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O Conservatório UFMG abre nesta quinta-feira, 28, a partir de 20h, a mostra Mitos e Territórios, que reúne trabalhos de oito mulheres, todas elas Promovida pela Diretoria de Ação Cultural (DAC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a exposição é parte do intercâmbio cultural entre as duas instituições federais, que leva também a Goiânia, desde o dia 21, a exposição Objetos e outros objetos, com trabalhos de oito professores da Escola de Belas Artes da UFMG. Mulheres Esses temas estão representados nos trabalhos das artistas plásticas Anahy Jorge, Ciça Fittipaldi, Christiane Brandão, Eliane Chaud, Simone Marçal e Selma Parreira e da fotógrafa e cineasta Rosa Berardo. Tudo devidamente "costurado" pela teórica Irene Tourinho. A idealizadora e uma das curadoras da exposição Mitos e Territórios, professora Selma Parreira, da UFG, diz ter sido encorajada a coordenar o evento devido ao processo de elaboração de The dinner Party (O Banquete), da artista canadense Judy Chicago. A ornamentação da obra foi feita por mais de cem mulheres, que trabalharam durante quatro anos (1974-1978) em bordados, pinturas, modelagens e desenhos. "Na obra, a mesa em forma triangular tem trinta e nove lugares, e as homenageadas são mulheres historicamente significativas", conta Selma. A exposição poderá ser visitada de 29 de outubro a 19 de novembro, de segunda a sexta-feira, de 8 às 17 horas. O Conservatório UFMG fica à Av. Afonso Pena, 1534, no Centro. Bicho de oito cabeças Em 2004, através do programa de intercâmbio cultural promovido pela Diretoria de Ação Cultural (DAC) entre Instituições Federais de Ensino Superior, o projeto – que virou exposição – percorre territórios, não só imaginários, mas também físicos. Atravessa as fronteiras entre Goiás e Minas Gerais até chegar a Belo Horizonte. A inspiração para o projeto tem ares canadenses. A idealizadora e também uma das curadoras, Selma Parreira, diz que o que a encorajou a propor e a coordenar Mitos e Territórios foi a admiração pelo processo de elaboração de The dinner Party (O Banquete), da artista canadense Judy Chicago. Toda a ornamentação dessa obra foi realizada por mais de cem mulheres que trabalharam por quatro anos (1974-1978) executando bordados, pintura, modelagem e desenhos. "A mesa em forma triangular tem 39 lugares e as homenageadas são mulheres historicamente significativas", conta Selma. Caráter contemporâneo De acordo com Irene Tourinho, uma das curadoras da mostra e professora da FAV, a exposição não é interativa, condição que tem marcado grande parte da produção atual. "No entanto, ela brinca com espaços invadidos pelo feminino e mostra tensões e desejos quecolocam o próprio tempoem questão: os rótulos não são neutros. A contemporaneidade também está na cabeça, nos olhos de quem olha querendo ver, buscar, perguntar", diz. Nesta entrevista, Tourinho faz algumas reflexões sobre o universo feminino e sobre a importância do mito na arte e fala sobre a relevância do intercâmbio cultural entre as instituições federais de ensino superior. Quais são os limites do território feminino? Pode-se falar também em desterritorialização, no sentido de romper os limites e de falar sobre/para uma mulher que é única e ao mesmo tempo universal? Qual a importância do mito na arte? Qual é a relevância do intercâmbio cultural entre as instituições federais de ensino superior?
artistas plásticas vinculadas à Faculdade de Artes Visuais (FAV) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Discutir e desvelar os mitos, mistérios e territórios femininos na contemporaneidade é um dos desafios das oito mulheres envolvidas no projeto Mitos e Territórios, da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da UFG. A diversidade do tema e suas relações com antropologia e ancestralidade, ficção e imaginário, corpo e memória, etnia e autobiografia, acabaram por construir territórios híbridos - porém femininos.
Discutir e desvelar os mitos, mistérios e territórios femininos na contemporaneidade não é tarefa fácil. No entanto, oito mulheres aceitaram esse desafio e, em 2001, iniciaram o projeto Mitos e Territórios, na Faculdade de Artes Visuais (FAV) da Universidade Federal de Goiás. A diversidade do tema e suas relações com a antropologia e ancestralidade, ficção e imaginário, corpo e memória, etnia e autobiografia acabaram por construir territórios híbridos, porém femininos, representados nos trabalhos das artistas plásticas Anahy Jorge, Ciça Fittipaldi, Christiane Brandão, Eliane Chaud, Simone Marçal e Selma Parreira e da fotógrafa e cineasta Rosa Berardo, tudo bem costurado pela teórica Irene Tourinho.
Limites sãopontos de impasse, de conflito.Pontos de encontro ede imbricações. Os limites do território feminino são mutáveis edependentes de outros territórios:históricos, culturais, sobretudo sociais. Os territórios femininos, assim comooutros, constituem combinações, territórios híbridos. Não há limites a priori. Há percepções e interpretações que podem limitá-los, mas eles se revolvem e criam outras demarcações.
Nem sempre a desterritorialização rompe limites. Às vezes,as marcas da percepção edos afetosse movemsem sair do lugar. Outras vezes, essas marcas levam a mulher a territórios contestados: e estes, de quem serão?Falar sobre ou parauma mulher única e ao mesmo tempo universalsatisfaz temporariamente um desejo de integração, pois somos seduzidas pela vontade de igualar as coisas.Mas um'humano' único e universal - local e global (?)-rapidamente coloca em xeque possibilidades de discursos.
São as diferenças que contam, que atraem, que perturbam. São as diferenças de tempos eespaços que fazem correr esta chama de curiosidade e anseio que teima em nos levar do único ao universal, como se um fosse possívelsem o outro. A questão é como e quando as visões, sentidos e interpretações se dilatam do único para o universal, intensificando nossa relação com o mundo, com a vida. Mas a pista é dupla: o universal também impõe modos de ver que são únicos.
O mito conta e reconta histórias. Une saber e identidade. Como disse Geertz, carrega uma 'aura de factualidade' e, com ela, exala seu poder. Mito e arte são dimensões produtivas das nossas capacidades de interpretar, criar e recriar mundos. O mito é importante na arte porque esta é sua parceira. Eles andam juntos, correm pelas camadas finas que constroem vasos circulantes entre vida e vivência, jogos e convivência.
Esse intercâmbio tem um papel deflagrador de uma discussão que há muito se faz necessária. Arte e universidade formam uma dupla que pode soar bem além dorefrão queentende arte apenas comoagente deintegração entre a academia e a sociedade. Sempre que a universidade quer se articular com a sociedade, ela escolhe alguma forma dearte para estabelecer este vínculo. As artes têm feito este papel de mostrar uma carasensível, bonita, às vezes glamourosa da academia. Mas nos interessa pensar a arte como conhecimento. Pensá-la como uma forma de construir e até de impor maneiras de ver, compreender e explicar- a si, aos outros e ao mundo.
Atualmente, temos mais de 300 cursos de arte espalhados pelas universidades e instituições públicas e privadas brasileiras. Ainda são poucos os cursos de mestrado e doutorado, mas a produção artística é intensa e, no circuito das artes fora da universidade, é crescente a participação de artistas professores e professoras. Esta produção tem que circular,criar diálogos, fundir interesses para alargá-los. O intercâmbio de idéias e propostaspara a construção de conhecimento é hoje tão importante quanto nossa capacidade de fazer e provocar deslocamentos. Somos antes de tudoseres culturais e sociais. Aprendemos com a troca, com os deslocamentos e com as passagens e paisagens de mundos diferentes.