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Nº 1914 - Ano 42
05.10.2015
Paulo Villani Marques*
É reconhecido que, na última década, a democratização ou facilidade de acesso à informação passou por grande avanço, particularmente com o aumento do número de usuários da internet e de smartphones. Também é inegável o crescimento do acesso às redes sociais e ao ensino a distância.
Ministro duas disciplinas a distância, optativas, no curso de Engenharia Mecânica: uma oferecida há pelo menos seis semestres e outra há três semestres, nos últimos quatro anos. Ao fim do curso, os alunos fazem uma avaliação da disciplina baseada em formulário, atribuindo notas de 0 a 6 (péssimo, ruim, fraco, regular, bom, ótimo e excelente) a diferentes aspectos do professor (domínio do conteúdo, clareza/objetividade de linguagem, relacionamento, esclarecimento de dúvidas e trabalhos/provas/notas), da disciplina (conteúdo, carga horária, texto básico, outros recursos, atividades/exercícios e provas/avaliação) e do aluno (comprometimento, assiduidade, tempo de estudos, realização das tarefas e participação nos fóruns).
A avaliação também possibilita que o aluno registre comentários sobre o professor, a disciplina e o ambiente EAD (Moodle) e indique os pontos positivos e negativos do curso. A leitura de uma tabulação das notas e dos comentários suscitou algumas reflexões sobre disciplinas a distância, internet, informação e conhecimento.
Nesse contexto, parece-me que ocorreu uma grande confusão de conceitos, com sérias consequências para a sociedade, particularmente para a área de educação. O dicionário define informação como tudo aquilo que, por apresentar alguma característica distinta, é ou pode ser apreendido, assimilado ou armazenado pela percepção e pela mente humanas. Já o conhecimento é a informação ou noção adquiridas pelo estudo ou pela experiência. Aprender é tomar conhecimento de algo, retê-lo na memória, graças ao estudo, à observação e à experiência, ou tornar-se capaz de fazer algo, graças ao estudo, à observação e à experiência. Compreender é alcançar com a inteligência; perceber, entender. Saber é ser instruído em, ou ter meios ou capacidade para, ou, ainda, compreender, perceber.
A internet é uma rede de computadores de âmbito mundial, descentralizada e de acesso público, cujos principais serviços oferecidos são o correio eletrônico e a Web, que, por sua vez, é um sistema de hipermídia com documentos e outros objetos localizados em pontos diversos da rede e vinculados entre si. O dicionário nos informa ainda que destreza é a agilidade de mãos e de todos os movimentos e que agilidade é a capacidade de imprimir maior rapidez ou eficiência a alguma coisa.
Portanto, pode-se inferir que um bom profissional não é aquele que retém grande quantidade de informação nem o que demonstra mais facilidade em obtê-la, mas o que tem quantidade suficiente de conhecimento para sua atuação.
A maioria de nossos alunos está na juventude – o período da vida entre a infância e a idade madura –, passando pela adolescência, caracterizada por mudanças corporais e psicológicas. Essa etapa tem se prolongado como resultado de uma superproteção paternal. Esses jovens, que cresceram na era da informática (ciência que visa ao tratamento da informação por meio do uso de equipamentos da área de processamento de dados) com estreita familiaridade com computadores, smartphones, internet e redes sociais, associada às suas clássicas tendências à contestação e à autossuficiência, acreditam que a informação é o que basta. Não percebem que a informação disponível na internet precisa, para se tornar útil ao profissional, primeiro ser selecionada pela qualidade e confiabilidade da fonte e depois assimilada na forma de conhecimento. E na internet se encontra de tudo: do “lixo” à informação séria e confiável.
Assim, cursar uma disciplina a distância é muito diferente de atualizar seu status, curtir um selfie ou assistir a um vídeo e comentá-lo em uma rede social. Embora os meios sejam parecidos, os fins são totalmente diferentes.
No ambiente de EAD das minhas disciplinas, disponibilizo muita informação técnica, em forma de links para textos, figuras e vídeos, muitas vezes de forma fácil e agradável, já selecionada e pronta para ser aprendida. Mas, em especial na parte final do curso, sugiro muitos assuntos para serem pesquisados na própria internet, em bibliotecas e em outras fontes. Entendo que isso faz parte do processo de aprendizagem. Além do acesso à informação, é imprescindível que o profissional saiba reconhecer e analisar informações contraditórias, selecione fontes confiáveis, estude muito e, por fim, transforme informação em conhecimento. Sem isso, o acúmulo de informação é totalmente inútil.
Nas questões de provas e exercícios que proponho, o estudante, para chegar à resposta correta, precisa usar conhecimento e raciocínio, diferentemente do que se entende como “pegadinhas”. Enfim, somente conhecimento e raciocínio aliados possibilitam avanços que resolvem problemas e melhoram a vida das pessoas.
*Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia