Por Letícia Julião, professora do Departamento de Organização e Tratamento da Informação da Escola de Ciência da Informação da UFMG, coordenadora da Rede de Museus e Espaços de Ciência e Cultura da UFMG entre 2017 e 2021.

O compromisso com a educação está na origem e no coração dos museus. O processo de democratização dos museus, a partir do século XX, deve muito à potência inovadora de suas ações educativas. Como antenas sensíveis às demandas da sociedade, os setores educativos são os responsáveis, em grande parte, pela abertura de perspectivas inclusivas, colaborativas, dialógicas, controversas e diversas nas relações do museu com o público.

Dados de visitação no Brasil mostram que o público de museu é constituído preponderantemente de estudantes da educação básica. Essa constatação constituiu-se no ponto de partida para o desenvolvimento de projetos educativos do Museu Histórico Abílio Barreto, a partir dos anos de 1990. Acompanhei os debates e as experiências do grupo de educadores, nessa época, quando atuei naquele Museu, ocupando diferentes funções.

Houve um esforço nesse período de se repensar as chamadas visitas guiadas, então fundadas no velho modelo que pressupõe um déficit de conhecimento do público. Muitas reuniões de avaliações, grupos de estudos, debates e experimentações foram realizadas, resultando em ações exitosas.  Mas uma em especial foi determinante,  embora, hoje seja comum nos museus. Ficou evidente nas avaliações que a visita ao museu só poderia adquirir ressonância junto ao público de estudantes se fosse uma atividade assumida também pelo professor. Para isso era preciso aproximar o professor do museu, introduzi-lo no universo museal, oferecer caminhos para que ele pudesse construir uma relação criativa, sensível e significativa com o Museu, suas coleções e exposições. Surgiu daí a oferta aos professores de uma oficina no Museu, que antecedia sua visita com os alunos. Os resultados desse projeto me fazem crer que os museus precisam adentrar os cursos e currículos de formação de professores do ensino básico. A escola tem muito a ganhar, os museus têm muito a ganhar.