(foto Foca Lisboa) |
O Menino Maluquinho chegou à Universidade. De mãos dadas com a pesquisadora Diléa Helena de Oliveira Pires, ele e todos os outros personagens de Ziraldo assentaram-se nos bancos da UFMG. Não para estudar. Mas para serem estudados na tese "Travessia pelas vias da leitura: uma jornada na obra de Ziraldo", defendida por Diléa no doutorado em Lingüística da Faculdade de Letras em 17 de fevereiro. Compenetrada - acredite! - a molecada criada por inspiração do escritor de Caratinga aguardou o julgamento da academia. A conclusão de Diléa Pires foi comemorada por Flics, Bela Borboleta, Menino Marron, Menino do Rio Doce e todo o elenco de Ziraldo, agora considerados personagens indicados para qualquer faixa social e etária, e para ambos os sexos. "Desde que haja incentivo e apoio na leitura, o público recebe muito bem a obra de Ziraldo", atesta a pesquisadora. A conclusão do doutorado contraria, inclusive, a idéia central da dissertação defendida por Diléa em 2000. "Minha pesquisa de mestrado comprova que a linguagem de Ziraldo é mais apropriada às classes média e alta". Para aferir na prática a receptividade à obra do autor fora das classes mais abastadas, a pesquisadora levou à comunidade do bairro União, em Belo Horizonte, 170 títulos. Fez contatos com escolas e igrejas da região e conseguiu fazer com que 213 leitores apertassem a mão da turma do Ziraldo. "Depois das leituras, pedia que as pessoas deixassem suas impressões em diários", explica Diléa, lembrando que, no total, foram redigidos 130 volumes desses registros. Além disso, durante um ano, a pesquisadora realizou reuniões semanais para debater com os leitores. "Formamos uma comunidade de trocas de experiências e incentivos, o que foi fundamental para a ampliação do número de leitores e de obras lidas", diz. Para Diléa, esse intercâmbio demonstrou que bastam incentivos para que a comunidade queira cada vez mais livros. "Na verdade, qualquer escritor que tenha uma boa obra, voltada para a construção da cidadania, está aberto ao grande público. Mas é preciso, antes de mais nada, disponibilizar os livros e incentivar a leitura", raciocina. Preferido Diléa Pires também é escritora de livros dirigidos a crianças e jovens. "Tenho 11 títulos editados", afirma. Ela está a caminho da Itália onde receberá prêmio por uma de suas publicações. Ficha técnica
Na contramão do mercado, Diléa não considera o Menino Maluquinho o melhor título de Ziraldo. Para ela, a primeira posição de qualidade cabe a Flics, que conta a história de uma cor sem lugar. "Mas, na opinião das crianças, certamente o Maluquinho é o que mais agrada", reconhece.
Tese: Travessia pelas vias da leitura: uma jornada na obra de Ziraldo
Autora: Diléa Helena de Oliveira Pires
Defesa: 17 de fevereiro de 2004
Orientadora: Eliana Amarante
Programa: Pós-graduação em Língüística da Faculdade de Letras