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Nº 1916 - Ano 42
19.10.2015

Cenário em teoria e prática

Núcleo transdisciplinar pesquisa a cenografia, forma profissionais e participa de projetos dentro e fora da UFMG

Itamar Rigueira Jr.

O que há em comum entre peças de teatro, shows, desfiles de moda, exposições de arte ou de história, feiras de alimentação e outros eventos? Instalados em determinado espaço, eles lançam mão de elementos de comunicação que extrapolam o texto escrito, as músicas, as roupas e outros itens. E esse é o objeto de estudo e prática da cenografia, que tem reunido professores e alunos de áreas diversas na UFMG em iniciativas de ensino, pesquisa e extensão.

Criado há pouco mais de um ano, o Núcleo de Pesquisa em Cenografia e Outras Práticas Espaciais Cênico-performáticas é responsável por disciplina optativa para diversos cursos e realiza trabalhos para unidades da UFMG como o Conservatório, o Centro Cultural e o campus cultural de Tiradentes, além de grupos de teatro como o ZAP 18, de Belo Horizonte.

"Os projetos são realizados por alunos e professores, que atuam ora como orientadores, como coautores ou mesmo criadores, contando, nesse caso, com a assistência de alunos", explica a professora Tereza Bruzzi, do Teatro Universitário, que compõe o núcleo docente com Cristiano Cezarino, da Escola de Arquitetura, Ed Andrade, do curso de Teatro, e Juarez Dias, do curso de Comunicação Social.

O tema chegou apenas recentemente à academia – a cenografia é baseada tradicionalmente na relação mestre-aprendiz, lembra Cristiano Cezarino. "Há pouca produção sobre teoria, prática e história desse campo. Mantemos diálogo com pesquisadores da Uni-Rio e da USP, instituições que são referência no país", diz o professor, doutor em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG.

Genealogia valorizada

De acordo com os coordenadores, a transdisciplinaridade é pressuposto básico da atuação do grupo. O objetivo é reunir pesquisadores de diferentes processos com o interesse comum de discutir o espaço cênico contemporâneo, mundial e local. "É importante sistematizar esse conhecimento, assim como fazemos questão de valorizar a genealogia da cenografia em Belo Horizonte, homenageando os precursores", enfatiza Cezarino, referindo-se a nomes como Alvaro Apocalypse [fundador do grupo Giramundo e ex-professor da Escola de Belas-Artes da UFMG], Freusa Zechmeister [Grupo Corpo], o artista plástico Décio Noviello e o arquiteto Raul Belém.

Grande parte do debate ainda tem como ponto de partida uma pergunta apenas aparentemente desnecessária: o que é cenografia? Se, na virada para o século 20, pensadores e ­encenadores discutiam a questão do cenário, a chegada do século 21 inaugurou nova polêmica. "Surgiram espaços alternativos ao teatro, e isso repercute inclusive na cenografia de palco", afirma Tereza Bruzzi. "O século 20 foi marcado pela experimentação, e o século 21, pela radicalização. Chegamos a um ponto em que é difícil definir cenografia. Aumentam as zonas de contato com aspectos como iluminação e figurino, e se antigamente as regras eram dadas, agora não há regras", acrescenta.

Na sala de aula, dizem os professores, predomina o método da tentativa-e-erro, em que todos aprendem a lidar com o assunto. Uma das preocupações é promover o contato dos alunos com profissionais como diretores de teatro e curadores de exposições. "O cenógrafo precisa entender o papel de cada um dos outros envolvidos", diz Tereza Bruzzi, adicionando que os encontros da disciplina incluem ainda a abordagem de questões concretas, como a forma de construção e de transporte do cenário, tipos de material, adequação de custos e o compromisso com o meio ambiente. Tudo isso é posto em prática nas atividades do Projeto Barracão UFMG, a faceta de extensão do núcleo de pesquisa.

Dois projetos desenvolvidos por professores e alunos do núcleo participaram, em junho deste ano, da Mostra dos Estudantes Brasileiros de Cenografia na Quadrienal de Praga (República Tcheca), o mais importante evento do mundo em sua área. Um dos projetos selecionados, desenvolvido por Branca Vasconcelos e Bruna Ferreira, do curso de Arquitetura, gerou a proposta de cenário para a peça O gol não valeu, produzida pela companhia ZAP 18. O outro integra a cenografia da peça Noturno, produção do Grupo de Teatro Invertido. Os autores são Arthur Marques, Fernanda Comparth, Alissa Rezende e Maiara Camilotti, do curso de Arquitetura, e ­Alexandre Hugo, do curso de Artes Cênicas.