Janete Ricas, professora Adjunta do Departamento de Pediatria e ex-coordenadora do Colegiado do curso de Medicina

“Os alunos da Faculdade de Medicina são, na grande maioria, provenientes de escolas privadas e que fizeram cursos pré-vestibular. Quem não tem renda para pagar escolas privadas ou cursinhos tem muito pouca chance de ingresso. Além disso, como o curso médico exige horário integral durante seis anos, a família deve ter algum recurso, pelo menos para prescindir da ajuda do estudante que, quando não é sustentado pela família, consegue, com muito sacrifício, “fazendo bicos”, trabalhos noturnos e de finais de semana, se manter estudando. Devemos ver essa situação de injustiça como uma a mais entre as tantas injustiças causadas pela desigualdade de distribuição de renda no País. Nesse caso, a solução lógica e que estenderia a oportunidade de ingresso no Curso para todos os jovens, seria a garantia de acesso aos ensinos fundamental e médio de qualidade para todos que o desejassem. Este acesso significaria não só escolas de boa qualidade mas também materiais de estudo e manutenção do estudante durante a sua formação.

Entretanto, essa expectativa é antiga e, pelo menos no discurso, perseguida por parte da nossa sociedade há décadas. Não negando que tivemos, nas últimas décadas, uma melhoria considerável na saúde e educação em Minas Gerais , elas ainda estão muito longe do ideal e, sobretudo, da distribuição eqüitativa na população.

Dessa forma, embora a proposta do Reitor possa soar, para alguns, como um apelo à caridade com uma pitada de demagogia, no momento eu a encaro de uma forma mais positiva e a defendo, porque:


* Não acredito que haja diferença de inteligência potencial entre o estudante de escola pública e o da privada. Portanto, o primeiro poderia, considerando esse aspecto, realizar com o mesmo sucesso, o curso médico;
* O Curso Médico exige boa formação de caráter, maturidade, formação ética e vocação humanística. Não acredito que essas características predominem nos jovens provenientes da escola privada ou da escola pública.
* O vestibular é classificatório e, desta forma, centenas de estudantes, com ótima formação (em termos de conhecimentos adquiridos na escola) e com capacidade para seguir o curso, ficam abaixo do ponto de corte. A chance do estudante da escola pública de estar entre estes é bem maior.

É possível algum impacto social e econômico com a medida, embora muito aquém do desejável. Enquanto se espera “justiça para todos”, beneficiar alguns seria uma medida inteligente e de bom senso, desde que isso não signifique cruzar os braços e renunciar à busca de uma solução mais ampla”.

Desenvolvido por Núcleo Web - Cedecom UFMG, com uso do software WordPress