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Nº 1916 - Ano 42
19.10.2015

opiniao

Lembranças do professor Carlos Afonso

Tomaz Aroldo da Mota Santos*

Meu amigo Carlos deixou-nos boas lembranças. Aqui registro algumas delas.

Em 1984, como pró-reitor de Extensão no Reitorado do professor José Henrique Santos, convidei o Carlos para coordenar os cursos de extensão. Com aprovação e apoio do Reitor, propus-lhe que organizasse um curso de alfabetização para servidores que trabalhavam nos serviços de apoio, como os de jardinagem, limpeza, vigilância e manutenção.

Carlos procurou cooperação na Faculdade de Educação (FaE) e a encontrou na pessoa da professora Magda Soares, que lhe sugeriu que levasse a ideia ao Departamento de Linguística da Faculdade de Letras (Fale). Aceita, a ideia foi implementada pelos professores Milton do Nascimento, Marco Antônio de Oliveira e Daniel Alvarenga, este de saudosa memória. O projeto contou também com a colaboração de uma equipe de estudantes estagiários. Indispensável foi a participação do Departamento de Pessoal, graças a sua então diretora, Maria Auxiliadora Teixeira.

Alguns servidores resistiam ao convite para participar do curso com medo de serem demitidos do serviço público, por serem analfabetos. Foram convencidos pelo Carlos de que, dado o caráter educacional da iniciativa, não havia esse risco. Superadas as resistências, a atividade foi organizada como um projeto de extensão, pesquisa e ensino – esta última dimensão na forma de estágio formativo para licenciandos.

O curso foi muito bem-sucedido. Um ano depois, seus ­ex-alunos passaram a cursar o ensino fundamental no Centro Pedagógico, sob a direção do também saudoso Luiz Pompeu de Campos. O projeto do ensino fundamental, que começou no Reitorado de José Henrique e prosseguiu no de Cid Veloso, foi implantado com participação decisiva dos professores Leôncio Soares e Maria Conceição Fonseca, da FaE. Quando reitor, em 1997-1998, por sugestão e articulação de Ronan Gontijo, então coordenador de Assuntos Comunitários, criamos o nível médio para os ex-alunos do curso fundamental. Esse curso também começou em um Reitorado – o meu – e prosseguiu em outro, do professor Francisco César de Sá Barreto.

Com essas iniciativas, nasceu, no âmbito Proex/CAC/Fale/FaE, a educação de adultos na UFMG, para a qual foi decisiva a atuação inicial de Carlos Afonso.

Nos anos 1980, Carlos Afonso, Alceu Mazzieiro e Jorge Sabatucci organizaram e ofereceram um curso, a distância, de atualização em Matemática para professores da rede pública, apesar dos parcos recursos tecnológicos da época.

Carlos Afonso foi pró-reitor adjunto de graduação de 1994 a 1997, no meu Reitorado. Com seu olhar especial para as licenciaturas, propôs-me que, à semelhança das bolsas de iniciação científica, criássemos uma bolsa para os estudantes de licenciatura como forma de estímulo à docência. E assim surgiu a bolsa de iniciação à docência na UFMG, hoje, o programa Pibid.

Foi Carlos quem me convidou, em 1978, para candidatar-me ao cargo de segundo secretário da Apubh, da qual foi um dos fundadores. Ele foi um dos vice-presidentes na gestão de Edgar Pontes de Magalhães, do DCP; o outro vice-presidente foi Roberto Assis Ferreira, da Faculdade de Medicina; Maria Aurora Meireles, também do DCP, foi secretária-geral. Essa diretoria trouxe para a UFMG as primeiras discussões de cunho salarial, quebrando tabu que constrangia os docentes de discutir remuneração. Assim, inaugurava-se a fase propriamente sindical da Associação.

No entanto, a diretoria não se desprendeu do ideário inicial da Apubh: o da defesa da autonomia das universidades de Belo Horizonte (UFMG e PUC) e do enfrentamento da ingerência da ditadura na vida universitária. Registre-se que, durante a campanha pela anistia, essa gestão propôs ao reitor Celso Pinheiro a reincorporação de professores cassados – proposta aceita pelo Conselho Universitário.

Carlos Afonso foi um excelente professor no Departamento de Matemática e diligente diretor do ICEx. Acompanhou a construção do atual prédio como se fosse a de sua própria casa.

Tive o privilégio de contar com sua amizade, desde os tempos do Colégio Municipal. Com ele e sua esposa, Virgínia Mendonça, compartilhamos, Yara e eu, vários momentos de alegria e de inquietudes e angústias. Ainda que pouco dado a religiosidades, foi Carlos padrinho de meu filho Daniel.

Carlos Afonso Rego, bem lembrado pela convivência amena e pelo bem que fez à Universidade e à sociedade, se pereniza na memória de todos nós.

*Reitor da UFMG na gestão 1994-1998 e diretor do ICB em dois mandatos (1990-1994 e 2010-2014). Atualmente, é reitor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab)