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Nº 1881 - Ano 41
20.10.2014

Proteção versus doença

Pesquisa amplia conhecimento sobre a fisiopatologia da dengue ao descrever tanto moléculas que ajudam a minimizar danos quanto aquelas associadas à sua gravidade

Ana Rita Araújo

Ao ser acometido por um dos quatro sorotipos conhecidos do vírus da dengue, o organismo humano desenvolve anticorpos que não o protegem dos outros três tipos e ainda aumentam no paciente a chance de desenvolver dengue grave, confirma a tese de Vivian Vasconcelos Costa, escolhida como a melhor no grupo de Grandes Áreas de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde. A pesquisadora também desenvolveu modelo animal inédito que reproduz os sintomas da forma grave da doença. Desenvolvida no âmbito da rede que compõe o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue (INCT em Dengue), a pesquisa identificou moléculas associadas tanto ao aumento da gravidade da doença quanto à proteção do hospedeiro contra o dengue.

“A pesquisadora encontrou moléculas, como os interferons dos tipos 1 e 2, associados à proteção, pois minimizam o dano e tentam controlar a quantidade de vírus. Além disso, identificou outras associadas à gravidade da doença, a exemplo da proteína bradicinina”, explica a orientadora da tese, professora Danielle da Glória de Souza. A professora ressalta a importância da pesquisa básica sobre uma enfermidade que continua sem tratamento, apesar do aumento do número de casos. “Pode-se dizer que há tantos casos de dengue grave porque ainda não conseguimos entender a fisiopatologia da doença”, pondera. O modelo experimental montado por Vivian Costa já vem sendo usado em outros estudos e pode ajudar a encontrar respostas às várias perguntas suscitadas pela enfermidade.

A pesquisa revela que, além de não neutralizar os outros tipos de vírus da doença, os anticorpos produzidos pelo hospedeiro ainda facilitam a entrada do micro-organismo nas células, ambiente em que ele consegue ativar toda a sua maquinaria. “Tais anticorpos são soroneutralizantes apenas para aquele sorotipo, ou seja, a pessoa não voltará a ter o mesmo tipo de dengue. Mas são também subneutralizantes para os demais sorotipos, isto é, marcam o vírus sem conseguir anulá-lo para que seja morto pelo sistema imune”, explica a orientadora. Assim, quando a pessoa é infectada sucessivamente por sorotipos diferentes, aumenta a probabilidade de ela ter a dengue em sua forma mais grave.

De acordo com Danielle Souza, qualquer que seja o sorotipo que a causou, a doença pode se manifestar da forma clássica, em que é facilmente confundida com gripe; assintomática, em que a pessoa não percebe que está doente; ou grave, na qual cerca de 5% dos casos resultam em morte. “Tais diferenças da gravidade podem estar associadas a fatores do vírus ou do hospedeiro”, esclarece a professora do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas.

Colaboração

Graduada em fisioterapia pelo Centro Universitário de Belo Horizonte, Vivian Costa fez iniciação científica, mestrado e doutorado na UFMG. Atualmente desenvolve pesquisa de pós-doutorado em Cingapura, onde realizou, de setembro a dezembro de 2012, doutorado-sanduíche. “Naquele período, iniciei estudos com o modelo humanizado de infecção pelo vírus da dengue e consegui estabelecer laços que me abririam novas oportunidades para a realização de um futuro pós-doutorado”, comenta a pesquisadora.

Seu atual projeto, Modelo humanizado como ferramenta de estudo da imunopatogênese da infecção pelo dengue vírus, com duração de dois anos, vem sendo desenvolvido na Singapore-­Massachusetts Institute of Technology Alliance for Research and Technology (Smart Centre), e é fruto de parceria entre o Massachusetts Institute of Technology (MIT), situado em Boston (Estados Unidos), e a National Research Foundation of Singapore.

Vivian Costa é bolsista de pós-doutorado pelo programa Ciência sem Fronteiras do governo federal, por meio do INCT em Dengue, como colaboração entre a UFMG e o Smart Centre. “Tenho dado continuidade aos estudos que desenvolvi durante o mestrado e o doutorado na UFMG, agora no contexto de um sistema imune humano”, explica.

Tese: Mecanismos de proteção versus doença na resposta do hospedeiro frente à infecção pelo dengue vírus em camundongos
Autora: Vivian Vasconcelos Costa
Orientadora: Danielle da Glória de Souza, coordenadora do Laboratório interação microorganismo-hospedeiro
Coorientador: Caio Tavares Fagundes, pesquisador do Departamento de Microbiologia do ICB
Colaborador: Mauro Martins Teixeira, coordenador do INCT em Dengue e professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB
Defesa: junho de 2013, no Programa de Pós-graduação em Microbiologia do ICB