A Cátedra UNESCO-UFMG “Territorialidades e Humanidades: a Globalização das Luzes” tem um caráter transdisciplinar, envolvendo as ciências humanas e letras e, também, outros campos do conhecimento, com interfaces com as ciências exatas e naturais ou, de fato, estando nelas inseridos, a saber: a química, a educação física e a história ambiental. Ao mesmo tempo, a Cátedra procurará estabelecer uma colaboração ativa com outras Cátedras UNESCO na área das Humanidades, principalmente com aquelas propostas no quadro da cooperação entre o Conselho Internacional de Filosofia e Ciências Humanas (CIPSH) e a UNESCO.
O objeto da Cátedra são as Luzes, ou Iluminismo, um movimento de pensamento e de ideias heterogêneas, no espaço, no tempo e quanto aos temas. As Luzes definem-se por uma atitude de pensamento, que preza a autonomia intelectual e que refuta todo e qualquer princípio que não se justifique racional e/ou empiricamente. Sua unidade também se define pelo enfoque de um conjunto frequente de problemas, muito mais do que pela defesa de alguns princípios comuns. Com efeito, as Luzes, detendo-se sobre os mesmos problemas, chegaram a princípios e soluções divergentes, não levando à constituição de um sistema coerente de ideias.
Surgidas como um prolongamento da efervescência intelectual dos últimos decênios do século XVII, em particular nos Países Baixos, na Inglaterra e na França, as Luzes ganharam forma no curso do século XVIII na Europa e, depois, propagaram-se às Américas. Enfrentando múltiplas resistências, difundiram-se no mundo inteiro. As ideias e os debates das Luzes, com isso, tiveram largo alcance, repercutindo em escala global, afetando as sociedades e governos, a religião e a cultura. As Luzes desempenharam um papel decisivo na história da Humanidade, pois elas lhe forneceram palavras, valores e, sobretudo, uma maneira autônoma de pensar sobre si mesma e sobre o devir. Esse papel histórico desempenhado pelas Luzes é perceptível, de suas origens à atualidade, até mesmo no sentido de fornecer elementos que servem para que sejam criticadas em seus limites.
Malgrado todas as transformações vividas pela humanidade, com a consagração dos Direitos Humanos, dos valores democráticos e do respeito às diferenças, vive-se hoje sob inúmeras opressões e perigos, que representam a negação da autonomia e dos princípios mais frequentemente preconizados pelas Luzes. De fato, o mundo vive sob diferentes formas de intolerância, de desigualdades e de preconceitos (nacionais, políticos, culturais, religiosos, linguísticos, sexuais e de gênero). Nesse contexto, as Luzes dão inestimáveis contribuições, graças à sua audácia de colocar tudo em questão, valendo-se da razão, da observação, da experimentação e, ainda, sem recusar as paixões humanas e sempre confiando no Homem como construtor de seu próprio futuro.
O alvo da Cátedra, nesse contexto, é a Humanidade, ou melhor, as Humanidades, esclarecidas pelas Luzes, como princípios universais, mas capazes de respeitar as diferenças. Visa-se, com isso, reforçar a importância das Humanidades, como campo de conhecimento, para o desenvolvimento global sustentável, para o respeito à diversidade cultural e para a sustentação da paz no planeta. Para tanto, a Cátedra promoverá o desenvolvimento de pesquisas e de atividades de ensino (da graduação à pós-graduação) e de extensão, envolvendo intercâmbios entre 19 instituições universitárias ou de pesquisa, do Brasil (12, de Pernambuco ao Rio Grande do Sul), da Argentina (duas), de Portugal (duas), da França (uma), da Espanha (uma) e da Rússia (uma).