Tendo como estrutura formal quatro
mesas-vitrines e o diagrama de organização
da coleção que vem se reestruturando
a cada nova exposição, o ciclo
"Mabe Bethônico e O Colecionador"
é uma entre várias maneiras de
se exibir a obra, cujo restante se encontra
na Biblioteca do Museu. Sem dúvida, são
múltiplas as aproximações.
Pode-se falar também
no caráter radicalmente efêmero
de uma obra afinal composta de recortes de jornais,
que se amarelam e se tornam quebradiços
com o tempo. Sintoma de uma era de informação
digital? Talvez, embora os dispositivos da multimídia
tenham se revelado ferramentas de desdobramento
do arquivo para a artista. Certo é que
Mabe Bethônico elegeu uma figura ficcional,
o próprio Colecionador, como seu cúmplice
e co-autor anônimo do projeto. É
ele quem responde pelas citações
que compõem as exposições,
fornecendo pistas para o espectador-leitor.
Cabe, ainda, chamar
atenção aos três ensaios
aqui exibidos, todos compostos exclusivamente
por imagens:
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**"Destruição:
Caixa III: O Lado de Dentro do Lado de Fora
I e II (Cozinha)" |
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(39 recortes): série
de forte coerência compositiva, que
revela situações de risco
físico em que pessoas transportam
para as ruas elementos do interior de suas
casas; metáfora da dissolução
das fronteiras entre espaço público
e privado no embate político contemporâneo; |
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**"Destruição:
Caixa IV: Mulheres e Destruição" |
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(73 recortes): ocupando duas
mesas-vitrines, este ensaio reflete a representação
das mulheres em cenas de guerra e desolação
(Kosovo, Oriente Médio, exclusão
social no Brasil etc.); a encenação,
recurso jornalístico típico
dos anos 90, encontra aqui seu registro
explícito, em imagens de incômoda
beleza plástica; |
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**"Destruição:
Caixa V: Água: Cenas de Enchente":
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o tema da natureza como origem
da tragédia aparece para questionar
a solidez da cidade e da arquitetura, um
dos tópicos mais caros para 'O Colecionador":
'A coleção constrói
a história da casa, contaminada por
destruição, subtração;
ela cataloga ameaças, notando sua
exposição e fragilidade",
nas palavras dele. |
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