Nilma Lino Gomes, professora da Faculdade de Educação coordenadora do programa Ações Afirmativas

“Acho importante que o novo reitor da UFMG comece o seu mandato demonstrando sensibilidade diante da situação de desigualdade social no ensino superior em geral e, de maneira específica, na UFMG. Na minha opinião, esse assunto precisa ser levado, pela reitoria, como um tema importante a ser discutido pela nossa comunidade acadêmica e debatido no Conselho Universitário.

Na minha opinião, a posição reticente da UFMG diante do assunto “democratização da universidade e cotas” só tem nos trazido desvantagens internas e externas.

a) Internas, porque nega uma realidade de desigualdade social real que se reproduz nos cursos e áreas do conhecimento existentes na universidade. A inserção de jovens dos setores populares em cursos como a Medicina e Odontologia pode ser citada como exemplo.
b)Externas, porque nos põe, em nível nacional, ao lado da opinião dos setores conservadores da universidade pública que acabam por ganhar expressão na mídia e conseguem interferir nas decisões dos órgãos acadêmicos e dos setores políticos.

Sabemos que, apesar da existência de setores conservadores na UFMG, existe também um grupo de intelectuais que sempre se manteve comprometido com a democratização da universidade e com as lutas sociais. Esse grupo tem contribuído para a construção de um perfil de universidade pública articulada com as lutas sociais e com a construção da democracia.

Como todos sabem, no meu entender, além de cotas sociais é preciso discutir a sua articulação com as cotas raciais, pois as desigualdades social e a racial caminham de maneira conjunta, mas possuem especificidades. Uma delas é a desigualdade do acesso de jovens negros e brancos ao ensino superior. Juntamente com um estudo sobre a presença dos alunos de camadas populares e de escola pública na UFMG é necessário mapear onde estão os alunos negros e em quais cursos e turnos a presença negra não está devidamente representada na UFMG. Onde a ausência desses estudantes for percebida, faz-se necessário que implementemos formas de democratização do seu acesso e da sua permanência na nossa universidade.

Tenho confiança de que ainda conseguiremos não só fazer esse debate no interior da Reitoria e do Conselho Universitário, como também de que a nova Reitoria - que me parece começar a se tornar sensível a essa discussão - apresente uma resposta coerente e democrática para essa demanda da sociedade atual. É preciso abrir uma discussão séria na UFMG sobre a educação como um direito social. E quando falamos em direito social, não podemos fechar os olhos para aqueles a quem, historicamente, esses direitos têm sido negados”.

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