Corpinho sarado e saúde de jovem. Na opinião da revista Nature, o mais importante periódico científico do mundo, o Brasil tem esse perfil, quando o assunto é biotecnologia aplicada à saúde. Em um suplemento publicado este mês, a revista faz um vôo panorâmico sobre os avanços alcançados pelo Brasil na área. "Um dado a se comemorar é que 11% da produção científica brasileira nesse campo é feita na UFMG", diz o professor Carlos Alberto Pereira Tavares, vinculado ao departamento de Bioquímica e Imunologia e atualmente na direção do ICB. Segundo ele, a estatística é bastante satisfatória. De acordo com o artigo, 80% da biotecnologia aplicada à saúde é feita em universidades e institutos de pesquisas estatais. Carlos Alberto afirma que a UFMG chegou a esse patamar porque tem sido bem administrada e devido aos investimentos que fez em pós-graduação, criando e consolidando diversos cursos. "Em 1980, tínhamos quatro cursos de pós aqui no ICB. Hoje são 10, formando recursos humanos de alta qualidade", afirma. O diretor lembra que cerca de 600 alunos estão matriculados em mestrados e doutorados do ICB. "Todos eles dentro da biotecnologia ou tangenciando a área", explica o professor, ressaltando que ainda existem outros 600 estudantes bolsistas de iniciação científica na graduação. Além da qualidade das cabeças pensantes, Carlos Alberto ressalta que o ICB tem conseguido investir em recursos infra-estruturais. "Adquirimos equipamentos grandes e caros que hoje estão instalados em laboratórios de uso comum a todos os pesquisadores, o que otimiza os recursos disponíveis", avalia. Músculos Na opinião do diretor do ICB, um deslize do artigo que trata do Brasil é que não se mencionam atividades importantes e nomes de algumas empresas de destaque no cenário brasileiro da biotecnologia. "Para citar duas de Belo Horizonte, Katal e Hertape", lembra. Durante a pesquisa, a comissão entrevistou 33 brasileiros envolvidos com a área. Carlos Alberto concorda com a avaliação do artigo de que o Brasil é um país musculoso em biotecnologia. Para ele, a situação deverá melhorar ainda mais num futuro próximo. "Isso porque temos mercado, pessoas qualificadas para pesquisa e capitalistas com recursos para investimentos", justifica. O diretor diz que a criação do parque tecnológico próximo à UFMG também deve contribuir para o avanço da área. Em suas cinco páginas, o artigo chama a atenção para o esforço feito pelo país para investimentos em pesquisa básica e também na formação de recursos humanos qualificados. "Eles dizem que publicamos quase no mesmo nível mundial e que nossos artigos saem em revistas de maior prestígio, quando comparados com os outros países avaliados", registra Carlos Alberto. O texto mostra, entretanto, que o Brasil precisa melhorar seu sistema de registro de patentes, ter uma política permanente para financiamento à pesquisa e afinar as ligações entre os setores público e privado. "Eles fazem ainda uma sugestão bastante controversa para nós atualmente. Defendem o afastamento temporário de professores/pesquisadores para trabalhar em empresas privadas sem a perda do cargo na universidade onde atuam", diz Carlos Alberto.
Intitulado The scientific muscle of Brazil´s health biotechnology, o artigo da Nature é fruto do trabalho de uma comissão de cinco cientistas ligados ao programa canadense de genômica e saúde global, da Universidade de Toronto. Eles foram incumbidos de estudar a situação do Brasil e de outros seis países (Rússia, China, Coréia do Sul, Índia, Egito e África do Sul).