Em outro momento, fixo na memória,
não pude me deixar de surpreender quando
uma senhora me solicita uma informação:
"esta é a sala onde está
exposta a obra anunciada lá embaixo?"
E logo estávamos nos aproximando do Colecionador.
A senhora estava acompanhada de seu filho, e
ambos começaram a percorrer algumas caixas,
a conversar sobre o conteúdo, no geral,
em detalhes. "Estas flores, mãe,
elas não são daqui..." "Vamos
ver outra caixa, filho?" "Quero ir
brincar..."
A obra de arte permanecia discreta entre as
lacunas que o próprio espaço da
Biblioteca permitia, como um livro fechado e
prestes a ser encontrado. E para não
faltar a etiqueta, até surgiu a idéia
de elaborar etiquetas manuscritas para sinalizar
a localização das caixas em prateleiras
de uma ampla estante de aço, como se
sempre estivessem ali. Nenhum freqüentador
questionou essa presença, tendo em vista
o uso de tais espaços para outras finalidades
até então (suplementos de jornais,
por exemplo). Ao mesmo tempo, lendo os textos
de crítica que Mabe gentilmente nos disponibilizou,
encontramos a idéia de que sua obra questiona
o próprio suporte jornalístico,
na medida em que a coleção possa
integrar o acervo de um museu, pois recebe acréscimos,
inclusive do público. E se algum olhar
tivesse fisgado as anotações à
lápis em inglês em algumas pastas
? E se tivessem observado que algumas pastas
eram escuras ? Mas houve quem obervasse compulsivo
o verso das fotos recortadas, para saber de
onde viriam tantas flores, que jornal ou revista
estaria publicando isto, onde o Colecionador
estava colhendo tantas flores ? Realmente, dos
jornais que eu recortava para nossa hemeroteca,
só enchente e destruição
nas primeiras páginas... E uma exposição
com coleções curiosas de personalidades
sendo exposta num shopping center de São
Paulo...
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