01 de setembro de 2020
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Os homens sempre tiveram a necessidade de deixar seus pensamentos registrados. Esses registros vão das pinturas rupestres até o papel, e hoje, do papel ao mundo digital e virtual. Até onde se sabe, os primeiros homens a desenvolverem uma forma de registro foram nossos primos neandertais (já extintos), com a pintura rupestre. O caminho para se chegar até o papel foi muito longo, e essa história pode dizer muito sobre como nos comunicamos hoje.
Antes do papel, ou de qualquer coisa parecida, passamos por tabletes de argila, tabuletas de madeira, tiras de folhas de palmeira, metais, cascas de árvores, até chegarmos a alguns materiais mais próximos do papel, como o papiro e o pergaminho. É importante ressaltar que essas formas e técnicas não compõem uma linha reta de evolução, uma vez que cada cultura desenvolveu sua forma de registro ao redor do globo de acordo com os materiais disponíveis em cada momento.
Papiro
O papiro foi uma planta de grande importância para os egípcios, uma vez que era abundante em seu território. A planta era utilizada tanto para a confecção de cordas como para a construção de barcos. Também com ela os egípcios desenvolveram seu suporte para a escrita.
Cyperus papyrus, planta que deu origem ao papiro. Créditos: Flag Staff Fotos
Para a produção do papiro como um suporte para a escrita, retiravam-se pequenas fatias do seu caule, formando uma trama, que depois era prensada, seca e polida.
Trama de papiro
O papiro se mostrou um suporte de grande qualidade, tanto em maleabilidade quanto em sensibilidade à tinta. Tal suporte proporcionou o grande triunfo que foi a biblioteca de Alexandria e também fez com que outros povos aderissem ao uso do mesmo material. Assim, o Egito começou a exportar seu “papel” e a biblioteca de Pérgamo, na Grécia, tornou-se concorrente da biblioteca de Alexandria. Talvez por isso, ou por temerem a escassez de matéria prima, os egípcios proibiram a exportação do papiro no século II d.C.
Pergaminho
Com a falta do papiro como suporte para a escrita, foi desenvolvido o pergaminho, em Pérgamo. O pergaminho era obtido através do tratamento do couro de carneiro, vitelo de ovelhas e bezerros. Sua produção era muito demorada e cara, mas, por outro lado, ele era bem mais resistente que o papiro.
Pergaminho
Papel
Se na Europa e Egito eram usados materiais pontiagudos para a escrita, junto com suportes firmes, como o papiro e o pergaminho, na China a escrita se desenvolveu de maneira mais fluida com o uso do pincel e de tecidos para escrever.
No ano 105 d.C, o chinês T’sai Lun, ao realizar experimentos com uma tela de pano esticada no bambu e aplicação de fibras maceradas, descobriu um suporte que absorvia melhor a tinta: o papel. A descoberta do papel revolucionou o império chinês e foi utilizado apenas pelos chineses, por quase 600 anos.
Com a difusão do papel por outras culturas, o formato de códice (formato de livros com páginas que temos hoje) começou a ser mais utilizado, deixando para trás o volumem (formato de livro enrolado utilizado na antiguidade), possibilitando, posteriormente, o desenvolvimento da imprensa e a maior democratização do uso do livro e ajudando a estabelecer a forma linear de pensamento que possuímos hoje.
No Espaço do Conhecimento UFMG, a história do papel está representada na seção Fábrica da Letra, da exposição Demasiado Humano, que aborda a história da escrita por meio de seus suportes, até o formato de livro que conhecemos hoje. Confira também, aqui no Blog, o texto sobre a impressão tipográfica que também dialoga com esse tema.
Para saber mais:
Como eram feitos os manuscritos medievais
Estudo diz que neandertais eram capazes de fazer arte – e pode mudar nossa percepção sobre eles
[Texto de autoria de Júlia Lobato Maciel, mediadora do Núcleo de Ações Educativas]
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