Por dentro da maquinaria teatral: montando uma peça! – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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Por dentro da maquinaria teatral: montando uma peça!

 

As intervenções teatrais fazem parte da prática educativa em museus, sendo uma importante forma de apresentar conteúdos científico-culturais, gerar reflexões sobre os temas abordados nesses espaços e estabelecer relações entre a ciência, a arte e a sociedade. No Espaço do Conhecimento UFMG, já foram criadas e realizadas diversas intervenções teatrais, com diferentes temas e personagens, que sempre geraram um engajamento valioso do público.

 

Intervenção com interpretação de Charles Darwin, sua esposa Emma e seu amigo Wallace em uma conversa sobre os limites da ciência e da religião. Fonte: Acervo Espaço do Conhecimento UFMG

 

As intervenções teatrais fazem parte da prática educativa em museus, sendo uma importante forma de apresentar conteúdos científico-culturais, gerar reflexões sobre os temas abordados nesses espaços e estabelecer relações entre a ciência, a arte e a sociedade. No Espaço do Conhecimento UFMG, já foram criadas e realizadas diversas intervenções teatrais, com diferentes temas e personagens, que sempre geraram um engajamento valioso do público.

 

Antes mesmo de decidir o tema da intervenção teatral, é necessário pensar o teatro como uma grande “máquina”, que opera diversos elementos. Quando se trata de montar uma intervenção teatral em museus e espaços culturais, são muitas as etapas até que se chegue ao resultado final, no dia da apresentação Essas mesmas etapas podem servir de referência para intervenções teatrais pensadas para outros ambientes e contextos, como escolas, ações de movimentos sociais ou mesmo práticas de lazer entre amigos. Ficou interessado? Então veja a seguir uma proposta de passo a passo de uma produção como essa. 

 

Primeiro passo: o texto

O teatro sempre foi uma arte fortemente atrelada à literatura. Você sabia que existe um texto específico para a montagem de uma peça de teatro? O texto de teatro, ou a dramaturgia teatral, como é chamado, não é somente um roteiro, mas uma obra que descreve as características dos personagens, o cenário e até mesmo o figurino, o que facilita que a peça aconteça. É possível conhecer o contexto épico, histórico e político de uma peça através de sua dramaturgia. Cada dramaturgia possui uma estética específica, dentro do gênero teatral em que se encontra. Foi a partir dos gêneros que grandes ideias de atuação e estilos foram criados. 

 

Vários dramaturgos fizeram história, como o famoso Shakespeare. Aqui no Brasil, Ariano Suassuna foi um grande dramaturgo do gênero da comédia e marcou a história do teatro com o clássico O Auto da Compadecida. Outro grande nome do teatro brasileiro é Nelson Rodrigues que, além de dramaturgo, foi um grande diretor e encenador, que revolucionou a linguagem teatral com assuntos familiares e temáticas polêmicas. Além deles, Augusto Boal, também dramaturgo e diretor, foi um nome importante no movimento de teatro popular e político durante a ditadura, criando uma linguagem e metodologia de ensino conhecida como Teatro do Oprimido. 

 

Se você deseja montar alguma peça com temática e dramaturgia autoral, comece pelo tema. Decidido o tema, comece a escrever uma espécie de roteiro, pensando em como e o que você quer comunicar. Você gostaria, por exemplo, de fazer rir ou chorar? Gostaria de causar uma reflexão? Em seguida, busque exemplos de obras que goste e se inspire para escrever a sua dramaturgia. Não deixe de indicar no texto: o espaço em que acontece a narrativa, os personagens, suas falas e características, um conflito e a finalização. Pense sempre em uma estrutura de início, meio e fim.

 

Intervenção teatral Festa na Praça: Brincando de Fazer Festa. Fonte: Acervo Espaço do Conhecimento UFMG

 

Uma cadeira para o diretor

Vocês já devem ter visto em filmes aquela famosa cadeira de diretor de teatro, na qual, geralmente, um homem fica horas sentado dando ordens aos atores. Essa figura quase mítica de um diretor de teatro sofreu uma ressignificação desde seu surgimento, com o aumento do número de mulheres diretoras, que ocupam esse espaço com inteligência, desenvoltura e maestria.  O diretor ou diretora é a figura que, além de decidir as características estéticas de uma peça, assume o papel de direcionar os atores e atrizes. Por isso, é importante que ele ou ela tenha conhecimentos para lidar com todos os elementos do teatro.

 

Hoje em dia, também existem grupos que assumem um modelo colaborativo de direção, em que todos possuem voz. Esse modelo permitiu alterar alguns processos hierárquicos presentes no teatro e baratear os custos com um diretor, que costumavam ser muito altos. Um exemplo de grupo que possui esse formato colaborativo é o Teatro da Vertigem (SP), uma companhia teatral brasileira surgida em 1991 e que vem desenvolvendo, ao longo dos anos, novas formas e diretrizes teatrais.

 

Em Belo Horizonte, existe uma diversidade de diretores e diretoras que representam diversos estilos e estéticas dentro da cena teatral da cidade, como  João das Neves, Aidê Bitencourt, Eid Ribeiro, Cida Falabella, Ione de Medeiros, Grace Passô, Rita Clemente, Pedro Paulo Cava, Gabriel Villela, Yara de Novaes, Grazi Medrado, Mônica Ribeiro, Juliana Pautila, Marina Viana, Mariana Muniz, Sara Rojo, Bia Braga , Papoula Bicalho, Hérlem Romão, entre outros.

 

Um elenco para minha peça: teatro não se faz sozinho!

Como teatro não se faz sozinho, é necessário convidar pessoas para atuarem e para realizarem a montagem da intervenção. Quanto maior o elenco, mais cabeças pensantes irão contribuir com ideias para aprimorar o processo. Decididos os atores e atrizes da peça, sejam eles amadores ou profissionais, é importante que se realizem treinamentos e dinâmicas de grupo, além de ensaios com o texto, para que o elenco se torne mais próximo e engajado. 

 

O processo de montagem de uma intervenção teatral pode ser cansativo e repetitivo, por isso é importante que a equipe seja unida e empenhada e que as pessoas se conheçam bem, pois passarão um bom tempo juntas. Vale a pena investir em conversas semanais ou mensais sobre o processo, reunindo todo o elenco e dando espaço para que todos contribuam ativamente com os detalhes que envolvem a montagem. Além disso, é interessante que se criem combinados e que se realize uma divisão de tarefas, para que ninguém fique sobrecarregado: criar equipes responsáveis por cenários, figurino, sonoplastia, iluminação, até as questões de produção, como datas e local. Isso permite que o processo de montagem seja menos turbulento e estressante. 

 

Comece aos poucos. O processo é lento, mas é muito divertido! Não tente pular etapas. Todos os elementos do teatro foram criados em benefício do mesmo, por isso, aproveite para experimentá-los. Torne cada detalhe uma chance para que a equipe se mobilize em prol de uma obra conjunta e aprenda sobre valores do trabalho em equipe. No final, a montagem terá um belo resultado e o aprendizado do processo jamais será esquecido.

 

PARA SABER MAIS:

PIRES, Ronaldo G. A intervenção teatral nos espaços museais e na escola: perspectivas para um ensino humanizado de ciências. Dissertação (Ensino e Docência). Faculdade de Educação, UFMG, 2015

Teatro na Escola: Banco de Peças 

Livro: PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2005.

 

[Texto de autoria de Tamires Batista Silveira, Priscila Gabriele Martins Silva e Júlia Lobato Maciel, mediadoras do Núcleo de Ações Educativas e Acessibilidade]