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Especial SBPC 2015 - Ano 41
07.2015

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opiniao

Um convite à reflexão crítica

Jaime Ramírez*

Em 2017, a UFMG completará 90 anos. Esta marca traz espontaneamente um convite à celebração. Sem dúvida, é o momento para olhar para a nossa história e, com muito orgulho, valorizar as contribuições das inúmeras gerações que fizeram e fazem parte da história da instituição. A Universidade é, por excelência, o resultado da participação e do trabalho de muitos, do encontro de gerações, olhares e perspectivas.

Devemos, ainda, revisitar as importantes contribuições da UFMG para a história do estado e do país. A própria ideia de uma instituição de ensino superior pública instalada nas montanhas de Minas já fazia, por exemplo, parte do projeto político republicano dos Inconfidentes Mineiros. Sonho que veio a concretizar-se em 7 de setembro de 1927, quando o então presidente da República, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, sancionou a Lei 956, que criou a Universidade de Minas Gerais (UMG). Vinte e dois anos depois, a instituição foi federalizada e em 1965 passou, oficialmente, a se chamar Universidade Federal de Minas Gerais.

No exato momento em que redijo este artigo, surpreendo-me com números que, de certa forma, nos definem. Contabilizamos 755 grupos de pesquisa certificados; 1.944 ações de extensão; possuímos 79 programas de pós-gradução, com 8.408 alunos; 76 cursos presenciais de graduação, com 33.242 estudantes. E estamos em quatro campi: dois em Belo Horizonte, Pampulha e Saúde, e outros dois no interior do estado, em Montes Claros e Tiradentes.

É, portanto, com imenso orgulho que, na condição de integrante e atual dirigente desta instituição de ensino superior, olho para a UFMG, a maior universidade do estado de Minas Gerais e uma das mais relevantes da América Latina, e a percebo como protagonista da história política e educacional do Brasil. Nesses 90 anos de trajetória, devemos nos orgulhar de nossa excelência acadêmica, requisito insubstituível para todas as dimensões de atuação da UFMG.

Mas é exatamente por entender que a UFMG é uma referência de território privilegiado da criação, do diálogo, da reflexão, da crítica, do conflito, da diferença, do entendimento e da produção da cultura como valor essencial para a constituição da cidadania, que não podemos fazer de 2017 um momento único de celebração do passado. O que construímos e conquistamos deve servir de combustível e inspiração para refletirmos sobre o presente e o futuro. O convite que se coloca, verdadeiramente, é compreender os 90 anos como uma oportunidade para a reflexão sobre qual é ou deve ser a missão institucional da universidade pública brasileira.

A universidade pública brasileira não pode se furtar ao debate de seu tempo. Na condição de agentes importantes e decisivos na promoção da inovação, devemos oferecer o conhecimento gerado em nossos campi para a utilização social. A produção do conhecimento e a reflexão crítica são dimensões essenciais do projeto da universidade contemporânea.

A contemporaneidade nos impõe esse desafio, importante e urgente: a discussão e a definição sobre o ethos das instituições ditas responsáveis pela produção do conhecimento científico. O que está em debate é a nossa legitimidade como instituição produtora de ­conhecimento. Conhecimento, que para Boaventura de Sousa Santos, foi, ao longo do século 20, predominantemente disciplinar, muitas vezes descontextualizado do cotidiano das sociedades, e agora se vê compelido a interagir com e sobre a sociedade. No fundo, o chamado que se apresenta é sobre a relação entre ciência – aqui concebida como produção de conhecimento em múltiplas áreas – e sociedade.

Portanto, se este é o debate que se apresenta, não vejo momento melhor para fazê-lo, e de forma sistêmica, ao chegarmos aos 90 anos. E por que não intensificá-lo em sintonia com a SBPC? Afinal, sua missão é definida pela contribuição para o desenvolvimento científico e tecnológico do país, pela defesa dos interesses dos cientistas, pela promoção e disseminação do conhecimento científico e pela remoção dos empecilhos e da incompreensão que embaraçam o progresso da ciência. Na prática, a missão e os valores da SBPC não diferem em nada da missão e dos valores da UFMG, e isso está registrado nos vários momentos em que as histórias das duas instituições se entrelaçaram.

Quatro edições da SBPC, em 1965, 1975, 1985 e 1997, já foram realizadas na UFMG. Essa marca nos enche de orgulho, pois receber a SBPC é sempre uma honra. A ciência mineira, em especial a UFMG, carrega a marca da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Agora, ao se aproximar o aniversário de 90 anos de nossa Universidade, esperamos, mais uma vez, ter a oportunidade de sediar e colaborar na realização deste grande evento para a ciência brasileira. Esperamos ter a honra de celebrar a ­contemporaneidade juntamente com a SBPC.

*Reitor da Universidade Federal de Minas Gerais