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Nº 1374 - Ano 29 - 14.11.2002

/ Iracema Baccarini

Uma vida dedicada à Medicina

Carla Maia


om 85 anos, 65 de UFMG, incluindo o período em que foi estudante na Escola de Medicina, a professora Iracema Baccarini, dos departamentos de Anatomia Patológica e Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina, surpreende pela vitalidade e pela paixão com que defende a atividade que exerceu por mais de 50 anos. Com uma carreira brilhante, Iracema tem mais de 60 trabalhos publicados e é membro de diversas sociedades médicas e científicas em todo o mundo.

Em 18 de outubro, Dia do Médico, ela foi homenageada com o troféu Personalidade Médica, na categoria docente, pela Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), da qual é sócia desde 1949. Em seu discurso, dedicou o troféu aos corpos docente e discente da Universidade, "em especial às mulheres".

"Eu não me fiz por geração espontânea. Serei sempre grata por tudo que a Universidade me ofereceu", declara Iracema, que não se casou nem teve filhos, "porque nunca quis". Dedicou toda sua vida ao exercício da medicina.

Iracema Mathilde Baccarini nasceu em São João Del Rey, em 29 de junho de 1917. Desde pequena, admirava os médicos que cuidavam dos irmãos. Quando chegou a hora de optar por uma profissão, não teve dúvida. "Foi um alvoroço. Meu pai ficou preocupado, porque naquela época a medicina era quase exclusivamente uma profissão masculina", recorda Iracema. Mas o pai teve que se conformar. Em 1942, Iracema formou-se em medicina na UFMG, com especialização em ginecologia e obstetrícia.

Preconceito

De canudo na mão, Iracema voltou à terra natal para se tornar a primeira médica da cidade. Enfrentou a ira dos doutores machistas de São João Del Rey. "Um médico me disse que, se quisesse trabalhar no hospital, não poderia ser como ginecologista, porque essa especialidade só poderia ser exercida por ele e seus filhos. E ainda teve coragem de me dizer que mulher tinha que ser professora ou dona de casa", recorda. A jovem médica não se intimidou. Por três anos, trabalhou como clínica geral da Santa Casa de São João Del Rey. Só saiu de lá porque recebeu um convite irrecusável: retornar à UFMG para iniciar sua carreira acadêmica. "Trabalhei sem nada receber por nove anos. O que sempre me moveu foi o gosto pelo que fazia." O reconhecimento tardou, mas chegou. Em 1954, foi admitida como professora assistente no departamento de Anatomia Patológica. Foi a primeira mulher a lecionar na Faculdade e a defender tese de doutorado.

Em sua carreira, concorreu a diversas bolsas acadêmicas, incluindo uma oferecida pela American Association of University Women. Profissionais de 60 países disputaram uma bolsa. Dona de invejável currículo, Iracema levou a melhor. "Fiquei feliz em representar o Brasil e a UFMG no exterior", relembra a professora, que, com a bolsa, estudou três anos na Universidade de Chicago, uma das melhores dos Estados Unidos. Em Chicago, ela foi professora durante dez anos.

Só retornou ao Brasil em 1976, a convite do reitor José Carlos de Almeida Azevedo, da Universidade de Brasília. "Ele queria que eu reorganizasse o serviço de ginecologia e obstetrícia da Universidade. Voltei porque já estava com saudades de minha terra", afirma Iracema.

Para Iracema, a pesquisa é indispensável ao bom médico. "Não entendo os estudantes de hoje, que saem da universidade e não querem voltar. A carreira universitária é fundamental no processo de produção e renovação de conhecimento", defende a professora, que até hoje é extremamente atuante. Iracema Baccarini preside a Associação do Professor Sênior da Faculdade de Medicina, cujo objetivo é promover palestras, conferências e a confraternização de professores aposentados.