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Nº 1960 - Ano 43
10.10.2016

opiniao

Os desafios e perspectivas do biólogo

Pedro Marcos Linardi*

Biólogo é o profissional formado em Ciências Biológicas ou em História Natural. Na UFMG, o curso de História Natural foi criado em 1942, após a fundação da Faculdade de Filosofia, com duração de três anos para o bacharelado e quatro para a licenciatura. Ainda que o curso habilitasse o profissional para a atuação nas áreas de Ciências Biológicas e Ciências Geológicas, a maioria dos egressos passava a se dedicar ao ensino, como professores de Ciências Naturais ou Biologia, nas escolas de primeiro ou segundo grau – segmentos hoje denominados ensino fundamental e médio. Assim, esses primeiros profissionais foram paulatinamente substituindo os antigos professores, geralmente médicos ou outros profissionais de saúde, que lecionavam essas disciplinas.

Como na UFMG inexistiam profissionais especializados em história natural, os primeiros mestres dos cursos na área eram médicos, farmacêuticos, engenheiros de minas e apenas um biólogo,Giorgio Schreiber, com formação no exterior. Progressivamente, os recém-formados foram ocupando os cargos de assistentes desses professores. Todavia, do ponto de vista nomenclatural, é importante diferenciar profissionais especializados daqueles que, de certa forma, têm alguma relação com a área. Assim, biólogo é o profissional formado em Ciências Biológicas, que poderá vir a exercer diversos cargos, como os de professor, zoólogo, botânico, geneticista, parasitologista, microbiologista, mineralogista etc. Biologista é todo aquele que, independentemente de sua profissão, trabalha com Biologia.

A função de taxonomista, por exemplo, embora nos dias de hoje seja essencialmente exercida por zoólogos ou botânicos, foi, durante algum tempo, desempenhada por eminentes pesquisadores, na maioria médicos de profissão, como Adolfo Lutz, Leônidas Deane, Arthur Neiva, Herman Lent, Amilcar V. Martins, Oswaldo Forattini, César Pinto, Fábio Werneck, Wladimir Lobato Paraense, Lauro Travassos, Cândido de Mello Leitão, Paulo E. Vanzolini. E ainda hoje, Ângelo Machado, professor emérito do ICB, referência mundial em libélulas.

Na UFMG, os professores biólogos inicialmente se restringiam ao curso de História Natural. Com a criação do Instituto de Ciências Biológicas, em 1969, o fortalecimento da pesquisa básica e o surgimento de vários cursos de pós-graduação, as oportunidades para aproveitamento de biólogos como professores em outros departamentos aumentaram significativamente. Atualmente, estão distribuídos em todos os departamentos do ICB e, em vários deles,constituem a categoria profissional dominante.

Por ocasião da criação do curso de Ciências Biológicas, em 1971, seus estudantes cumpriam árdua rotina, já que as aulas eram ministradas em diferentes locais da cidade: Fafi, Museu de História Natural, Faculdade de Medicina, atual ICB, Instituto de Geociências e Faculdade de Educação. A conclusão do prédio próprio no campus Pampulha, em 1979, favoreceu a colaboração interdepartamental, a expansão dos laboratórios e a integração das disciplinas. Hoje, os biólogos também perfazem o maior número de estudantes que realizam cursos de pós-graduação no Instituto.

Apesar da longa trajetória do curso, a profissão de biólogo só viria a ser regulamentada em 03/09/79, quando a lei 6.684 foi sancionada, também criando os conselhos Federal e Regional de Biologia. Por isso, o Dia do Biólogo é comemorado nessa data. Aliás, uma data inserida em um mês repleto de efemérides ecológicas: Dia Mundial para a Conservação da Camada de Ozônio (16), instituído pelas Nações Unidas em 1995; Equinócio da Primavera (23); Dia Mundial dos Mares (29) – habitat natural para mais de 97% de seres vivos do planeta –, também instituído pelas Nações Unidas.

A atuação do biólogo está centrada em três grandes áreas: Meio Ambiente e Biodiversidade, Saúde e Biotecnologia. Nesse contexto, é importante realçar que o Brasil, que concentra 13% de toda a biodiversidade do planeta, oferece o melhor cenário para a realização de estudos zoológicos, botânicos e ecológicos. Nesse campo, vale lembrar que várias doenças infecciosas e parasitárias estão em recrudescimento no país. A área de Biotecnologia, ainda que incipiente, vem proporcionando o desenvolvimento de patentes. Nessa área, as principais atividades hoje desenvolvidas pelo biólogo estão relacionadas a análises citogenéticas e clínicas, aconselhamento genético, docência, controle de pragas ou de zoonoses, ecoturismo, educação ambiental, gestão de coleções científicas ou de recursos hídricos e mudanças climáticas, perícia forense, reprodução humana assistida, testes em animais, entre outras. E vários são os locais ou instituições, públicas ou privadas, onde essas atividades podem ser desenvolvidas: universidades, institutos ou centros de pesquisa, laboratórios, museus, parques florestais, jardins zoológicos ou botânicos, áreas de preservação, entre outros.

Ao biólogo do futuro resta a missão de contribuir para mitigar a ação humana sobre o meio ambiente, que vem causando danos irreparáveis, chegando mesmo a comprometer seriamente o futuro do nosso planeta e provocando a extinção de espécies, antes mesmo de serem conhecidas. Por outro lado, a busca incessante de vida pelo Universo faz despontar a Exobiologia, antes imaginária, como realidade no futuro.

E qual seria o papel do biólogo nos próximos 50 anos, já que o homem planeja também colonizar outros planetas com condições favoráveis ao desenvolvimento da vida?

*Professor emérito e titular aposentado do Departamento de Parasitologia do ICB