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Educação de Qualidade

 

“Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A educação é a única solução”. A frase foi dita pela ativista Malala Yousafzai na Conferência das Nações Unidas de 2013, e expressa um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) criados pelos países signatários da ONU um ano antes, na Rio+20: a Educação de Qualidade. Você pode ler mais sobre os ODS e as metas a serem cumpridas até 2030 por aqui.

 

Educação de Qualidade: o quarto item da lista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU

 

O Objetivo 4 visa garantir uma educação de qualidade e inclusiva para todas e todos, considerando-a como a mais poderosa ferramenta para o desenvolvimento sustentável. Por meio da educação, podemos erradicar a pobreza, transformar vidas e diminuir as desigualdades.

 

A educação pelo mundo

Para avaliar o índice de educação dos países, a Organização das Nações Unidas utiliza duas variantes: a taxa de alfabetização de adultos e a taxa de escolarização. Enquanto a primeira dá uma indicação da capacidade de ler e escrever da população, a segunda indica o nível de educação, da creche ao ensino de pós-graduação.

 

Desde 2000, houve um grande progresso no alcance da meta universal de garantir educação primária pelo mundo. A taxa de alunos de regiões em desenvolvimento que estão matriculados em instituições de ensino chegou a 91% em 2015, e o número global de crianças fora das escolas caiu quase pela metade. Também houve um grande avanço na taxa de alfabetização.

 

A ativista Malala Yousafzai em sala de aula: a paquistanesa luta pelo acesso igualitário e universal à educação. Crédito: Reprodução redes sociais.

 

Porém, ainda há muito a ser feito. Atualmente, de acordo com as pesquisas da ONU, quase 58 milhões de crianças no mundo não frequentam a escola. Mesmo dentre as que frequentam, um grande número não consegue aprender o conteúdo básico: estima-se que pelo globo, 250 milhões de crianças em idade escolar não são capazes de ler, escrever e contar de forma a atender os padrões mínimos de aprendizagem, e apenas um quarto dos alunos do ensino médio nos países em desenvolvimento terminam a escola “com habilidades básicas”. Números como esses mostram que o acesso a escolas não é garantia de uma educação de qualidade, e que novas ações devem ser tomadas para a conquista deste objetivo.

 

Educação no Brasil

A realidade da educação mundial também é avaliada pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). A pesquisa avalia os estudantes em três categorias: leitura, matemática e ciências. Ela é realizada a cada três anos, e cada edição se aprofunda em uma das categorias.

 

Desde 2000, quando foi realizada a primeira edição do Pisa, a taxa de brasileiros cursando o ensino fundamental aumentou consideravelmente, e o índice de evasão escolar diminuiu. A parcela de jovens de 15 anos matriculados na escola subiu de 63%, em 2000, para 75% na edição mais recente do estudo. Porém, como já falamos, o acesso a escolas não é garantia de uma educação de qualidade. Apesar de a maior parte dos brasileiros terem a possibilidade de frequentar escolas, o país ainda amarga as últimas posições no ranking mundial da educação.

 

Mesmo com aumento de matriculados, educação brasileira ainda pode melhorar. Créditos: Rovena Rosa/Agência Brasil

 

De acordo com o Pisa, os índices brasileiros de educação estão estagnados desde 2009. A edição mais recente, de 2018, revela que 68,1% dos estudantes brasileiros com 15 anos de idade não possuem nível básico de matemática, o mínimo para o exercício pleno da cidadania. Em ciências, o número é de 55% e, em leitura, 50%. 

 

Quando comparado a países da América do Sul analisados pelo Pisa, o Brasil é o pior país em matemática, empatado estatisticamente com a Argentina. Em ciências, o país também fica em último lugar, junto com os vizinhos Argentina e Peru. Quando o assunto é leitura, o Brasil é o segundo pior do ranking sul-americano, ao lado da Colômbia. Na análise geral, o relatório colocou o Brasil em 57º lugar no ranking da educação, dentre os 79 países participantes.

 

Como a pandemia de Covid-19 afetou a educação

Se a posição do Brasil no ranking da educação já não era das melhores, a pandemia de Covid-19, iniciada em 2020, agravou a situação. Na verdade, os prejuízos foram grandes em escala global: com escolas fechadas em mais de 160 países, em meados de julho, a pandemia levou à maior interrupção da educação da história, segundo o secretário-geral das Nações Unidas. O fechamento afetou mais de 1 bilhão de estudantes. 

 

Segundo o estudo “Educação em Pausa”, produzido pelo Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre os impactos da Covid-19 na educação, mais de 137 milhões de crianças e adolescentes na América Latina viram seus processos educacionais serem pausados. No Brasil, 4 milhões de estudantes do ensino fundamental (14,4%) ficaram sem acesso a nenhuma atividade escolar. Nas favelas, as estatísticas são ainda piores. De acordo com o Data Favela, 55% dos estudantes de favelas do Brasil estão sem estudar durante a pandemia, por motivos que incluem falta de local adequado de estudo, ausência de dispositivos adequados e má conexão com a internet.

 

Ensino remoto? Nem todos têm acesso a essa possibilidade. Créditos: Freepik

 

Em uma projeção global que abrange 180 países, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e organizações parceiras estimam que cerca de 23,8 milhões de crianças e jovens do ensino pré-primário ao nível universitário correm o risco de abandonar ou não ter acesso à educação em 2021, devido ao impacto econômico da pandemia.

 

A crise sanitária deixou evidente e ainda aumentou as desigualdades do sistema educacional em escala nacional e também mundial. Por isso, é preciso que os países e governos unam esforços em uma corrida de recuperação para amenizar esses impactos negativos e garantir as melhorias propostas na lista de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Você acha que será possível? Veja as metas a serem cumpridos até 2030:

 

4.1 Garantir que todas as meninas e meninos completem o ensino primário e secundário livre, equitativo e de qualidade, que conduza a resultados de aprendizagem relevantes e eficazes

4.2 Garantir que todos os meninos e meninas tenham acesso a um desenvolvimento de qualidade na primeira infância, cuidados e educação pré-escolar, de modo que eles estejam prontos para o ensino primário

4.3 Assegurar a igualdade de acesso para todos os homens e mulheres à educação técnica, profissional e superior de qualidade, a preços acessíveis, incluindo universidade

4.4 Aumentar substancialmente o número de jovens e adultos que tenham habilidades relevantes, inclusive competências técnicas e profissionais, para emprego, trabalho decente e empreendedorismo

4.5 Eliminar as disparidades de gênero na educação e garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo as pessoas com deficiência, povos indígenas e as crianças em situação de vulnerabilidade

4.6 Garantir que todos os jovens e uma substancial proporção dos adultos, homens e mulheres, estejam alfabetizados e tenham adquirido o conhecimento básico de matemática

4.7 Garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não-violência, cidadania global, e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável

4.a Construir e melhorar instalações físicas para educação, apropriadas para crianças e sensíveis às deficiências e ao gênero e que proporcionem ambientes de aprendizagem seguros e não violentos, includentes e eficazes para todos

4.b Ampliar substancialmente o número de bolsas de estudo para os países em desenvolvimento, em particular, os países menos desenvolvidos, SIDS e os países africanos, para o ensino superior, incluindo programas de formação profissional, de tecnologia da informação e da comunicação (TIC), técnicos, de engenharia e científicos programas científicos em países desenvolvidos e outros países em desenvolvimento

4.c Aumentar substancialmente o contingente de professores qualificados, inclusive por meio da cooperação internacional para a formação de professores, nos países em desenvolvimento, especialmente os países menos desenvolvidos e SIDS

 

[Texto de autoria de Gabriela Sorice, assistente do Núcleo de Comunicação]

 

Para saber mais:

Educação de Qualidade – Ipea 

Educação de qualidade para todos: 4 formas de alcançar o ODS 4

Pisa 2018 revela baixo desempenho escolar em leitura, matemática e ciências no Brasil

Pandemia causou maior interrupção da educação da história, diz ONU

O que a pandemia nos mostrou sobre a educação no Brasil