Um dos grandes enigmas da doença de Chagas acaba de ser decifrado na UFMG. Pesquisas conduzidas por Luiz Augusto Pinto conseguiram explicar porque tipos diferentes de Trypanosoma cruzi infectam e deixam de infectar o ser humano. Pelo estudo "Geração de variabilidade genética do Trypanosoma cruzi na doença de Chagas: um modelo baseado no estudo do reparo de erros de pareamento do DNA", o autor recebeu o Prêmio Jovem Geneticista 2004. A comenda é concedida pela Sociedade Brasileira de Genética e Amersham Biosciences do Brasil Ltda ao mais brilhante trabalho da área desenvolvido na América do Sul. Este ano 14 pesquisas disputaram o Prêmio, que foi entregue em setembro durante o 50º Congresso Brasileiro de Genética. No Laboratório de Genética e Bioquímica do ICB, Luiz Augusto criou em sua pesquisa de doutorado um modelo para a mutação do Trypanosoma cruzi, evidenciando o motivo pelo qual apenas o tipo 2 da espécie contamina o Homem. "Faltava-nos entendimento sobre o porquê de apenas esse grupo provocar a doença de Chagas", diz. A pesquisa premiada mostra que o problema está na variabilidade do segundo tipo, que tem mutação mais rápida. "Tudo ocorre no momento da divisão das células do protozoário. O tipo 2, por causa de mutações do DNA, apresenta variabilidade maior de proteínas", explica o pesquisador. Durante a divisão de células, algumas proteínas comandam o processo, o chamado DNA polimerase. "Mas ele comete erros, mutações", ressalta Luiz. Para deixar tudo correto, esclarece ele, outras proteínas (conhecidas como de reparo do DNA) consertam os enganos, diminuindo a taxa de mutação do Ácido. "No tipo 2 do Trypanosoma cruzi essas proteínas de reparo são pouco eficientes, o que provoca a alta variabilidade", argumenta, frisando que esse é o motivo pelo qual o ser humano não é capaz de eliminá-lo, como faz com o tipo 1. Em bom português, isso significa que o grupo 1 varia pouco ao longo do tempo. Perspicaz, o organismo humano aprendeu como descartá-lo sem sofrer danos. O tipo 2 está sempre alterando sua genética e, portanto, não conseguimos eficiência no combate a ele. Resultado: doença de Chagas. Luiz Augusto iniciou sua trajetória de pesquisas quando cursava o quarto período de Ciências Biológicas. "Comecei com investigações sobre Leishmania brasilienses, que provoca a leishmaniose", lembra. A guinada para a doença de Chagas aconteceu no mestrado, com seqüência no doutorado.