Universidade Federal de Minas Gerais

Tese analisa o discurso dos boletins de ocorrência

quarta-feira, 13 de outubro de 2004, às 10h50

Tudo pode acontecer no intervalo entre um acidente de trânsito e a chegada da perícia: confusão, bate-boca, congestionamentos, buzinas, tumulto. Mesmo quando a situação está calma e sob controle, é impossível, ou pelo menos, muito improvável, que os envolvidos tenham outras preocupações além de achar os "culpados" ou contabilizar os danos com o pisca-pisca quebrado e a porta amassada. Só mesmo uma professora de português para fugir à regra e prestar atenção justo no texto dos boletins de ocorrência.

Após a colisão do veículo dirigido por seu filho, a professora Heloísa Alkimim conta que a situação seguia dentro do esperado. "Aguardávamos a perícia com os equipamentos para fazer medições e fotos. Foi então que apareceu um policial militar com uma ficha na mão para ser preenchida. Levei um susto. Logo pensei: que texto vai sair dali?", recorda-se a professora. Estava escolhido o tema para a tese de doutorado, defendida dia 14 de setembro, junto ao programa de pós-graduação da Fale.

Para responder à pergunta, Heloísa recolheu 36 boletins de trânsito e escolheu os seis textos mais representativos. Com material nas mãos, sinal verde para iniciar as pesquisas e analisar o estilo da linguagem, a produção de sentido e a relação entre a língua oral e a língua escrita estabelecida nos boletins de ocorrência. "O que mais me instigou foi o fato de ser uma situação de uso real da língua que não se limita à aplicação das regras de gramática, por exemplo. É um ato muito mais complexo, em que uma série de fatores vão interferir no produto final", afirma Heloísa Alkimim.

Segundo a professora, não há como o policial escrever o texto sem ser influenciado pelas circunstâncias e pelo contexto de enunciação dos envolvidos. Outro fator que acaba por determinar a linguagem é o próprio leitor. "Quem escreve está falando para alguém. Ao pensar no receptor, o autor já faz várias adequações. No caso dos policiais, a escolha das palavras deixa claro que os leitores são peritos, funcionários de nível superior. E isso geralmente não é ensinado nas escolas", afirma. Além disso, o texto é quase sempre produzido na hora, não há muito tempo para formular antes de redigir.

Uma das teorias que ressalta a importância das circunstâncias de discurso e amplamente utilizada por Heloísa durante sua pesquisa é a semiolingüística, de Patrick Charaudeau. A professora recorreu também aos estudos sobre textualidade de Robert de Beaugrande e a conceitos de psicologia social, que reforçam a importância da percepção do leitor sobre o texto. "Definitivamente, não basta ter conhecimento das regras da língua", afirma a professora de português.

Imparcialidade
No caso dos policiais escalados para preparar os boletins, as exigências são ainda maiores, pois é a partir do texto das ocorrências que os peritos avaliarão quem está com razão numa pendenga de trânsito. Outra recomendação é ser totalmente imparcial, o redator não deve jamais manifestar suas opiniões e impressões. Em consequência, os períodos em primeira pessoa são substituídos por frases que retiram do policial a autoria da frase, como "segundo o motorista do veículo 1". O jargão também é restrito e específico, explica a professora, e muitas das palavras não fazem parte do vocabulário usual. O policial ainda precisa conciliar as diferentes falas dos envolvidos no texto e o seu próprio discurso, da maneira mais isenta possível. "Sabemos que não há como ser totalmente imparcial, mas os policiais são treinados para isso. É importante os envolvidos terem consciência de que o acidente será registrado da maneira que eles descreverem", afirma Heloísa.

A pesquisadora brinca que, com tantos pré-requisitos e exigências, a via de trânsito se transforma em uma verdeira arena, em que os policiais travam fortes lutas contra a língua, a situação de enunciado, a escolha das palavras e vários outros adversários. "Daí a escolha do título da tese", justifica. Depois de enfrentar tanta batalha, o resultado é um texto enunciativo, que traz muitos elementos da descrição e também da narração. "Nessas situações podemos realmente avaliar o domínio da língua. Mais complicado do que falar sobre as regras e utilizá-las corretamente é dominar os aspectos extralingüísticos", completa.

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