Professora Benigna Maria de Oliveira

Gestão de 2014 a 2018

A Professora Benigna Maria de Oliveira é a atual Pró-reitora de extensão (2014-2018), na gestão do reitor Jaime Arturo Ramirez. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1986), mestrado em Medicina – Pediatria pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995) e doutorado em Medicina – Pediatria pela Universidade Federal de Minas Gerais (2002). Professora associada IV do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Minas Gerais. Pró-Reitora de Extensão da UFMG (2014 – atual). Chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG no período de 2010 a 2014. É orientadora permanente de mestrado e doutorado no programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde – Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG – Conceito CAPES 5. Membro do corpo clínico do Serviço de Hematologia/Oncologia do Hospital das Clínicas da UFMG. Coordenadora da Área de Atuação em Hematologia Pediátrica do Programa de Residência Médica em Pediatria do Hospital das Clínicas da UFMG 2004-2014. Líder do grupo de pesquisa Hematologia e Oncologia Pediátrica da UFMG. Tem experiência na área de Hematologia Pediátrica, atuando principalmente nos seguintes temas: leucemias, linfomas e histiocitoses. Informações coletadas do Lattes em 08/01/2017

Cevex: A primeira pergunta é: Como que era o seu envolvimento com a extensão antes de assumir a Pró-reitoria.

Profa. Benigna: Avalio que é importante falar qual é minha área de atuação. Sou professora do departamento de pediatria da faculdade de medicina e trabalho, especificamente, com hematologia pediátrica. Nós temos um serviço de referência em Minas Gerais para atender crianças com Leucemia, linfomas, doenças oncológicas. O nosso trabalho já é um trabalho muito inserido na extensão. Fazemos, de fato, pesquisa e extensão no nosso dia – a – dia, e o curso de medicina é um curso que tem muitas atividades práticas e no nosso grupo, especialmente, procuramos sempre fazer com que essas atividades acontecessem em um contexto de extensão. Depois, quando eu assumi a chefia do departamento de pediatria, que é um departamento grande, com cerca de 70 professores, eu passei a coordenar o programa de extensão “Observatório da Saúde da Criança e do adolescente”. Um programa do departamento, com várias áreas temáticas, docentes e discentes envolvidos. E, nesse período em que eu estava na chefia do departamento, foram aprovados, na UFMG, os indicadores de extensão para alocação docente. O departamento começou a fazer um trabalho para identificar as áreas em que já atuava, o que precisava fortalecer, no que precisava melhorar seus registros de ações de extensão. Nós vimos que tínhamos um grande trabalho na extensão que não era registrado, então começamos por aí e depois fomos pensar um plano, um planejamento estratégico para a extensão no nosso departamento. Já tínhamos um documento pronto, estávamos trabalhando nisso, quando eu fui convidada para assumir a pró-reitoria de extensão. Eu acho que é um percurso no qual a extensão já estava presente. E, nos últimos anos, eu vinha procurando fortalecer essa inserção na minha trajetória profissional, na minha trajetória na instituição, nos lugares onde eu trabalhava.

 

Cevex: E para você como é vista a extensão dentro da universidade? Pelos professores, pelos alunos, pelos técnicos e principalmente dentro das dimensões: ensino, pesquisa e extensão.

Profa. Benigna: Na universidade a extensão é vista de uma forma muito heterogênea. Apesar de sabermos que, na Constituição, está previsto que a universidade faça atividades de ensino, pesquisa e extensão – e acho que de fato a universidade cumpre essa determinação, pensando na universidade como um todo – mas o que vemos é que em determinadas áreas, determinadas unidades acadêmicas, essa integração acontece de forma mais consistente e em outras mais incipiente. Eu penso que a visão da extensão na UFMG decorre de uma política de extensão desenvolvida ao longo dos anos. Nós temos uma política consistente, comprometida com a política nacional de extensão universitária. A UFMG teve um papel muito importante na construção dessa política e aqui se pensa a extensão, como está na definição adota pelo fórum de pró-reitores de extensão, como uma atividade transformadora, para os outros setores da sociedade e para a própria universidade; uma atividade que contribui para a produção do conhecimento, mas por meio de um diálogo permanente com as comunidades onde atua, com os outros setores da sociedade, com seus parceiros. É um conhecimento “construído junto”.  Mas, vemos que existem visões diferentes de extensão dentro da universidade. Algumas áreas ainda trabalham com o conceito de transmissão do conhecimento, o que nós (universidade) fazemos e o que vamos levar para comunidade, voltadas muitas vezes predominantemente para a prestação de serviço.  Em outras áreas, o trabalho é desenvolvido na perspectiva da integração ensino, pesquisa e extensão, com um papel formador muito importante. O que vi na Pró-Reitoria, desde que cheguei, é que os núcleos que trabalham de acordo com essa perspectiva fazem uma extensão mais consistente, mais integrada com a política nacional de extensão. Apesar da universidade ser muito heterogênea, me parece que há uma mudança positiva acontecendo ao longo dos anos, diminuindo aquele pensamento dicotômico “isso é extensão, isso é pesquisa”.  Claro que existem algumas pesquisas que não têm o viés da extensão e vice-versa, mas eu vejo cada vez mais essa aproximação. Temos cada vez mais pontos de diálogo entre a extensão, a pesquisa e o ensino, como eu disse, mais grupos trabalhando dessa forma articulada.

 

Cevex: E para você quais são os maiores desafios da extensão? Principalmente pensando nessa integração: extensão, pesquisa e ensino.

Profa. Benigna: Essa é uma continuação da resposta anterior. Em relação à integração entre a extensão e a pesquisa, como eu disse em algumas áreas essa integração já acontece e em outras áreas a gente ainda tem essa dificuldade. Acho que um desafio importante diz respeito à sistematização e divulgação do conhecimento produzido na extensão. Além de produzir conhecimento, é necessário divulgar esse conhecimento. Nós víamos com muita frequência, hoje bem menos, algumas pessoas que quando iam relatar o que produziram, no contexto da extensão, faziam principalmente como relatos de experiência, sem pensar no referencial teórico, na metodologia, por exemplo. Também existe uma dificuldade de reconhecimento pela instituição de outros produtos gerados a partir das ações de extensão, para além de artigos, teses, dissertações. Podemos citar material didático, vídeos, jogos e tantos outros. Eu acho que esse é um desafio importante.  Outra questão é a integração com o ensino. Não sei se vocês têm acompanhado, no Plano Nacional de Educação, para o período de 2014 -2024, está previsto que 10% dos créditos curriculares devem ser atribuídos a atividades dos estudantes em programas e projetos de extensão. O plano refere-se somente a programas e projetos, pois é nessas ações que se consegue cumprir de forma mais ampla as diretrizes da extensão. Claro que cursos e eventos também são ações de extensão, mas não é essa a proposta. Eu acho que cumprir essa meta é um desafio e um desafio bom. Quem não acredita na proposta fala: “Como que nós vamos colocar 10% de atividades de extensão nos currículos?” Apontam como um problema, eu acho que a gente tem que encarar de outra forma. Penso que o objetivo principal é que todo o estudante possa participar, em algum momento do seu curso, de uma ação de extensão e que cada vez mais isso se torne uma atividade acadêmica obrigatória para a formação do estudante.  O estudante ter acesso a esse tipo de atividade contribui muito, vai para além da formação técnica, contribui para a formação cidadã, para o compromisso com a sociedade, ainda mais se tratando de uma universidade pública. Eu acho que isso é um grande desafio, conseguir que, de fato, todos os cursos de graduação ofereçam essa oportunidade aos estudantes. Claro que é muito importante que o estudante procure essas atividades, participe desde a concepção da proposta, que não seja uma coisa que venha pronta para ele. Mas, como já disse, conseguir que a extensão esteja como uma atividade acadêmica do dia a dia ainda é um grande desafio. Temos avançado. Em 2015, por exemplo, o CEPE (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão) aprovou a resolução que regulamenta a “Formação em Extensão Universitária” que é uma das estratégias propostas pelas pró-reitorias de extensão e graduação para cumprimento da meta do Plano Nacional de Educação.

 

Cevex: E qual tem sido o foco para o planejamento e para as políticas de extensão durante a sua gestão, que ainda está acontecendo?

Profa. Benigna: Como eu fiz entrevistas (com outros pró-reitores), eu acho que o ideal é você dar entrevista depois que você sai, porque acho que aí você vê o que que de fato foi importante e o que que ficou. Quando você ainda está fazendo, você acha que tudo é importante e depois que passam os anos, você olha e fala “isso continuou, isso não”, mas vamos lá. E eu acho que é muito importante falar: “nós”, porque a Claudia Mayorga, que é a Pró-Reitora Adjunta, nós temos formações diferentes, áreas de atuação diferentes, então eu acho que o planejamento da nossa gestão é como deve ser, nós estamos trabalhando juntas, a gestão está sendo feito de forma coletiva. Nós pensamos, tem coisas que ela conduz, outras que eu conduzo, então vou falar do que nós fazemos.

Eu acho que tínhamos três ou quatro eixos principais na nossa gestão. Um deles era fortalecer essa dimensão acadêmica da extensão, então várias das nossas ações foram para fortalecer esse aspecto. Vou dar o exemplo das bolsas de extensão: havia uma demanda recorrente dos estudantes, a partir da qual eles problematizavam que o que eles faziam, nos projetos em que estavam inseridos, não tinha relação com a extensão. Então, tem uma história, que é folclórica, do estudante que ia a toda jornada de extensão para dizer que o que ele fazia no projeto (de extensão) era servir cafezinho. Isso é uma coisa que não pode acontecer. Então procuramos fortalecer o aspecto formador, a dimensão acadêmica da extensão, nos editais de fomento, nas formas de avaliar as ações de extensão e seus registros, nas capacitações para os novos docentes e técnicos. Uma ação importante nesse eixo foi a ampliação da duração das bolsas de extensão para doze meses, equiparando à duração das bolsas de iniciação científica. Anteriormente, apenas os chamados “projetos institucionais” tinham bolsas com essa duração. Também conseguimos dobrar o número de bolsas de extensão na modalidade “ação afirmativa”, destinadas exclusivamente aos estudantes assistidos pela FUMP e que ingressaram na Universidade pelos sistemas de bônus e cotas.  Além disso, lançamos editais em parceria com outras pró-reitorias acadêmicas, como as Pró-reitorias de Pesquisa (Edital para projetos de pesquisa em interface com a extensão desenvolvidos na Rede de Museus da UFMG) e Graduação (Edital para projetos e programas que atendam às diretrizes da “Formação em Extensão Universitária”), pensando em fortalecer a integração ensino-pesquisa-extensão. Procuramos incentivar a produção do conhecimento, que as pessoas divulgassem, publicassem e produzissem, de fato, material a partir dessas ações de extensão. Nesse sentido, acho importante também destacar a reestruturação da Interfaces, a revista de extensão da UFMG, que passou a ser bilíngue – português e espanhol – e a contar com um corpo editorial bem diverso.

 

O outro eixo no qual trabalhamos foi o fortalecimento dos órgãos colegiados. Nós achamos que era muito importante que a Câmara de Extensão, por exemplo, tivesse uma participação efetiva em pensar as políticas de extensão, em auxiliar na implementação dessas políticas; então esse é um exemplo importante porque dá transparência às ações. Essa era uma questão muito cobrada pela comunidade: como são julgados os editais da extensão? Quem julga esses editais? Como a extensão se insere no contexto de ensino, pesquisa e extensão?

Outro aspecto que colocamos como meta foi ampliar o diálogo com os movimentos sociais e outros setores da sociedade e também participar efetivamente do que o reitorado propunha no sentido de fortalecer uma política institucional de direitos humanos. Então algumas ações foram desenvolvidas nesse sentido. Por exemplo, a constituição das redes de programas e projetos de extensão, que são redes interdisciplinares e interinstitucionais. Na gestão passada, a professora Efigênia já tinha constituído a primeira rede, que era a Rede Juventude, que ficou desativada por um tempo. Então, a partir dessa experiência, Claudia, que já tinha participado dessa rede, retomou a proposta e outras demandas foram surgindo. Cada rede tem uma história diferente e eu acho que elas contribuem muito para essas duas vertentes nas quais temos trabalhado. A maioria delas surgiu a partir de propostas vindas de usuários, comunidades parceiras, de outros setores da sociedade ou mesmo de grupos da UFMG que identificaram demandas urgentes. As redes agregam programas, projetos, núcleos de extensão, ensino e pesquisa que trabalham com uma mesma temática ou atuam em um mesmo campo. Dessa forma, é possível desenvolver trabalhos em cooperação, potencializar e dar mais visibilidade ao que é feito. Um princípio importante desse trabalho é que ele acontece em forte diálogo com as políticas públicas, com as comunidades e outros setores parceiros. A Proex é responsável pela articulação e acompanhamento das cinco redes que temos hoje em atividade – Juventude, Saúde Mental, Direitos Humanos, Cidades e o Programa Participa UFMG – Mariana Rio Doce. Além dessas redes, também trabalham com propostas semelhantes e contribuindo para as ações desse eixo, a Rede de Museus da UFMG, o Fórum de Cultura Científica e o Comitê de Formação Continuada dos Profissionais da Educação Básica (COMFOR), todos vinculados à PROEX.

Uma outra questão, voltando no fortalecimento dos órgãos colegiados, foi a revisão e atualização de várias normas, de várias resoluções da extensão, trazendo, adaptando as demandas ao contexto atual porque várias eram muito antigas… 2000… 2002. Para mim, 2002, 2000 está pertinho, mas já está longe!  Então nós precisamos fazer essas revisões para que a extensão fosse, de fato, inserida em um contexto mais atual. Algumas pessoas falam “ah… É um excesso de burocracia”. Não é. A atualização dessas resoluções e normas foi importante para democratizar o acesso. Por exemplo, às vezes um grupo que já conhecia as normas, que já participava da extensão, participava mais dos editais – “sabia o caminho das pedras” – e nós queríamos que os novos docentes e os novos técnicos também tivessem oportunidades para se aproximarem da extensão. Nos processos de admissão dos novos professores, nas bancas, nos baremas, naquilo que é posto para que eles sejam avaliados, aparecem muito fortemente as atividades relacionadas à pesquisa.  Hoje o professor já tem que entrar (na universidade) com doutorado; então muitos não tiveram uma trajetória na extensão, não conhecem, eles já chegam sabendo qual é o caminho para as atividades de pesquisa, mas e a extensão? Então eu acho que essas questões, sobre a revisão das normas, regulamentos, formas de julgamento de editais, e o lançamento de novos editais não foi para afastar, foi justamente para aproximar.

A Diretoria de Avaliação da Extensão tem traçado um perfil das ações de extensão desenvolvidas nas diferentes unidades da UFMG. Nós temos visto que existem maneiras muito diversas de fazer extensão e eu acho que, se elas seguem as diretrizes da extensão, se elas estão de acordo com a política de extensão, nós temos que encontrar formas de acolher e valorizar. Então eu acho que foram esses os principais focos.

Cevex: E para você, qual a importância das atividades de extensão para a sociedade?

Profa. Benigna: Bom, não existe extensão sem esse diálogo com a sociedade. Eu acho que isso é um princípio claro e que temos que entender a universidade também como parte da sociedade. Então, quando pensamos na extensão, como eu já falei no início, lá na definição: extensão é uma atividade transformadora. Penso que quando você dialoga com a comunidade, com aquele parceiro, com aquele outro setor da sociedade, você está de alguma forma procurando atender a uma demanda ou contribuindo para diminuir as desigualdades, contribuindo para aquelas pessoas que são invisíveis, que são vulneráveis, para que elas tenham voz, deixem de ser invisíveis, para que essa vulnerabilidade diminua. Na extensão, a universidade vai construir, junto com essas pessoas, formas para que isso aconteça. Então eu acho que a extensão tem esse papel de dar sentido de alguma forma ao que a Universidade faz nas suas outras dimensões. E é claro que a pesquisa também contribui para isso e, como eu disse, o ideal é que aconteçam juntas, de forma integrada.  Mas em relação a esse sentido que a extensão traz, eu acho que se, diante desse diálogo com as comunidades, nós não repensarmos a nossa forma de atuar, o nosso posicionamento, não só na Universidade, mas na vida, então me parece que não estamos fazendo extensão.

Então eu penso que a importância da atividade de extensão é essa transformação que ela provoca também na própria universidade, as mudanças que causa na forma de pensarmos a nossa atuação como docentes, estudantes, técnicos… Claro que eu quero contribuir para uma sociedade mais justa, para que as desigualdades diminuam de alguma forma, mas eu acho que, para mim, isso é muito importante: esse movimento de repensar o que e como fazemos, a partir da nossa atuação na extensão. Dando um exemplo concreto, quando eu cheguei aqui e fui visitar as aldeias dos indígenas Maxakali, para atender a uma demanda de professores que tinham ações de extensão lá, eu falei “Não vou discutir isso, pensar sobre isso, sem antes conhecer”; eu não conhecia. É uma outra realidade. Não adiantava só ler, estudar, ouvir os relatos. Ir lá, participar dos grupos de trabalho, foi uma experiência completamente inesperada, que me fez pensar de uma outra forma. Eu acho que a extensão tem esse papel muito importante; eu espero que os estudantes que passem por ações de extensão, repensem, reavaliem como vão continuar no seu curso, o que vão fazer quando formarem e forem atuar, porque a experiência na extensão tem que ir para além do projeto e do programa, eu acho que tem que contribuir para seu percurso no futuro, para frente. Citando um outro exemplo, a Larissa Amorim Borges, que é Subsecretária de Direitos Humanos, e veio fazer uma apresentação no último fórum dos pró-reitores de extensão… Ela passou por projetos e programas de extensão daqui da Universidade, o Observatório da Juventude…. Conexões de Saberes, então você vê na hora que ela fala, que se posiciona, que tem uma contribuição dessa trajetória nos programas e projetos pelos quais ela passou e ela está dando continuidade a isso para além do que viveu aqui.

Cevex: E pensando no ano da comemoração dos 90 anos da UFMG o que você desejaria para os próximos 90 anos para UFMG e para Extensão?

Profa. Benigna: É até fácil responder porque temos falado nisso nas comemorações, nos eventos que vamos – como vamos pensar essa comemoração, 90 anos da UFMG, tanta festa num contexto tão ruim do país? Não há como pensar fora desse contexto. E no caso da extensão, que tem uma história tão forte na UFMG, temos tido ameaças de todas as formas. Pensar extensão é pensar autonomia, o que a gente quer quando falamos em diminuição da desigualdade? Que as comunidades tenham autonomia. É também pensar direitos de sujeitos que não tem visibilidade, que têm a sua voz abafada, calada. No entanto, estamos em um contexto muito, muito ruim.  Estamos vivendo muitos retrocessos no país. Por exemplo, a fonte principal de financiamento da extensão que é o PROEXT, um edital do MEC, desde o ano passado não é publicado. Então muitos programas e projetos estão ameaçados; não é só pensar a ameaça a um programa/projeto, imaginem aquelas comunidades onde eles atuavam…. O que vai ser isso? Então eu penso que estamos vivendo uma comemoração que nos coloca em uma dualidade muito grande. Mas, claro que temos que comemorar porque existe uma trajetória, uma história muito importante, e eu acho que, celebrando essa história, estamos mostrando “olha fazemos isso, temos coisas importantes”. Por isso, continuarmos ativos, mesmo com tanta adversidade, é uma forma de resistência também. Então eu só consigo pensar agora que, para os próximos 90 anos, eu espero que tenhamos capacidade de resistência, que a Universidade e a extensão não percam essa capacidade. Que a UFMG continue uma Universidade pública e de qualidade, pois nós estamos vendo esses valores serem ameaçados a todo momento. Pensando nos grupos que conseguiram algum avanço… os sujeitos LGBT’s, os negros, os deficientes, aqueles admitidos pelo sistema de cotas e inseridos em outros programas… que a gente seja forte o suficiente para resistir e conseguir, se não avançar (e eu espero que a gente avance), pelo menos não perder os direitos conquistados. Outro desejo é que todos os estudantes, de todos os cursos, tenham oportunidade de participação em programas e projetos de extensão, como uma atividade acadêmica realmente integrada às outras atividades da Universidade. E nesse contexto, que seja possível avançar de fato nas conquistas dos direitos, que a extensão continue contribuindo para isso, porque a extensão teve e tem um papel muito importante nessas conquistas.

 

 

 

Veja entrevista com:

Professora Angela Dalben