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Nº 1332 - Ano 28 - 20.12.2001

 

A magia de um presépio

ma pequena imagem do Menino Jesus numa caixa de papelão, forrada com cabelo de milho, musgo e folhas. Foi assim, no distante ano de 1906, que começou a ganhar forma o sonho do garoto Raimundo Machado de Azevedo. Quem o viu construir o embrião do Pipiripau não poderia imaginar que o presépio resultaria numa obra grandiosa, com 20 metros quadrados, 580 peças e 45 cenas, que ainda hoje causa admiração entre as crianças e adultos que visitam o Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG.

Durante décadas, "seu Raimundo" aprimorou a obra e transformou sua fantasia num dos maiores símbolos natalinos da capital mineira. Aos poucos, o presépio ganhou figurantes feitos de barro, massa de papel e gesso. E à medida que a obra crescia, novos movimentos eram criados para seus personagens. Ainda no começo do século, o pescador já abaixava e puxava sua vara de pescar graças a um pedal, do tipo usado nas antigas máquinas de costura. E o sistema de cordas de um gramofone permitia que os visitantes vissem, encantados, uma procissão entrar e sair da igreja. Em 1920, uma caldeira a vapor passou a ser utilizada nos movimentos, substituída sete anos depois por um motor elétrico.

Não demorou muito para o Pipiripau adquirir notoriedade. Em 1927, um jovem poeta modernista, Carlos Drummond de Andrade, rendeu-se aos seus encantos e publicou, sob o pseudônimo Antonio Chrispim, o poema Pipiripau, no jornal Diário de Minas (leia íntegra no boxe ao lado).

Precisão e sincronia

A professora Mônica Meyer, diretora do Museu de História Natural e Jardim Botânico, destaca a engenhosidade do mecanismo de movimentação dos personagens, elaborado com precisão e sincronia. "Seu Raimundo usou fios, barbantes, roldanas, carretéis de linha vazios e outros materiais para criar os movimentos", explica.

Paisagens bíblicas em meio a parque de diversões, palácios, igrejas, moinhos. Atividades de caça, pesca, pecuária e agricultura ajudam a compor o cenário mágico do presépio. "As cenas representam uma maneira singular de percepção e interpretação do mundo pelo artista", afirma a professora. Segundo ela, Raimundo Azevedo conseguiu dar forma artística à sucata e a objetos variados.

O Pipiripau foi transferido para o Museu em 1976, mas a manutenção continuou a ser feita por seu Raimundo. "Nessa época, ele também contava a história do presépio para os visitantes", acrescenta Meyer. A obra passou a fazer parte definitivamente do acervo da Universidade em 1983, e continuou sob os cuidados do criador até à sua morte, em 1988.

Visitas:

O Presépio do Pipiripau pode ser visitado até o dia 30 de dezembro, de terça-feira a sexta-feira, das 8 horas às 12h, e de 13 às 18h. Aos sábados e domingos, de 9h às 18h. Nos dias 24 e 25 somente até às 12h. A entrada custa R$ 2.

Pipiripau

Os músicos tocam baixinho uma suave música fininha que sobe prás estrelinhas do céu pintado de azul.

Gira e regira na praça A eterna zanga-burrinha - tão engraçadinha

Olha a calma do pescador pescando sempre o mesmo peixe com o mesmo anzol.

Olha o barqueiro que não é Pedro...

Os meninos perfilados germânicos entram na igreja e saem depressa E tornam a entrar.

(E tornam a sair)

A atmosphera febril de trabalho: ferreiros sapateiros mexendo

A calma das casas subindo a ladeira descendo a ladaira e os bichos cândidos bichos de papelão rodeando o menino Jesus que abençôa aquilo tudo!

Meus olhos mineiros namoram o presepe e dizem alegres: Mas que bonito!

Antônio Chrispim (pseudônimo de Carlos Drummond de Andrade)

Diário de Minas, 30 de janeiro de 1927