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Nº 1522 - Ano 32
16.03.2006

Entrevista - Ronaldo Tadêu Pena

“Queremos experimentar novos desenhos acadêmicos”

Flávio de Almeida

s vésperas de assumir o cargo de reitor da UFMG, o professor Ronaldo Tadêu Pena tem uma idéia clara das primeiras medidas que pretende tomar. “São ações objetivas, diretas e capazes de refletir imediatamente na vida da comunidade universitária”, diz o novo reitor, citando a oferta de bolsas para alunos de cursos noturnos, a criação de um programa que permita a cada professor ter um computador em seu gabinete e a participação da Universidade na gestão do Centro de Desenvolvimento da Criança, a creche da UFMG.

O senhor está prestes a assumir o cargo de reitor. Este momento representa a realização de um sonho?
Quando me candidatei, nas duas vezes anteriores (1993 e 1997), acreditava que poderia fazer um bom trabalho à frente da Universidade. E isso ficou comprovado quando participei da gestão da UFMG durante seis anos (dois no mandato de Francisco César de Sá Barreto e quatro no de Ana Lúcia Gazzola). Fiz muito do que eu gostaria, o que me deixou feliz. No ano passado, como a reitora Ana Lúcia não se candidatou, o meu nome foi colocado novamente. E aceitei, não porque estivesse perseguindo um objetivo, mas porque sempre quis servir à Universidade. Foi o mesmo espírito que me levou a aceitar, em 2000, o convite do professor César para fazer parte de sua equipe. Na época estava me preparando para aposentar.

Quais serão suas primeiras medidas como reitor?
Quero desenvolver ações objetivas e diretas capazes de refletir imediatamente na vida da comunidade acadêmica. Na área de graduação, pretendo implantar um programa experimental que incorpore o conceito de equipe docente a determinadas disciplinas. Em vez de serem ministradas por um só professor, elas teriam também alunos de pós-graduação e de graduação. É uma tentativa de esboçar novos desenhos para a atividade docente. Ainda na graduação, vamos elaborar um programa para alunos dos cursos noturnos, propiciando oportunidade para que eles se dediquem à atividade acadêmica durante o dia. Em troca, receberiam bolsas.

Foca Lisboa

Ronaldo Pena: ações de impacto imediato

E na área de pesquisa?
No caso do pesquisador, precisamos de um plano que permita a cada professor com dedicação exclusiva ter um computador na sua mesa. Computador é como energia elétrica. Não tem sentido um professor elaborar um projeto para conseguir um computador. Se detectarmos, por exemplo, que 200 professores – praticamente 10% da comunidade docente – precisam de computadores, creio que é possível trabalhar junto aos diretores das unidades, para que eles aceitem realizar investimentos com essa finalidade. Em relação aos servidores técnicos e administrativos, quero desenvolver uma ação direta e rápida para resolver o problema da creche. Não podemos ter um espaço público com tanta vaga ociosa. A intenção é que metade das vagas fique para a Universidade e a outra metade seja ocupada com base nos parâmetros já estabelecidos pela administração da creche. A parte que couber à Universidade será destinada, preferencialmente, a filhos de servidores de renda mais baixa. Essas pessoas pagariam parte dos custos e a Universidade assumiria o restante. A creche continuaria sendo administrada pela associação de pais, mas de forma compartilhada com a UFMG.

Que projetos o senhor gostaria que, ao final do mandato, pudessem ser apontados como marcas de sua gestão?
Desejo algo que tem um sentido muito pessoal, mas que considero importante para a cidade: um jardim botânico. Junto com o Departamento de Botânica do ICB, espero instalar espaço do gênero em uma de nossas matas. Outra pretensão, essa mais ampla, é transformar a UFMG numa universidade nacional: 90% de nossos alunos de pós-graduação são de Belo Horizonte ou de cidades próximas. O índice de alunos de outros estados ou estrangeiros ainda é pequeno se comparado, por exemplo, ao da Unicamp, cuja qualidade é similar em vários programas.

Qual será o carro-chefe de sua gestão na área social?
Contamos hoje com um hospital de qualidade inegável em várias áreas, mas precisamos expandir nossa atuação. Estamos analisando a possibilidade de assumir a gestão de outro hospital em Belo Horizonte, a exemplo do que a Universidade Federal de São Paulo e a Unicamp já fizeram.

Já existem negociações nesse sentido?
Sim. Esse hospital é o de Venda Nova, que ainda não está operando. Estamos negociando um convênio com o Governo de Minas para assumir a sua condução acadêmica. A gestão ficaria a cargo da Fundep, e ele atenderia a pacientes do SUS. Além de ser mais uma opção de atendimento para a população, ele se constituirá em mais um espaço de ensino e, eventualmente, de pesquisa. Temos muitos estudantes que precisam fazer estágios e no HC não há lugar para todo mundo.

Na estrutura administrativa montada pelo senhor, percebe-se a criação de três assessorias especiais e de uma nova diretoria. Que papéis esses órgãos vão desempenhar?
A criação da Assessoria Especial para Desenvolvimento Institucional justifica-se pelo fato de que a Universidade ainda terá, nos próximos quatro anos, um volume de obras muito grande, algo em torno de 70 mil metros quadrados. Por isso, convidei o engenheiro Luiz Felipe para se dedicar exclusivamente ao gerenciamento delas. Já as assessorias de Agroveterinária e de Saúde foram criadas para facilitar a integração com o campus Pampulha, até mesmo em função da distância geográfica. No caso da agroveterinária, é também um esforço para fortalecer o projeto acadêmico do campus Montes Claros. E, por fim, a Diretoria para Assuntos Estudantis representa uma preocupação com o estudante que vai além dos limites da sala de aula. É um esforço para repactuar a relação com o nosso corpo estudantil.