O resgate do termo “equivalência das janelas” cunhado por Machado de Assis (1839-1908), em sua obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”(1881) ganha especial relevância para nomear o projeto. Por um lado, traz a possibilidade de retomada desse autor negro que encontrou em vida grande notoriedade e que contribuiu de forma absolutamente inventiva, erudita e rica em ironia e crítica, à literatura brasileira, ganhando repercussão internacional e influenciando gerações de escritores até nossos dias. Por outro lado, a relação com o conceito de “janela”, tão recorrente nesse momento de pandemia, ganha uma interessante abordagem a partir da ideia de equivalência que o autor enuncia. Vale aqui comentar que no capítulo 51 do livro, o narrador Brás Cubas, conta ter encontrado na rua uma moeda apropriando-se dela. Entretanto, diante de vários pensamentos relacionados à posse, ele chega a um questionamento moral e ético, indagando-se sobre o direito de se apropriar de qualquer coisa, no caso, daquela moeda. Sob o impacto dessa questão, resolve remetê-la à delegacia, conferindo-lhe a tarefa de restituí-la a quem pudesse pertencer. Essa atitude trás a ele uma sensação de alívio e liberdade, fazendo-o conceber o que chamou de “lei da equivalência das janelas”, termo retomado mais a frente na obra, ponderando sobre a dimensão de troca entre o que se perde e o que se ganha em diferentes experiências da vida.

Nossa experiência mais recente, discutida e vivida durante esses meses de pandemia, nos colocou diante de situações em que nos indagamos sobre as inexoráveis perdas e sobre a exigência de resiliência, seja na reinvenção de nós mesmos, seja na premência de sobreviver às adversidades que não se limitam ao isolamento imposto, mas a uma situação política, ambiental, social que nos afronta cotidianamente e contra a qual é preciso reagir. Optamos por apresentar aqui nove diferentes versões de janelas, cada uma pertencente à casa de um dos artistas participantes, ativadas por intervenções, narrativas, ações, imagens, palavras e recursos da própria edição videográfica. De alguma forma – mesmo que seja um leve sopro de brisa que, nessas janelas, traz frescor e mudança – terminam por dialogar com esse termo machadiano, não para comprová-lo, mas como uma inflexão de provocação, questionamento, espera e esperança.

 

Ficha técnica

Participantes:

Amanda Cristina

Clarisse B. Silveira

Dominique Correia

Elisa Campos

Flávia Santiago

Giovanna Almeida Cunha

Guilherme Fernandes

MUMU Paulino

Profeta

Edição:

Lucas Campos e André da Matta

Realização:

Ateliês Integrados I e II de Artes Gráficas

Coordenação:

Profas. Elisa Campos e Fernanda Goulart

Escola de Belas Artes UFMG