André Cabral, coordenador do colegiado do curso de Medicina da UFMG

“As políticas de inclusão devem existir, mas não para o ingresso na Universidade, porque de nada adiantariam se não houvesse políticas que garantam a permanência do estudante na instituição.

A Universidade deveria dar mais atenção aos estudantes dos cursos que funcionam em período integral. Além disso, penso quais as Ifes deveriam se debruçar no estudo de quais são as causas que hoje excluem o acesso e a permanência dos menos favorecidos. E inclusive os fatores do Vestibular UFMG que levam os menos privilegiados a não terem acesso.

Sabemos, por exemplo, que na prova de língua estrangeira os mais favorecidos têm alto índice de acerto, em contraposição aos menos favorecidos. Talvez fosse interessante que a prova de Inglês não fosse classificatória, mas apenas eliminatória. Ou seja, se o candidato atingir um nível que garanta a média, a partir daí todos estariam em situação igual.

Sobre as cotas para escola pública, o assunto tem que ser melhor estudado. Talvez seja mais interessante mexer na política de acesso e de permanência. Cota para escola pública não garante, necessariamente, a entrada dos menos favorecidos. É melhor estudar quais os fatores que o nosso vestibular usa e que excluem os menos favorecidos.

Facilitar o acesso é uma medida importantíssima nesse momento. Mas deveria ser uma política de estado oferecer a todo cidadão brasileiro condições iguais de acesso. Isso implica investir em políticas sociais que garantam qualidade do ensino fundamental e médio àqueles que pretendam ingressar em cursos de tempo integral. Eles precisam garantir que poderão ingressar e permanecer. Lembrando que a exclusão maior ocorre antes da inscrição no vestibular. É um sistema muito mais perverso: as pessoas menos favorecidas sequer se inscrevem em cursos de período integral, porque acham que não terão condições e passar no Vestibular e de permanecer no curso.

“Nenhum país pode aspirar a ser desenvolvido e independente sem um forte sistema de educação superior. Esta deve promover uma nação soberana, democrática, inclusiva e que promova a emancipação social. De nada nos adiantará sermos elitistas na qualidade sem sermos democráticos na quantidade. O nosso curso médio espelha a nossa sociedade? Talvez sejamos um espelho daqueles que distorcem a imagem. Qual é a cor do curso médico? O perfil socioeconômico de nossos alunos espelha a nossa sociedade? Os nossos índices de evasão e de retenção são os mesmos para negros, brancos, ricos e pobres? Há algo que possamos fazer para que nosso espelho distorça menos? Essas são algumas questões sobre as quais a comunidade acadêmica deveria se debruçar”.

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