Professora Maria Aparecida Andrés Ribeiro

Gestão de 1990 a 1994

A Professora Maria Aparecida Andrés Ribeiro foi Pró-reitora de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais no período de 1990 a 1994, durante o reitorado da Professora Vanessa Guimarães Pinto. É bacharel em Medicina com especialização em Ciência Política e Mestre em Filosofia pela UFMG. Consultora legislativa da Câmara dos Deputados (2015). Assessora Técnica da Presidência do INEP/MEC e da Secretaria de Educação Superior _ SESU/MEC, Consultora do Ministério da Saúde, Assessora Técnica do Gabinete da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais.

 

 

Cevex: Como era o seu envolvimento com a extensão antes de assumir a Pró-Reitoria de Extensão?

Profa. Aparecida: Praticamente nenhum, exceto a atenção e a frequentação eventual da programação do Festival de Inverno, nos meses de julho, em Ouro Preto.

Cevex: Pra você, como a extensão é vista dentro da universidade (entre professores e alunos) e dentro das dimensões pesquisa, ensino e extensão?

Profa. Aparecida: Como o terceiro braço das atividades universitárias e, infelizmente, aquele que se pode dispensar, já que é impossível ser docente e ser aluno da universidade sem ligar-se ao ensino e a vinculação à pesquisa é, em geral, considerada a cereja do bolo. Assim, pelo menos até relativamente pouco tempo atrás, a extensão era um campo de atividades meramente eletivo e sem valorização acadêmica maior. As bolsas de extensão não eram obrigatoriamente concedidas aos alunos que desenvolviam projetos nesta área (e se o fossem, nem sempre tinham o mesmo valor das bolsas de iniciação científica) e nem os docentes tinham incentivo dos departamentos para coordenar estes programas e projetos, sendo esta considerada atividade acadêmica menor. Me lembro que no nosso reitorado, havia orçamento da Casa para isto e o valor das bolsas foi equiparado. Foi dura a luta pela criação e manutenção de um programa federal de apoio à extensão universitária pelo MEC (geralmente só envolvendo bolsas para estudantes), tanto quanto a luta pela concessão de créditos no currículo para os alunos que desenvolvessem tais atividades (a bem da verdade, não sei se este último pleito foi ou não bem sucedido). Me lembro de editarmos um jornalzinho mensal das atividades de extensão oferecidas pela UFMG, de retomarmos a publicação da Revista da Extensão, que estava interrompida, tanto quanto de realizarmos reuniões itinerantes do Conselho de Extensão nas diferentes unidades, visando à sensibilização das comunidades para o escopo específico da extensão nesta ou naquela área e o estímulo ao surgimento de novas propostas.

Cevex: Quais são os maiores desafios da extensão, principalmente quando se trata de uma integração entre a extensão, a pesquisa e o ensino?

Profa. Aparecida: Penso que é um só: a compreensão ampla e generosa do conceito de extensão e a construção das práticas condizentes com esta visão. São várias as pontes entre o saber criado, mantido e difundido dentro e fora da universidade, são variadíssimas as possibilidades de diálogo – bem calibrado e visando à compreensão recíproca – entre quem está dentro e quem não está na universidade. Dada a vantagem de sermos de fato universidade, podemos desenvolver – e de fato já desenvolvemos – bons trabalhos na área da saúde e do atendimento à população, nas tecnologias, na educação infantil, de jovens, adultos e idosos, presencial ou a distância, no aprimoramento da qualidade e no atendimento dos rebanhos, no avanço agrícola, nas compreensões da sociedade, na reflexão política, na gestão e administração, no entendimento dos meandros da mente ou da economia, na formação, desenvolvimento, refinamento e divulgação das letras e das artes, nas técnicas de construção e de desconstrução, no deciframento das leis da natureza e da sociedade, na sua transformação orientada e  sustentável (ou na crítica às ações desorientadas e insustentáveis), enfim, até onde a vista e a imaginação alcançam. A questão está na construção das pontes e as possibilidades são imensas.

Cevex: Qual foi o foco para o planejamento das ações, e das políticas de extensão durante sua gestão?

Profa. Aparecida: Primeiro, tomar conhecimento da “extensão”, da Extensão na UFMG. Conhecer quem fazia, o que, desde quando, com quem, para quem, para quê, a que custos e com que orçamento. Em seguida, organizar na instituição a representação da extensão por unidade acadêmica, estabelecer fóruns de discussão do que havia e do que valia a pena criar, avaliar como continuar as boas e férteis iniciativas existentes e como cobrir lacunas, com sustentabilidade, o que significou organizar o orçamento institucional da extensão em negociação com a reitora e o pró-reitor de planejamento tanto quanto tentar também estabelecer boas parcerias e captar recursos para a realização de ações e, projetos e programas de maior custo, que ultrapassa o disponível internamente. Mas sem qualquer dúvida, o meu empenho esteve muito orientado no combate ao preconceito contra a área, na ampliação da a visão e da conceituação deste domínio das atividades acadêmicas, abrindo o escopo das ações de extensão e tratando de mostrar que TODAS as áreas contribuem ou poderiam contribuir com iniciativas importantes e de interesse da sociedade e do entorno da universidade

Cevex: Para você qual a importância das atividades de extensão para a sociedade, tanto no momento de sua gestão quanto nos dias atuais.

Profa. Aparecida: Importância crucial para o exercício da accountability que, no meu entendimento, uma instituição pública, gratuita e de alta qualidade tem o dever de ter para com a sociedade que a sustenta. É claro que é possível a universidade viver por todo o tempo virada pra dentro: os professores dando suas aulas e seminários, desenvolvendo e chefiando grupos de pesquisa, escrevendo seus livros, artigos e orientando ou produzindo teses e dissertações, organizando e participando de eventos e simpósios acadêmicos; da mesma maneira, aos alunos pode bastar ir e vir no dia-a-dia universitário, assistir suas aulas, realizar e participar de programações próprias ou para as quais são convidados; por fim, aos técnicos administrativos, pode parecer suficiente apoiar as atividades de ensino, pesquisa e administração da vida universitária. Mas, cá pra nós, isto é pouco considerando o que se pode esperar de uma Universidade que mereça tal nome, inserida no seu tempo e espaço, cujas atividades exigem orçamentos formidáveis supridos com um imenso esforço da sociedade, e que, numa sociedade desigual como a nossa, tem no mínimo a obrigação de demonstrar sua responsabilidade social e relacionar-se com pessoas físicas e jurídicas que possam não só receber contribuições acadêmicas como injetar oxigênio e impulsionar os gênios em direções insuspeitadas.

Cevex: O que você desejaria para a Extensão nos próximos 90 anos da UFMG?

Profa. Aparecida: Vida longa e rica de possibilidades!

 

Entrevista realizada no dia 25/07/2017, concedida por meio virtual. Entrevistadora: Gabriela Braga Casali.

 

 

Veja entrevista com:

Professor Tomaz Aroldo da Mota Santos