A Profa. Angela Dalben foi Pró-Reitora de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais na gestão 2006-2010 que teve como Reitor o Prof. Ronaldo Pena. Durante esse período a Profa. Paula Cambraia atuou como Pró-reitora Adjunta. A Profa. Angela possui graduação em Música Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais (1974), graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1974), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1990) e doutorado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1998). Professora aposentada da Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora do GAME – Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da Faculdade de Educação da UFMG. Orientou 10 dissertações de mestrado e 10 teses de doutorado. Tem inúmeros artigos publicados em periódicos, capítulos de livros e 2 livros autorais, além de coordenar a publicação da coleção de textos complementares dos livros Pedagogia UAB/UFMG. Sempre atuou com pesquisas articuladas à Extensão Universitária na área de Educação coordenando projetos de formação de professores articulados com políticas públicas em educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional. Atua principalmente nos seguintes temas: didática, formação de professores, avaliação escolar, conselho de classe, Escola Plural. Foi coordenadora da comissão pedagógica da COPEVE – 1998-2001, membro da comissão do INEP- Provão Pedagogia e ENADE Pedagogia, coordenadora da Rede Veredas- Formação de professores em exercício do Estado de Minas Gerais, na segunda edição do Projeto Veredas, Diretora da Faculdade de Educação da UFMG – gestão 2002-2006, uma das idealizadora e coordenadora do LASEB convênio entre UFMG e SMED/PBH gestão 2006-2009 e gestão 2011-2014. Membro do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais 2006 -2013, Diretora da MAGISTRA – Escola de Formação e Desenvolvimento Profissional de Educadores da Secretaria de Estado de Educação de MG 2012-2015. Atualmente é Secretária Municipal de Educação de Belo Horizonte.
Cevex: Nós teremos em breve o início do ciclo de comemorações dos 90 anos da UFMG. Nós pensamos em um conjunto de ações, e uma delas foi a organização e implementação do Centro Virtual de Memória da Extensão. Estamos desenvolvendo um projeto para estudo da história e da memória da extensão. Começamos a analisar primeiro uma história mais institucional: os documentos de quando se constituiu o Conselho de Extensão, depois a Pró-Reitoria, fizemos uma linha do tempo tentando identificar quais os discursos e as perspectivas de extensão que existiram ao longo do tempo. E ainda dentro dessa etapa, iniciamos a realização de entrevistas com os ex Pró-Reitores e Pró-Reitoras de Extensão para registrar um pouco da experiência e voz dessas pessoas que contribuíram com a construção da Extensão. Após essa etapa, a ideia é que continuemos entrevistando algumas pessoas envolvidas, como coordenadores, estudantes envolvidos, comunidades parceiras, ou seja, trazer um pouco essas vozes diversas que fizeram parte da extensão, esses atores.
Profa. Angela: Muito Legal! E aí, falando do meu entusiasmo, que como eu dizia a vocês, eu fui diretora da FAE, fiquei muitos anos aqui na universidade coordenando uma série de coisas, mas um dos melhores trabalhos, dos melhores momentos que eu tive na Universidade, foi aqui na Pró-Reitoria de Extensão, porque eu acho o melhor lugar na Universidade e falo com a maior franqueza. E acho que o lugar que dá visibilidade da Universidade para o mundo. A UFMG é demais, eu sou uma fãzona dela, eu sou filhote dela, porque eu fiz graduação aqui em dois cursos, eu fiz especialização aqui, mestrado aqui, doutorado aqui e dei aula aqui, então, é a minha casa. Sou fã mesmo, e quando eu vim trabalhar na extensão, falei “opa, isso aqui é um presente”.
Cevex: Nós temos aqui um conjunto de perguntas. A proposta é que a gente transcreva e transforme isso em um texto que esteja disponível nesse Centro de Memória.
Profa. Angela: Pelo interesse que vocês tiverem, eu deixei muitas coisas aqui, mas eu sei como a coisa acontece, mas eu tenho algumas coisas lá em casa, então eu posso ir atrás e trazer de volta algumas coisas que vocês acharem que vale a pena.
Cevex: Isso é legal. Que bom. A primeira pergunta é mais geral. Gostaria que você se apresentasse, falasse da sua formação, da sua atuação como professora, pesquisadora, coordenadora de projetos de extensão e que você falasse um pouco em como você chega na Extensão. Então, aproveitar esse momento para falar um pouco da sua formação, área, interesses…
Profa. Angela: Eu sou da área da Educação, como já havia dito a vocês. Me formei aqui, mas eu fui trabalhar na Escola Pública. Fiquei treze anos na rede municipal e estadual e resolvi fazer o mestrado porque nós tivemos um Congresso Mineiro de Educação, onde a FAE estava enchendo o saco das escolas, para falar com franqueza, e eu acabei indo lá brigar com aquele pessoal. Fui com o intuito de brigar, mas acabaram se tornando meus melhores amigos. Foi ótimo. Então eu vou fazer o mestrado após treze anos de atuação. Eu era muito feliz na escola pública e essa escola pública me acompanha até hoje porque eu acabei ficando muito presa à extensão justamente porque todos os meu projetos de pesquisa foram relacionados à escola pública, ao sistema público, tanto municipal quanto estadual, então o meu mestrado, meu doutorado e as grandes pesquisas que eu fiz, que foi de avaliação da escola plural, que era a rede municipal toda, até hoje, tudo vinculado com a formação continuada de professores. Teve um momento também em que na extensão surge o projeto Veredas, que era um projeto de graduação e ele entra como um projeto especial pela extensão. Então, o vínculo meu com o próprio Edison e as meninas que ficavam na área da educação aqui, que era a Marília e a Fátima, ficou muito estreito, porque o Projeto Veredas eu acabei coordenando aqui na Universidade, dentro da FAE onde eu já era diretora, e era muito colado com a extensão. Então, em síntese, eu sempre trabalhei pesquisa, ensino e extensão na linha da indissociabilidade pura, porque aí a gente vai observar que algumas áreas, como a área da educação, da saúde e a própria engenharia, você vai ver que o ensino, a pesquisa e extensão estão colados, aí você vive esse princípio. Eu acho que vivi esse princípio e acho que por isso eu gostei tanto de vir para Extensão, porque realmente a extensão conseguia aglutinar, fazer esse grande universo de um trabalho que a gente acreditava que fosse um trabalho que tivesse colocando a universidade como um bem público, algo que realmente tem um sentido, um significado social.
Cevex: Você comentou do Projeto Veredas, você quer falar um pouco sobre ele?
Profa. Angela: O projeto Veredas foi um projeto feito pela Secretaria de Estado de Educação, mas quem elaborou foram professores da FAE e da universidade como um todo. E quem estava à frente na época como secretário de educação foi primeiramente o Nilrindo e depois a Vanessa, pessoas daqui. Então, ele é um projeto que tinha muito a cara da UFMG e o objetivo dele era graduar todos os professores que estavam na rede estadual que não tinham graduação, mas estavam em exercício nos anos iniciais. E foram 15 mil professores graduados. E esse projeto fez uma rede com 18 instituições de ensino superior em Minas Gerais, o que é muito bacana. A UFMG pegou um grupo de 600 pessoas que eram chamados de lotes, então dividiram os 15 mil em lotes e o trabalho foi muito bom e era um trabalho que era a universidade e a escola colados, então a gente aprendeu muito com eles, e eles aprenderam muito com a gente, e esses alunos, que eram professores em exercício, tiveram a chance de conhecer a universidade inteira. E nessa época, a extensão fica muito viva porque nós tínhamos o que a gente chamava de semanas presenciais, que eram as semanas no início do semestre, que esses alunos ficavam aqui a semana inteira, porque o curso era semipresencial, eram somente encontros mensais aos sábados, e nessa semana de janeiro e de julho eles ficavam aqui imersos e a gente buscava oferecer para eles uma semana intensiva de universidade, para eles viverem a universidade. E aí o que é o cartão de visita da Universidade? São os projetos de extensão: A orquestra, os concertos didáticos, a Estação Ecológica, os museus e aquela cartela de projetos de extensão que a gente tem é que eram, na verdade, buscados por nós para a gente apresentar a universidade para esses alunos. Tinham os projetos relacionado à Educação Física que ficavam no CEU e vários outros. Era um projeto de graduação dentro da extensão e a extensão estava inteira no processo de formação daqueles professores. Foi muito intenso, foi muito bacana. Eu estava na diretoria da FAE, coordenando esse projeto e acabei vivendo muito de perto a extensão, e nesse entusiasmo acabei sendo convidada para ser Pró-Reitora.
Cevex: Angela, em relação à época em que você foi Pró-Reitora, e trazendo elementos mais atuais, como você acha que a comunidade, de uma forma geral aqui dentro da universidade enxerga a extensão, concebe a extensão? Queria te ouvir um pouco sobre isso…
Profa. Angela: Quando eu entrei, estávamos vivendo um momento muito importante. E eu não sei se é o meu olhar, também pela minha experiência, mas aquela coisa que o pessoal falava que a extensão era o Patinho Feio, eu nunca vi assim, eu pensava o contrário, a extensão é um grande Cisne. E o professor Ronaldo comprou essa ideia, porque quando ele ia fazer apresentações da universidade para outros lugares, a gente mandava fotos e aquela coisa toda e ele colocava tudo lá. Eu acho que a valorização da extensão na UFMG é real, não acredito que a gente vive aqui o que nós vemos em outras universidades pelo Brasil, porque aqui existe alguma coisa diferente na comunidade. Quando eu cheguei aqui na Proex, existiam alguns problemas. O primeiro deles tem a ver com vocês, o jornalista tinha falecido há algum tempo, já fazia uns três ou quatro anos, e não havia nenhuma comunicação. Me veio uma coisa assim: Nossa, não existe extensão sem comunicação. E pensávamos como iríamos fazer, já que não haviam recursos, pois estávamos numa fase onde não haviam muitos recursos. Então essa foi uma das primeiras ações. Eu tive um apoio muito grande do pessoal da comunicação, tanto do CEDECOM, quanto do departamento, porque o Marximione era colado com o projeto, que era um projeto já sedimentado, o Polo de Integração do Vale do Jequitinhonha com a Marizinha e aquela equipe, e ele trabalhava neste grupo. E eu já tinha trabalho com o Marcio em outros projetos e ele topou orientar um grupo de estudantes da comunicação para que eles fizessem uma pesquisa sobre como a comunidade via a extensão e quais seriam as demandas de comunicação. Então, a Flavinha fez isso, que na época era aluna, ela mais alguns alunos. O negócio foi tão bacana, era um trabalho acadêmico, que acabamos criando aquele espaço de comunicação dentro da Proex, e isso foi fundamental, se nós temos a cultura de valorizar a extensão, essa cultura tem que ser alimentada se nós tivermos como fazer isso e eu acho que é na base da comunicação. E o Chacrinha já dizia isso: “Quem não se comunica, se trumbica”. Então, eu acho que foi muito acertado.
Uma outra coisa que eu acho nós fizemos, que foi acertado, porque realmente a gente chega e não conhece as coisas, foi o seguinte: Eu conhecia bem a área da educação e nós tivemos uma atuação com a creche. Foi outra coisa importante que foi feita pela demanda do Reitor. Mas, na época eu precisava saber quais eram os pontos de extensão dentro da universidade. Então, como o projeto da comunicação estava dando certo, eu fiz uma articulação com o departamento de Geografia, com o IGC, para que os alunos fizessem um georreferenciamento. Eles toparam e o estudantes vieram para cá e mapearam todos os nosso projetos e programas. Fizemos um CD com os mapinhas e onde estavam. E foi assim que descobrimos que dois dos projetos estavam em toda a Minas Gerais, que era o teste do pezinho, nós falamos que a UFMG estava em todo o canto, e serviu para nos dar uma materialidade e saber onde a gente estava, o que foi importante para o reitor também, porque à medida que a gente ia fazendo isso, a gente ia passando para ele e ele ia nos apoiando e topando as demandas que a gente fazia. Então, esses foram os dois projetos importantes para conhecermos realmente e nos estabelecer como grupo que estava entendendo de extensão.
Aí teve uma coisa importante. Eu fui ao primeiro fórum, porque essas reuniões de FORPROEX são muito importantes também, porque é você diante dos demais. E a participação da UFMG no FORPROEX sempre foi muito forte, e foi construída, eu não vou dizer que foi pelo o Edison Corrêa para não ser incorreta com os anteriores, teve a Aparecida, teve o Evandro, mas como eu cheguei e o Edison tinha ficado por dois mandatos, oito anos, ele era uma referência entre as pessoas do FORPROEX. E ele tinha oferecido o sistema SIEX nosso para todo o Brasil, só que a hora que eu cheguei, o sistema estava falido, ele não suportava mais toda a demanda nacional. E o Edson já me falou, falou de cara, logo nas primeiras reuniões em que nos encontramos, ele era meu amigo, e já me adiantou “Você vai enfrentar esse drama aí. ”, tanto que no primeiro Fórum nós fomos juntos e deu uma acalmada lá. E aí, gente, foi uma luta muito grande. Esse foi um trabalho de muito esforço. Primeiro, porque era uma guerra no fórum cobrando da UFMG, segundo porque começou uma guerra também entre instituições querendo o lugar que a UFMG tinha. A gente até não brigou muito por esse espaço não, porque a gente tinha serviço, mas a outra instituição não estava dando conta. Hoje eu não sei se ela deu, que era o Mato Grosso. Decidiu-se que iriam dar um espaço para eles e vamos ver. Tudo isso conversado com o Reitor. Chegou um momento que nós não podíamos ficar esperando Mato Grosso resolver o problema. A empresa que dava o suporte eram alunos nossos que depois saíram e montaram uma empresa, mas aí já não era mais da empresa, então não dava para trabalhar com eles. Tínhamos que contratar alguém e aí nós pedimos apoio ao CECOM e o Professor Ronaldo bancou 80 mil reais, que custou na época, o sistema. Gente, foi uma trabalheira esse sistema, não sei se vocês já ampliaram alguma coisa, mas o que a gente fazia, nós ficávamos 6 horas diárias no ano de 2008 ou 2009 com esse pessoal e chamando as pessoas dos projetos para entender as interfaces de cada projeto com cada área. Foi muito trabalhoso, mas vou dizer para vocês, eu aprendi demais, também sobre as interfaces dos projetos. As pessoas que vinham participar também gostavam e nós tivemos o apoio dos CENEX, que era outra coisa que tentávamos fazer era revitalizar os CENEX porque alguns eram muito atuantes, outros estavam misturados com NAPq, então haviam vários tipos. Aquelas unidades que tinham mais projetos de extensão eram mais atuantes e os outros não tinham muita atuação. Tentamos fazer alguns encontros, criar algum evento, algum almoço, para conseguir animar as pessoas. Mas tudo isso tem a ver com essa construção desse SIEX, que na época, no final, acabou dando certo, o Douglas estava chegando, era um servidor novo e ele topou ficar por conta de atualizar o sistema. Então, assim, o pessoal aqui dava muito apoio, abraçava a causa. Esse trabalho, eu também acho que foi importante em termos institucionais.
E aí vieram outros trabalhos, como a demanda do professor Ronaldo para resolver o problema da creche. Esse quando ele me chamou eu falei assim: “Você está confundindo as pró-reitorias, a Pró-reitoria de extensão não vai mexer com a creche. Seria a Pró-reitoria de recursos humanos, ou alguma outra coisa. ” Aí, ele disse: “Não, é você que entende de creche e de meninos pequenos. ” (Risos) E aí, criou-se algo muito bom na área da educação, pois a creche tinha um déficit diário de 30 mil reais, então era uma bola de neve e a universidade estava com uma dívida extraordinária de passivo trabalhista. Porque o que acontecia com a creche, ela era gratuita para quem comprovasse que não poderia pagar, mas geralmente os professores não entravam nesse parâmetro. Então imagina uma vaga em 2006 em horário integral para um filho era 800 reais, o que é muito caro. Seu filho ficava lá 3 anos, você tinha uma dívida, você tira e vai para a escola e você não paga a dívida, então a coisa foi virando uma bola de neve. Então, em síntese, nós tínhamos 500 vagas, não integrais. Era 250 integrais, ou 500 vagas só para um período. Nós só tínhamos 80 vagas dessas 500 ocupadas e um déficit extraordinário com passivo trabalhista que chegava na época a uns 500 mil reais e 30 mil que ia crescendo diariamente. E quando resolvemos o negócio, o Fundo FUNDEP do ano foi acordado em todas as 4 reitorias que seria somente para pagamento do passivo trabalhista da creche. Aí como nós resolvemos? A prefeitura de Belo Horizonte junto com a universidade, a universidade cedendo o espaço, e o projeto pedagógico e a Faculdade de Educação deveria orientar as professores e dar o suporte, e a prefeitura traria os professores, e eles seriam todos pagos pela prefeitura, e seria uma creche com gestão compartilhada, que era uma inovação. Aí essa inovação foi muito legal porque resolveu o problema. Acho que fui a única pessoa na vida a receber um apitaço das criancinhas. (Risos). Eu desci o elevador e estava cheio de menininhos da creche, vestidinhos, e eu falei assim com a Paula: “Nossa Paula, que delícia, os menininhos estão fazendo excursão aqui na reitoria. ” Na hora em que nós aparecemos, ele “pipipipi! ”. Era contra a gente! (Risos).
Os professores tinham medo de não serem ressarcidos, os pais tinham medo em relação a esse projeto de creche que ia chegar, se perguntavam sobre o futuro da creche, como seria a gestão da prefeitura, quem cuidaria das crianças…. Então todo mundo estava com medo de tudo. No final foi ótimo, foram acertadas uma série de coisas, as primeiras vagas foram na base de sorteio, todo mundo tinha direito. Deu muito trabalho, eu lembro que a Célia da Cac ajudou demais, por que ficou assim, no primeiro ano eles tiraram os alunos, os seus filhos, a maioria tirou, alguns permaneceram, mas a grande parte tirou, e o combinado com a rede era o seguinte, metade das vagas eram para a comunidade externa e a outra metade era para os daqui, alunos, professores e servidores, terceirizado. Todo mundo tinha direito, mas tinha que passar pelo crivo do sorteio. A gente fez também uma lista de espera, nós sorteamos todos os nomes dos interessados, por que a gente não sabia se a comunidade também ia querer vir para cá, porque ela é distante da comunidade.
Demos conta de atender todo mundo. Aí foi ficando legal, porque o irmãozinho também entra, e a prefeitura paga. Quando iniciou nós fomos no Conselho universitário, assumimos a responsabilidade do projeto pedagógico, mas foi legal demais. Aí teve uma coisa importantíssima para nós, o Ministro da época, Haddad, ficou sabendo da parceria e veio visitar a creche, o que me deixou muito orgulhosa, pois o Haddad é uma pessoa que eu sempre tive o maior carinho, foi um grande ministro que nós tivemos e uma pessoa que nos recebia no FORPROEX, ele era atento a tudo que acontecia nas universidades. E como nessa época nós criamos essa parceria com a rede municipal, foi desenvolvido o projeto da Escola Integrada, mas a primeira versão do Escola Integrada foi feita com o piloto aqui da UFMG, pois estávamos conversando sobre a creche, o assunto chegou e à noite, trocando alguns e-mails com a Pilar e o Vocurca, nós bolamos a estrutura, fizemos uma chamada dentro da UFMG para os professores que quisessem assumir. Aquela sala de reuniões estava repleta de projetos de workshops que os professores propuseram, o que foi muito bonito. Aí foi feito esse piloto acompanhando esses 78 projetos, que foram desenvolvidos no segundo semestre, não sei se 2007 ou 2008, e eu tenho esse material e posso trazer para cá, se não tiver aí. Depois nós vimos o seguinte: eram muitas escolas, eram 180 escolas e não íamos dar conta de atender todas, então ajudamos a criar um outro projeto onde outras universidades entrariam em parceira, como a PUC e outras instituições de Belo Horizonte atendendo a prefeitura. O negócio foi e hoje não sei mais como está.
Cevex: A UFMG está em um momento de avaliação.
Profa. Angela: É, por que também vai mudando as cabeças na prefeitura. Eu lembro que na época a Marília, foi uma pessoa muito atuante. Outra coisa que foi muito atuante nesse grupo da educação, é que a UAB ela surge, ela vem para cá pra UFMG, a Universidade Aberta do Brasil. Em 2008 começaram as aulas, mas em 2007 foi toda uma preparação, uma bateria escrita de materiais. E a turma da extensão da área de educação escreveu um livro sobre a educação infantil pela experiência que eles já tinham, tanto em educação infantil, quanto aqui pela experiência da Proex. E tinha aquela menina também aqui, que fazia desenhos na área da biologia. Então, a escola integrada e essas atividades que nós já tínhamos aqui deu uma fortalecida, foi muito interessante. Então, esses dois projetos na área de educação, eles foram muito interessantes.
Nessa época, inclusive, eu fiquei dentro do FORPROEX responsável pela área da Educação, naqueles grupos de trabalho. Então, nós fizemos algumas reuniões aqui, e o Haddad recebia a gente muito bem, e foi um momento muito positivo para nós. Agora, houve uma outra coisa positiva também, e acho que depende do momento e do apoio do Reitor. Nós tínhamos projetos muito importantes, que quando chegávamos em setembro, quando entrava aquele edital PBEXT, eles ficavam disputando. Alguns projetos como da Orquestra da Escola de Música, que sem esse edital eles não funcionam, os Sarandeiros, Projeto Guanabara, Cipmoi…. Aí não era justo, pois os novos projetos vinham e disputavam com outros projetos que já eram históricos. Então, nós negociamos com o planejamento a possibilidade de separar isso aí, fazer bolsas permanentes separadas das bolsas institucionais. Aí nós ganhamos, aumentamos o número de bolsas e foi muito bom, pois favoreceu toda a comunidade, a extensão teve uma força aí para ampliar o número de projetos.
Aí temos a questão da Semana da Saúde, que a Paula bancou e foi muito bom, porque na época a DAC estava precisando de fazer uma mudança no Festival de Inverno e criaram o Festival de Verão. E mesmo o Festival de Inverno havia uma certa competição entre as cidades, tanto Diamantina, como Ouro Preto. Tanto que tinha saído de Ouro Preto e ido para Diamantina, e havia uma competição local, com universidades próximas, com aquilo que a própria cidade oferecia. Então, uma nova relação do festival com a cidade precisava ser construída. Foi criada a Semana da Saúde como uma alternativa para poder mobilizar a cidade que não participaria tanto do Festival de Inverno, que era uma coisa específica, mas alguma coisa mais popular. Deu tão certo, que essa Semana da Saúde dentro do Festival extrapolou e foi para Montes Claros e outros lugares. Eu brincava com a Paula e falava: Nós vamos conseguir fazer até 2010 umas 853 Semanas da Saúde. (Risos)
Também posso falar do Projetão, que infelizmente ele não teve fôlego para dar continuidade, que foi o da Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo. Esse é o que eu fico triste por não ter a ressonância que queríamos na gestão seguinte. Acho que também não foi bem entendido o que estava articulado, o que estava acontecendo. Tinha um projeto do reitor junto à Pró-Reitoria de Pesquisa e alguns assessores, que no caso, era o professor César de Sá Barreto, que era para pensar o Vetor Norte. Fizemos um caderninho da extensão que mostrava o Vetor Norte, os projetos de extensão, porque a ideia era fazermos o seguinte: Ainda estavam construindo a estrada para confins, a Linha Verde, e tinha o Hospital Risoleta Neves, havia uma vontade da UFMG em estar mais presente nesse Vetor Norte. A partir dessa vontade, a Escola de Veterinária veio até a PROEX para dizer da fazenda Modelo de Pedro Leopoldo, que tinha toda a possibilidade de ser o polo aglutinador no Vetor Norte para as ações de extensão, pesquisa e inclusive de desenvolvimento da região. Foi muito interessante, porque junto com esse momento estávamos discutindo sobre a Estação Ecológica, que foi outro problema, não sei se ainda é problema aqui. Mas era uma coisa que sempre vivia em tensão, e na época havia tensões muito bem definidas.
Como Pedro Leopoldo tinha a ver também com o meio ambiente, aquelas pessoas que estavam discutindo a Estação Ecológica vinham para as reuniões e ficavam para discutir a Fazenda Modelo de São Leopoldo. E aí, gente, foi uma coisa boa atrás da outra, por que a fazenda estava aos pedaços, caída. Fui visitar a primeira vez, e as edificações eram históricas e totalmente quebradas e desgastadas. Tinha sido uma doação do Ministério da Agricultura para a UFMG, mas a universidade não tinha condições de levar aquilo à diante e deixou por conta da veterinária, mas a Veterinária tem duas fazendas. Então, eles ficavam mais voltados para a Fazenda de Igarapé e muito pouco para a fazenda de Pedro Leopoldo. Somente um grupo pequeno, que eram quatro professores, que tomavam conta daquilo ali. Imaginem só que coincidência, uma das pessoas que trabalharam lá na época do Ministério foi Chico Xavier, e ele começou a psicografar numa das edificações da fazenda. Quando eu fui lá visitar, um rapazinho que trabalhava lá me mostrou o lugar e descascou uma das paredes da edificação para mostrar o que tinha atrás, e tinha desenhos, era uma parede desenhada, foi pintado em cima. Gente, aquilo era uma obra de arte. Ele foi me mostrando e fui ficando impressionada com aquilo ali. Na época, fui eu e Baracat, a Paula não foi dessa vez. Mas aí eu fui lá outra vez trazendo alguns colegas que eu sabia que podia ajudar na pesquisa, e sempre acompanhados do Marc Henry, que é da Veterinária, e do Rômulo. Olha que coincidência, começamos a pensar em como recuperar aquela fazenda, e na época eu tinha um cunhado que era da Engenharia Civil e pedi uma ajuda em como pensar um orçamento para arrumar o lugar. Ele acabou bolando algo com os alunos dele, o Rômulo também conseguiu uma emenda parlamentar para criar um centro de búfalos, mas tudo batia no seguinte: todo o dinheiro que tínhamos era somente para a pesquisa e materiais de pesquisa, mas nunca para a força de trabalho, para mão de obra. Então você tinha materiais, cimento, tinta, equipamento, mas não tinha como ter gente para poder trabalhar e fazer a recuperação do lugar.
Eu fui ficando muito envolvida com esse projeto, e sabendo da história da fazenda em relação ao Chico Xavier, eu fui ver o lugar e pensava; “Nossa, isso é algo histórico mesmo. Se a gente recupera isso aqui podemos trazer pesquisas para cá. ” Tinha na época, na Faculdade de Educação um curso de indígena, e a gente pode ter aqui alojamentos para os alunos indígenas fazerem uma imersão, e eles virem ter aula aqui. Olha que legal, ter aula em uma fazenda, né! Então, o grupo foi ficando empolgado, mas não havia dinheiro para pessoal. Um dia, eu estava aqui trabalhando, imagine isso aqui tudo em silêncio e chega uma pessoa para poder conversar comigo, que era o Professor Perri. Nos anos 90, eu participei de um provão com a pedagogia lá em Brasília, e ele é da área da odontologia da UNB, e ele era um dos coordenadores do Provão que ficava no INEP, ele foi chamado para o INEP. Então eu o conheci lá, mas isso em 98, nós já estávamos aqui em 2007. E sabe o que ele veio fazer aqui? Ele era o Presidente da Federação Espírita Brasileira e veio nos oferecer dinheiro para recuperar o local do Chico Xavier. O Chico Xavier ia fazer 100 anos e iriam rodar um filme e eles gostariam que o Lançamento do filme fosse no lugar que ele começou a psicografar. O Valor que eu precisava era de 200 mil reais, mas 180 mil já dava. Olha como eu fico arrepiada, até choro! Você acredita que ele me disse: Nós não temos muito dinheiro, eu sei que lá é muito grande, mas nós temos 180 mil reais. ” Na hora que ele falou, eu abri a boca a chorar. (Risos) E foi aquela emoção, porque eu liguei para o pessoal, eles vieram aqui, a Federação Espírita junto com a Federação Mineira e a única coisa que eles queriam para doar esses 180 mil era que naquela fazenda tivesse alguns livros do Chico Xavier, porque eles iam pagar uma pessoa que ficasse lá, para quem quisesse conhecer o lugar, ter como receber. Só isso. Eles iam arcar com tudo. Eles estavam doando o dinheiro, pois para arrumar a casa deveria ser via UFMG. E sabe aquele dinheiro sem nenhuma burocracia… Nós colocamos lá na Fundep. Esse dinheiro, o Abdias, olha para você ver como as coisas aconteceram, tinha que consertar os telhados de todas as edificações, ele conseguiu um telhadeiro de Pedro Leopoldo que foi com a mulher morar na fazenda, e no prazo do filme ser lançado, consertar os telhados todos com mais 3 ajudantes. Tudo foi consertado.
O Rômulo recebeu uma grande quantia para uma pesquisa com búfalos, mas precisava de cercas especiais para os búfalos, que não era elétrica, mas era muito potente e não tínhamos o dinheiro, então fomos pedir um apoio para uma empresa. Eu fui lá com o Abdias e o Rômulo, para você ver como as coisas se fecharam, eu falo que foi milagre. Aí nós falamos que era uma fazenda modelo, para a universidade, sem fins lucrativos, para produção de conhecimento… “Perfeitamente, nós podemos ceder para você. ” Aí eu falei que precisava da cerca em pé. E você acredita que a cerca foi em pé? Eles mesmo cercaram. Eu não voltei lá mais, mas a fazenda estava lá com as cercas em pé, os búfalos foram colocados. Hoje eu não sei por que eu não acompanhei mais, mas confesso que fiquei triste por não terem dado continuidade, nós já tínhamos, para colocar nesse espaço, 12 projetos que estavam escolhidos. Alguns da área da Engenharia, outros de meio ambiente, fora os da Veterinária. Então, tínhamos conversado também com a empresa de ônibus UNIR, que faz o transporte à Pedro Leopoldo, com a possibilidade de fazer uma parada aqui na UFMG de manhã cedo, na hora do almoço e à noite, parando na fazenda. Então, a gente podia ter alunos indo e voltando no mesmo dia, tudo articulado. Mas isso morreu. Essa é a única tristeza que eu tenho, porque tivemos tanta ajuda espiritual para coisa dar certo, e no final não dar continuidade. Mas eu ficava pensando em um novo campus, uma extensão do nosso campus, já que temos problemas de espaço aqui, e lá é uma fazenda linda, um lugar lindo. Foi uma história muito linda e o filme do Chico Xavier foi lançado. Na época não tinha auditório na fazenda, então utilizou-se as dependências da LANAGRO para esse lançamento. Na época foi feito um churrasco lá e em seguida o lançamento. Mas até o churrasco nós ganhamos. Tudo que tinha a ver com a fazenda, por incrível que pareça, a gente ganhava. Eu acho que era um lugar meio encantado, e foi muito gostoso trabalhar com esse grupo, porque a veterinária também tem um trabalho de extensão é muito forte, e os grupos de pesquisa da veterinária também são fortes. Essa articulação entre extensão e pesquisa foi muito grande nessa época. Então culminou com a coisa que eu acho que é a que eu fico mais feliz desse período, que foi a alocação de vagas docentes, aquele movimento para conseguirmos entrar junto com a pesquisa e extensão em pé de igualdade nos departamentos, porque olha o que acontecia. O DMTE, que era o meu departamento, tinha muita extensão e, semelhantemente a ele, outros da odontologia e outros departamentos. Você tem muito trabalho de extensão, mas se você entra como extensão, na hora da CPPD alocar as vagas, não contava. Então, precisávamos que contassem. Mas para conseguir isso, foi muito movimento, foi muito debate, e a gente teve que bater de frente com muitos colegas. Isso deu muito cansaço. No final da gestão eu estava muito exausta, mas eu estava feliz, satisfeita, pois acho que essa foi uma conquista importante, pois assim, ficou em pé de igualdade e aí nós conquistamos muitos professores e muitos departamentos acabaram, depois com a nova locação de vagas pelo Reuni, conseguindo, além do Reuni, mais vagas por causa da dessa análise dos pontos.
Cevex: Você acabou fazendo um recorrido aí pelos principais pontos da gestão e ficou bem claro. Queria perguntar como se dava a relação com os estudantes dentro desse período, que vocês estiveram na PROEX. Como você vê o lugar dos estudantes na extensão? Penso que sempre tem essa reflexão dos estudantes como aqueles que possuem papel importante na extensão…
Profa. Angela: Olha, eu acho que é fundamental. Por isso eu acho que a extensão também, ela é um cartão de visita da Universidade, porque o fato das bolsas de extensão com projetos e são voltados para a comunidade, assim como o seu, muitos projetos importantes como a Escola Aberta, o Cipimoi. O que acontece, os estudantes que buscam a extensão e que se vinculam aos projetos de extensão são diferenciados. Eles ajudam a levar adiante o projeto e eles ajudam a fazer uma universidade diferente. Os encontros que a gente fazia alguns encontros, jornadas, e ouvíamos depoimentos muito bonitos. Então, eu acho que quanto maior o número de bolsas para a extensão, mas você tem uma universidade que realmente está na ideia de universidade como bem público, a universidade como espaço que tem uma razão de ser na sociedade. Agora, na época da minha gestão, foi a época que foi criada a DAE e era o Samy que era o diretor, e ele era uma pessoa que estava muito presente na extensão, antes de ir pra DAE. Tínhamos um diálogo muito forte, muito próximo, e muitas ações por eles devolvidas estavam envolvidas conosco. Eu não sei separar para você uma coisa especial, que ações a gente fazia, a gente fazia tudo junto. Pois estava começando a estruturar um espaço. Outra coisa importante, que eu não coloquei aqui, que foi o Centro de Fusão da Ciência com a Tânia, que foi criado nessa época e tem um outro também que é dos museus.
O Centro de fusão da ciência foi criado na época que nós entramos, então a Tânia, do Centro Pedagógico, foi a pessoa que ficou lá, e como nós estávamos nessa sinergia da área da educação com a escola integrada e com a creche, a ideia era estar em espaços importantes da cidade. Então, foram vários os eventos, a gente ia para a Praça da Liberdade, fazia o Ciência e Chocolate, Ciência e Esporte, no Parque Municipal, ficamos na Estação Vilarinho. Então, ocupando os espaços da cidade, com aquela ideia da UFMG ocupando os espaços, e era um espaço muito ligado à universidade. E foi nesse momento aqui que a gente criou o projeto do caminhão, que a Tânia ficou como coordenadora dele, mas ele nasceu dessas discussões. Puxa, olha para você ver que coincidência… Tinha a UAB acontecendo, formação de professores e tínhamos tido 600 alunos com o Veredas, a gente querendo ocupar os espaços de Belo Horizonte, a Escola Integrada querendo ocupar os espaços, as praças próximas às escolas… Aí a gente falava assim: Como a gente vai levar a UFMG para lá? É só com um caminhão… Tinha na época um pianista, Arthur Moreira Lima, que tinha um caminhão que ele abria e colocava o piano lá e tocava. Pensamos em fazer um caminhão que abre, e a Tânia conseguiu fazer o caminhão que abre porque foi para Timbó, ficou lá mais de um mês. Esse caminhão não ficou pronto na nossa gestão, ele ficou pronto depois, mas toda a ideia dele surgiu porque na época teve também a discussão da Rede de Museus. E aí não foi uma discussão fácil, havia muita competição entre os museus. Então havia competição porque tinha um museu que não era museu ainda, era o Espaço TIM UFMG e que depois virou o Espaço do Conhecimento da UFMG, e havia uma disputa muito grande de quem ia assumir aquilo, quem não ia. Até internamente na gestão, se ia para reitoria, ou para pró-reitoria e ficava aquela disputa. Esse espaço de museu virou uma disputa, havia o espaço do Museu de Morfologia, que era um museu que sempre existiu, tinha um da medicina, o Centro de Memória que precisava de revitalização, a Estação Ecológica, o Museu de História Natural, e aí dentro, outro da geografia. Só sei que, gente, era uma guerra. E aí eu consegui, também, na época, por que precisamos ter um conjunto de bolsas e de um orçamento para os Museus, porque os Museus não eram das pessoas, os Museus eram institucionais, porque até então, não tinha orçamento. Colocamos em uma salinha, que era uma salinha que guardava coisas, a Rede de Museus, não sei se ainda está ali.
Cevex: A rede de museus está aqui no prédio da Reitoria e continua vinculado à Proex.
Profa. Angela: Mas na época nós acolhemos aqui, porque era o único lugar que tinha. Mas as coisas vão crescendo… Mas esse foi bem difícil, eu lembro que a Graça, até já faleceu, uma pessoa muito empenhada, ela ficava muito brava, porque ela falava que a universidade não dava muita confiança para os museus. No fundo ela tinha razão, mas não havia uma demanda formal, e nem havia um lugar, tipo, a Pró-reitoria de extensão vai fazer isso. Ah, tinha um outro projeto, do Coral Ars Nova, olha o que aconteceu na minha gestão… No início, em abril, morre o Carlos Alberto, que era o grande Maestro do Ars Nova. Um ano e três meses depois morre na frente do coro, o Grimald. Ficou-se pensando o que fazer com o Ars Nova. A Escola de Música não queria o Ars Nova. Não sei se vocês sabem, mas eu sou da área da música também, me formei em música, me formei na Escola de Música, e eu ficava atrás do pessoal lá, “Gente, o Ars Nova é um coral e deveria ficar aqui! ” “Ah, não! Ele foi criado pelos técnicos. ” Então, havia uma guerra acadêmica, por que o grande maestro era o Carlos Alberto. Então, esses projetos que ficavam à parte, como o Ars Nova, os museus, foi uma tentativa naquele momento de conseguir institucionalizar, com as bolsas, aquelas bolsas institucionais, e encontrar lugar para dar uma acalmada e dizer: “Não, a universidade valoriza. ”. Porque é aquele negócio, você cria uma coisa e é aquele auê, depois como sustentar o projeto? Depois que você sustenta, a universidade tem que assumir. Então eu peguei esse período, e alguma coisa foi feita, né. Mas sempre pensando nas bolsas. Tudo isso que eu falei aqui é pensando nos estudantes, porque eram as bolsas de estudantes que mantinham o projeto no sentido dele ter uma vida de 24 horas. Porque o professor não dá conta de ficar sozinho, você tem que ter um espaço, mas quem vai ficar aqui atendendo o telefone, ou atendendo alguém que chega, levando adiante um arquivo, tem que ter alguém ali. Além de algumas atividades acadêmicas de para produção de conhecimento daquele espaço. Então, precisa de estudantes para se manter, um projeto de extensão necessariamente precisa disso.
Cevex: Muito bom. Penso que você deu um panorama excelente da gestão de vocês. Talvez uma última pergunta, e depois passar para as demais participantes da equipe do Cevex, caso elas queiram comentar alguma coisa. Estamos chegando nos 90 anos da UFMG e o que você esperaria, desejaria para a extensão da Universidade para mais 90 anos?
Profa. Angela: Nossa, eu acho que é aquilo que eu já falei para vocês. Acho que a extensão é o cartão de visitas da Instituição. Quando as pessoas falam muito, quando eu vejo as campanhas que falam da excelência, eu não vejo a excelência da universidade como aquelas carreiras solos, daqueles pesquisadores que conseguem um milhão para fazer um projeto e ficam lá no seu laboratório. Isso é muito importante, mas isso só tem sentido se tiver, na verdade, indissociado do papel da universidade, que é esse papel de fazer a diferença socialmente nos espaços que ela atua. Então, para comemorar os 90 anos da UFMG, acho que é colocar a Extensão com tudo de bom que a universidade já fez pra Minas Gerais, para Belo Horizonte, para o Brasil. É a quarta universidade, saiu o ranking, e com certeza os projetos de extensão como carro chefe da Universidade. Olha para você ver, só uma observação: Quando o Reuni veio, muitos dos cursos que se transformaram em cursos de graduação saíram de projetos de extensão, porque a inovação está na extensão, o novo aparece na extensão. Mesmo o novo na pesquisa, nova metodologia para se usar na pesquisa. Então, eu acho que os 90 anos tem que comemorar mesmo tudo o que a extensão dessa instituição faz, porque ela é referência nacional. Olha, se você compara, tem até um caso, sabe esses casos de chacota, do próprio pró-reitor no FORPROEX, um pró-reitor de extensão da USP contando que não tinha extensão na USP como havia na UFMG. Então ele dizia que era assim… quando o reitor não sabia o que fazer com um acontecimento, ele chamava o Pró-Reitor de Extensão e pedia que criasse uma ação.
Cevex: Como uma….
Profa. Angela: Como uma seção de assuntos aleatórios, exatamente. E ele contou na época, e era uma época que estava se afirmando aquelas questões relacionadas à gênero e outras coisas… Então ele diz que teve um lance na USP de um casal gay que tinha sido chamado a atenção num espaço da universidade, e que o povo ficou muito revoltado e resolveram fazer um beijaço na frente da Reitoria. Então ele deu esse exemplo, e que quando o Reitor viu o que estava acontecendo, ele ficou desorientado e chamou o Pró-Reitor de Extensão para resolver: “Pois agora você resolva o problema do beijaço.” Ele quis dizer de como as instituições não sabem lidar …
Cevex: Existem algumas análises que dizem que se extensão entrasse como critério de ranking das universidades, certamente a UFMG seria a primeira do Brasil. Várias leituras explicitam isso. Mas como entra mais o ensino e a pesquisa, as patentes…
Profa. Angela: E eu fico achando que nos casos das patentes, quando analisamos as patentes, temos que ter o crivo da extensão nas patentes. Porque até as patentes revelam a articulação entre você fazer uma pesquisa bacana e a capacidade dessa pesquisa de estar atuando com legitimidade e com excelência na sociedade, de alguma forma. Então, na pesquisa, tem que ser feita a leitura de quando um projeto é também um projeto, por que às vezes, ele é essencialmente uma pesquisa pura, mas como ele se revela na área da extensão. A área da extensão não se dá somente na dimensão social, no sentido de você estar atendendo a uma demanda social, relacionada ao ser humano que precisa mais, as carências, mas também ao que você está conseguindo para melhorar a qualidade de vida para aquela população. Então, eu sempre discutia isso com um funcionário que ficava por conta das patentes aqui…. Esqueci o nome dele. Era um colombiano, um cara bacana, muito legal, e ele sempre falava das patentes no Vale do Jequitinhonha, ele gostava da conversa que a gente tinha, e ele dizia do patrimônio imaterial do vale do Jequitinhonha e que ele tinha interesse em fazer um estudo e análise nesse nível. Mas, na época não tivemos tempo, nem competência, nem oportunidade para fazer isso, mas ele tinha essa sensibilidade. Quando eu lembrar o nome, digo a vocês. Ele era das patentes na época do professor Ronaldo. Então, quando se fala de excelência, a universidade da excelência, é a capacidade da universidade de estar olhando a influência que ela pode ter nisso.
Cevex: Você tem razão. Excelência muito autocentrada é ruim, é importante estar conectado com o mundo, a sociedade.
Profa. Angela: Exatamente. Olha a riqueza desse projeto que você coordena. Você articula os vários saberes, aquela ideia de que você tem um aluno aqui, mas tem toda uma comunidade. Ele está aqui, mas tem uma comunidade que está junto com ele. Você expande, então isso é muito rico, é muito bonito. Eu acho extraordinário. Eu esqueci de falar um projeto, se eu não falar vou ficar morrendo de dor na consciência, é o Projeto Pair, que cruzava Minas Gerais, que era o projeto de prevenção de violência. Nós fizemos uma cartilha, e foi uma coisa muito bonita, ainda existe, mas foi uma atuação muito grande da equipe da Proex.
Acho que com certeza eu esqueci alguma coisa, mas essas memórias são muito fortes.
Cevex: Muito obrigada, Angela! Foi um prazer conversar com você!
Entrevista realizada no dia 23/09/2016, às 16:00 horas, no Gabinete Proex – UFMG. Entrevistadora: Professora Cláudia Mayorga. Equipe participante: Gabriela Braga Casali, Cecília Cotinguiba da Silva e Thais Lopes Diaz.
Assista ao vídeo gravado pela Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão da UFMG no dia 1º de setembro de 2017, na inauguração do CEVEX realizada na Sala de Sessões do prédio da Reitoria da UFMG: