Cristina del Papa, ex-diretora do Sindifes

É bastante oportuna a colocação do Reitor da UFMG, professor Ronaldo Pena, sobre o fato de vivermos num país onde a pobreza e as desigualdades sociais persistem, mesmo diante de várias iniciativas e programas sociais que visam a erradicá-las ou minimizá-las. Nós, do Sindifes/BH, em nossas discussões e encaminhamentos, somos favoráveis a todas as ações que busquem a inclusão social, pois não precisamos de muitos dados estatísticos para compreendermos que negros e brancos nunca estiveram no mesmo patamar de igualdade nos diversos setores do Brasil. Basta olharmos os registros sobre o mercado de trabalho, acesso à saúde, educação superior, cargos políticos, altas gerências ou o cotidiano da nossa universidade. Em todas as situações em que se constata um quadro alarmante de desigualdade e miséria, existe uma representação significativa da população negra. Por outro lado, onde há riqueza, maior o número de brancos. Isso demonstra que a pobreza e a riqueza no Brasil têm cor.

Particularmente, na área de educação, defendemos a efetivação de uma política de ações afirmativas para todos os segmentos da sociedade historicamente excluídos. A adoção destas políticas, tão cobradas pelos militantes do movimento social negro ao Estado Brasileiro, exige uma mudança de postura da universidade e da sociedade em geral. É preciso pensar e criar, também, formas de garantir a permanência bem-sucedida destes segmentos na universidade. É bastante salutar que a UFMG tenha incorporado esta discussão, uma vez que já existe no país instituições que aderiram ao sistema de cotas para negros em seus vestibulares. Ademais, a luta pela eqüidade social precisa deixar de ser peça de retórica e se tornar, de fato, iniciativa real.

Uma sociedade justa pressupõe pessoas livres, com direito à informação e à formação. Garantir o acesso de alunos oriundos das classes menos favorecidas à Universidade é uma necessidade urgente, que precisa ser encampada, internamente, por todos os segmentos que integram a instituição e, externamente, por todos os agentes sociais.

Entretanto, para garantir o acesso em pé de igualdade, há que se investir também na escola pública nos níveis fundamental e médio. Este é um outro aspecto no qual a Universidade precisa se posicionar. A formação de professores em serviço, por exemplo, é uma importante forma de instrumentalizar os responsáveis pelo desenvolvimento das aptidões na outra ponta – os jovens que passam pela “peneira” do vestibular. Embora na UFMG já existam iniciativas neste aspecto, esta é uma ação que precisa ser sistemática. A Universidade pode e deve intervir em outros processos e não somente nos internos.

O Brasil precisa resgatar a sua dívida social. Para isto, todos os instrumentos e medidas necessárias e ao alcance devem ser utilizadas. Não defendemos aqui privilégios para A ou B, mas sim o respeito às diferenças. Outras formas de inclusão são possíveis e necessárias. O vestibular é somente uma forma de acesso. Que se experimentem outras, socialmente mais justas.

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