7º Festival de Verão da UFMG

Vadiar é preciso, o resto é improviso

Centro Cultural UFMG
Av. Santos Dumont, 174 - Centro
Carnaval 2013
8 a 12 de fevereiro

Na palestra inaugural, filósofa reflete sobre as mudanças de paradigmas provocadas pela física quântica

7 de fevereiro de 2013 · 12h25

O gato de Schrödinger*, que estaria simultaneamente vivo e morto: representação dos desafios propostos pela física quântica
O gato de Schrödinger*, que estaria simultaneamente vivo e morto: representação dos desafios propostos pela física quântica

Até o final do século 19, a física obteve grande sucesso na consolidação de um ideal herdado da Grécia antiga: o de que uma boa teoria científica seria aquela que descrevesse a ordem oculta e imutável por detrás das aparências efêmeras.

Mas, no início do século 20, o surgimento da teoria quântica revelou um mundo, o atômico, em que as coisas se comportam de forma estranha e bem diferente do que se imaginava até então no universo acadêmico.

Esse cenário de revisão de paradigmas científicos é o mote da palestra "Ousarei perturbar o universo?" – conversas entre física quântica e filosofia, que a professora Patrícia Kauark-Leite, do Departamento de Filosofia da UFMG, ministra no Centro Cultural UFMG na noite do dia 8, sexta-feira, na abertura do 7º Festival de Verão.

A ideia é traduzir os dilemas e as perspectivas que surgem atualmente na física e na filosofia em função dessa mudança de cenário. "Vou apresentar e discutir alguns aspectos filosóficos relacionados aos conceitos de 'realidade', 'objetividade', 'localidade', 'incerteza' e 'probabilidade' no contexto da teoria quântica", detalha Kauark, que é física, mestre em filosofia e doutora em epistemologia.

A filósofa explica que, pela perspectiva do antigo ideal científico, a ciência deveria proporcionar uma descrição objetiva e verdadeira de algum aspecto do mundo cujas qualidades não seriam imediatamente sensíveis. "A física voltada para o comportamento da matéria e da luz, por exemplo, procuraria revelar a estrutura racional dos eventos que se produziriam numa escala invisível, de forma que pudéssemos prever de forma determinista e rigorosa os acontecimentos futuros", diz.

Patrícia (à direita) recebe prêmio por seu último livro Patrícia (à direita) recebe prêmio por seu último livro

Perturbação
Esse mesmo ideal acompanha, a partir do século 17, a ciência em sua aliança com a matemática e a tecnologia. "Mas hoje, quando estudamos mecânica quântica, o nosso sentimento é de estranhamento e de perturbação diante da desfiguração dessa ordem causal, familiar e natural que nos pautava".

Nesse sentido, Patrícia detalha que os critérios de individuação que permitiam identificar e reconhecer as coisas que existem no mundo não mais se aplicam: "Os objetos da física quântica, se é que podemos falar de 'objetos', perderam qualquer relação de semelhança com aqueles que estamos acostumados a ver e a interagir em nosso dia a dia".

Tais mudanças acabam impactando a forma como o mundo é visto e apreendido pelas pessoas. "Esses objetos não se comportam como pedras, pequenas bolas de bilhar ou pequenos pesos presos a molas. Nem como líquidos, nem como nuvens. Nada nesse nível se assemelha a algo que já tenhamos visto alguma vez. A estrutura conceitual empregada pela física quântica difere drasticamente daquela utilizada pela física clássica", conclui Patrícia Kauark.

Em 2012, Patrícia inclusive recebeu o prêmio Louis Liard, da Academia de Ciências Morais e Políticas da França, pelo livro Théorie quantique et philosophie transcendantale: dialogues possibles, publicado no mesmo ano pela editora Hermann, de Paris. O livro justamente analisa, do ponto de vista filosófico, as principais mudanças introduzidas pela teoria quântica no que diz respeito à questão da objetividade das teorias físicas.

Palestra "Ousarei perturbar o universo?" – conversas entre física quântica e filosofia
Local: Centro Cultural UFMG. Avenida Santos Dumont, 174, Centro.
Data: 8 de fevereiro
Horário: 20h15
Duração: 60 minutos
Classificação etária: livre
Informações: 3409-6411 (3409-8278 durante o evento) e festivalveraoufmg@gmail.com

* A imagem é a representação "clássica" da experiência de pensamento do gato de Schrödinger, publicada na revista Physics Today, em setembro de 1970, para ilustrar o artigo Quantum Mechanics and Reality, de Bryce DeWitt. A representação ilustra as novas perspectivas e os desafios de pensamento que surgiram a partir da teoria quântica: na imagem, o gato estaria simultaneamente vivo e morto – algo impensável no antigo ideário da física.