Diálogo que une os pensadores indígenas no auditório da Reitoria, nesta segunda, 27, será transmitido pelo canal da Universidade no YouTube

Os líderes indígenas Ailton Krenak e Davi Kopenawa Yanomami inauguram nesta segunda-feira, 27 de junho, o ciclo de conferências Futuro, essa palavra, que integra as celebrações dos 95 anos da UFMG, que serão completados em 7 de setembro de 2022. Com o tema Diálogos pela (re)existência em um mundo comum, a atividade está marcada para 14h e será realizada no auditório da Reitoria, com transmissão ao vivo pelo canal da UFMG no YouTube.

Líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro do povo indígena krenak, Ailton Krenak foi eleito recentemente para a Academia Mineira de Letras. Em 2016, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), instituição onde leciona, em cursos de especialização, as disciplinas Cultura e história dos povos indígenas e Artes e ofícios dos saberes tradicionais. Em 2020, recebeu o Prêmio Juca Pato como intelectual do ano.

A mais recente passagem de Ailton Krenak pela UFMG foi em março do ano passado (2021), na abertura do 9º Congresso de Extensão Universitária. Na oportunidade, o pensador defendeu que os direitos humanos podem ser divididos em duas vertentes: o direito à vida e o direito ao pertencimento, que, para ele, relaciona-se ao fato de que todo cidadão tem o direito de pertencer a uma comunidade.

“Pertencer a uma comunidade é algo que está diretamente relacionado ao direito à terra porque toda pessoa deveria poder se filiar à terra, se constituindo como defensora da vida na terra e agindo em defesa do planeta. Assim, os direitos humanos e o direito à vida constituem uma mesma dinâmica, em que as ideias de cidadania e de florestania andam juntas. Não podemos esquecer que não existem direitos humanos sem o direito à terra”, disse Ailton Krenak, que vai ministrar, no dia 28, a conferência de abertura do Seminário Anual Ieat 2022.

Voz da floresta
Xamã e porta-voz dos Yanomamis, Davi Kopenawa é reconhecido internacionalmente como embaixador do seu povo — um dos maiores povos indígenas relativamente isolados que vivem na Floresta Amazônica — e voz ativa contra a destruição da floresta e de seus habitantes. Em setembro de 2018, Kopenawa ministrou, na UFMG, aula de abertura do Seminário de Pós-graduação Políticas da Terra, ofertado no âmbito da Formação Transversal em Saberes Tradicionais.

No encontro, o líder yanomami falou de sua formação como liderança e xamã, ensinou a hutukara (“universo”) e conclamou a sociedade para a luta yanomami pela natureza, que, em seu entendimento, deve ser um movimento universal. “Hutukara é generosa para todo mundo: ela vai deixar chover, vai trazer vento, vai trazer claridade, vai deixar escurecer para a gente dormir, descansar; ela vai trazer também a riqueza da nossa comida: frutas, manga, mamão, laranja, cana. Tudo o que usamos. Então hutukara é muito poderosa, mas muito generosa: assim aprendemos, assim aprendi”, afirmou.

A aula foi transcrita e publicada como ensaio na 130ª edição do Caderno de leituras, coleção de fascículos da Editora Chão da Feira que reúne ensaios breves inéditos ou de rara circulação. Intitulado Hutukara: grito da terrao texto está disponível on-line.

Pensamentos e ideias que inspiram
Uma das principais atividades da programação que comemora o aniversário de 95 anos da UFMG e o bicentenário da Independência, o ciclo de conferências Futuro, essa palavra será realizado mensalmente, até setembro, mês em que a Universidade foi fundada. Todas as atividades vão contar com a participação de lideranças e pensadores contemporâneos, das mais diversas áreas. As conferências vão abordar temas centrais para a sociedade contemporânea, que indicam como a UFMG projeta pensamentos e ideias que inspiram as novas gerações. Seu nome é inspirado na expressão Liberdade, essa palavra, presente no livro Romanceiro da inconfidência, de Cecília Meireles: Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que entenda.

De acordo com a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, o ciclo representa mais contribuição da UFMG para refletir sobre os rumos da sociedade contemporânea. E o convite a duas lideranças indígenas do porte de Krenak e Kopenawa mostra que a Universidade está atenta à necessidade de não apenas resistir, mas, sobretudo, de fundar as bases de uma nossa existência. “A escolha do tema desse primeiro encontro – Diálogo: (re)existência em um mundo comum resume bem essa inquietação, que é nossa e de toda a sociedade brasileira. Fatos recentes, como a morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, comprovam que precisamos incluir os povos originários e o respeito à floresta e ao meio ambiente em um novo projeto de nação”, defende a reitora.