Todos os anos, instituições dos mais variados ramos gastam milhões de reais em políticas de comunicação que buscam consolidar o diálogo com seus diversos públicos. O dinheiro continuará a ser gasto, mas a conversa vai ficar para depois. "Apesar de legítimas, as revistas institucionais são monológicas, apenas simulam um diálogo livre", atira Maria do Rozário Starling de Barros, que acaba de defender dissertação de mestrado em Lingüística na Faculdade de Letras. Ela diz que as publicações internas são fechadas e que o funcionário não se arrisca em críticas. "Ele simplesmente aparece para reforçar as políticas já definidas pela empresa. Sua fala é de corroboração", ressalta a pesquisadora. O estudo mostra que o funcionário apenas simula um diálogo livre. "Comparando-se com as revistas de ampla circulação, a construção discursiva é bastante diferente. Enquanto as internas fecham o debate, as outras procuram abrir". Para concluir que as publicações são incapazes de estabelecer interlocução, a pesquisadora analisou quatro revistas de empresas: de um supermercado, de uma companhia telefônica, de um banco e de uma mineradora. "Todas elas acenam com promessas, como a manutenção do emprego e políticas salariais condizentes, buscando cooptar o leitor para as metas da empresa", analisa. Maria do Rozário diz que a pauta das revistas é bastante restrita. "O mundo que existe é o da empresa e seus valores", afirma. Segundo a pesquisadora, há uma simbologia de sucesso nas mensagens veiculadas nos periódicos. "A idéia é de que a companhia de sucesso gera funcionários de sucesso, algo como: ´nós crescemos e você é o beneficiado´", afirma, ressaltando que algumas empresas tratam o funcionário pelo eufemismo de colaborador. Cliente Nessa perspectiva, apesar de teoricamente dirigida aos trabalhadores, as revistas na realidade destinam-se ao consumidor, que é contatado por intermédio do funcionário. "Ele é uma ponte entre os valores da empresa e o cliente externo, espremendo-se entre essas duas estruturas e sofrendo pressão de ambos os lados". Ficha técnica
A pesquisadora lembra que seu estudo tem um pé na lingüística e outro nos campos da sociologia, história e filosofia. "É uma pesquisa de ancoragem sócio-lingüística". Foi essa característica o que fez Maria do Rozário buscar as origens do modelo de comunicação empresarial da atualidade. Segundo ela, a gênese está nas transformações impostas ao mundo do trabalho pela crise do petróleo de 1973. Com as grandes guinadas que o mundo sofreu nesse período, surgiram novas teorias para gestionar o trabalho. A partir daí, ele passou a ser desenvolvido em equipe, de maneira mais democrática e com o apoio da comunicação. "Surgiu o conceito de endomarketing, cuja estratégia é definir o funcionário como cliente. O trabalhador passa a ser co-responsável pela empresa", explica Maria do Rozário.
Dissertação: A dimensão comunicativa das práticas sociais no mundo do trabalho: uma análise textual-discursiva de revista de circulação interna em empresas de comércio, indústria e serviço
Autora: Maria do Rozário Staling de Barros
Orientadora: Regina Lúcia Péret Dell´Isola
Programa: Pós-graduação em Lingüística da Faculdade de Letras