer que a UFMG está se tornando uma universidade do Brasil em Minas Gerais. Temos alunos de todos os estados, raças e credos. O país está aqui dentro, e que bom que é assim”, observa.

Foca Lisboa
Estudante atendido durante o registro: corpo discente mais heterogêneo
Estudante atendido durante o registro: corpo discente mais heterogêneo

Como principal canal de diálogo com a comunidade discente, o professor aposta na criação de um observatório de políticas estudantis: “Esse será o lugar onde as ideias se converterão em ações. Teremos grupos de trabalho para discutir moradia, bolsas acadêmicas, percursos curriculares e outros temas caros aos estudantes”.

Na cerimônia de recepção de calouros, em que falará aos estudantes pela primeira vez como pró-reitor, Tarcísio Mauro Vago espera incentivar os novos alunos a aproveitar a Universidade em tudo que ela pode oferecer. “Quero dar as boas-vindas a todos os estudantes e convidá-los a estar na UFMG não apenas em sala de aula, mas enriquecer a sua formação com a circulação pelo campus, aproveitando eventos, programação cultural e programas de extensão, ensino e pesquisa. Inspirá-los para que sejam, acima de tudo, estudantes da UFMG, e não de um curso em particular”, finaliza.



*Colaborou Ana Rita Araújo