Em 1998, estudantes de Iniciação Científica da Faculdade de Letras (Fale) participavam de iniciativa que buscava investigar as relações da literatura com o cinema e as trocas culturais entre Brasil, Argentina e Uruguai. A complexidade das "conexões" artísticas entre os países do Cone Sul, então identificadas pelos alunos, acabaram por ampliar os objetivos e horizontes do projeto A tela e o texto (www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/#), que ultrapassou os limites físicos da própria Fale e, hoje, além do ensino e da pesquisa, tem na extensão uma de suas principais vertentes. O grupo é responsável não só por estudos de mestrado e doutorado, como também por levar o universo da literatura à comunidade belo-horizontina. Em breve, por exemplo, o projeto, através de convênio com a BH Trans, difundirá textos de prosa e poesia em ônibus da capital mineira. "O estudo da relação entre cinema e literatura nos levou à investigação de uma série de questões sociais brasileiras. Passamos então a nos questionar: como aproveitar nossa experiência para melhorar o nível de leitura das pessoas?", conta a professora Maria Antonieta Pereira, coordenadora geral do projeto A tela e o texto. A aproximação entre estudo acadêmico e demandas sociais deu-se a partir dos próprios fundamentos da pesquisa sobre cinema e literatura. A partir de discussões dos pesquisadores com integrantes do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) da UFMG, ficou clara a influência, no Brasil, do vídeo, da televisão, e até mesmo do computador, sobre o cotidiano das pessoas. "Nosso país possui forte cultura televisiva. Daí a preocupação em utilizar nossa experiência para a difusão da literatura entre as pessoas", diz a coordenadora. Atividades Outra iniciativa do projeto é realizada no Centro de Convivência Providência, da rede de Saúde Mental da Prefeitura de Belo Horizonte, em parceria com o LabGrupo, do curso de Psicologia da UFMG. No espaço, estudantes da Universidade promoveram dez encontros para debater literatura, música e cinema com deficientes mentais. Além de discutir com os pesquisadores um conto de Luiz Vilela e os curta-metragens Dois homens, de Helvécio Marins, e Françoise, de Rafael Conde, os participantes produziram uma série de textos. "O material escrito foi exposto em murais. Nos últimos encontros do curso, os alunos redigiram e ensaiaram uma peça teatral, encenada para a comunidade durante a cerimônia de entrega dos certificados", conta Maria Antonieta. Levar a literatura às pessoas localizadas à "margem da margem", na expressão da própria coordenadora, é mesmo um dos principais objetivos do projeto. Durante o segundo semestre de 2004, A tela e o texto abriu outros cursos, destinados a professores, deficientes mentais e agentes sociais, no bairro São Paulo e no Barreiro. "Através da literatura, buscamos reconstruir laços", diz.
Com o passar do tempo, A tela e o texto ampliou suas frentes de atuação. Hoje, além de 15 pesquisas de iniciação científica, mestrado e doutorado, o grupo desenvolve mostras de cinema, no Brasil e em outros países latinoamericanos, e diversos trabalhos com a comunidade. Através do projeto Leitura para todos, realizado em parceria com a BHTrans, os pesquisadores pretendem investigar as relações entre literatura, ciência e tecnologia, para, "tendo em vista os milhões de analfabetos e semi-analfabetos que, infelizmente, ainda existem no Brasil", melhorar os níveis de leitura da população. "Afixaremos versos e textos de prosa nas cadeiras e outros locais estratégicos dos ônibus", conta a professora.