Muitos consumidores confundem irradiação com radioatividade. Isso projudica o uso da irradiação por raios Gama, tecnologia capaz de prolongar o tempo de exposição de frutas e legumese controlar microorganismos em alimentos como carnes, milho, leite, café e ervas medicinais. Já aplicada na Europa, o processo "é absolutamente seguro, não tendo ainda sua utilização disseminada devido ao medo e à rejeição por parte dos consumidores em algumas partes do mundo", afirma Alexandre Soares Leal, pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). Ele coordena trabalho de parceria entre CDTN, UFMG e Fundação Ezequiel Dias (Funed), financiado pela Fapemig, que pretende avaliar a segurança de alimentos irradiados. "A irradiação já é exigida em vários países importadores de alimentos. Podemos prestar um serviço aos produtos brasileiros, ao definir as condições e o controle de qualidade do processo", afirma a professora Vany Ferraz, do departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) da UFMG. Além da Química, há pesquisadores das áreas de Física e Biologia da UFMG envolvidos no projeto. Aplicação "A tecnologia por irradiação pode ser uma resposta para a preservação e melhoramento da qualidade dos alimentos", afirma Alexandre Leal, ao lembrar que com a crescente procura por alimentos seguros, esta tecnologia já vem sendo utilizada em 37 países. A irradiação elimina ou diminui as toxinas e os fungos que as produzem e reduz a população de microorganismos a um nível aceitável para consumo humano. A pesquisa coordenada por Alexandre Leal pretende avaliar a eficácia da irradiação em produtos produzidos no Brasil, determinando como esta técnica inibe ou destrói fungos e toxinas dos alimentos. Outro objetivo é avaliar as diferentes metodologias utilizadas para identificar os subprodutos da irradiação, os chamados radiolíticos. "Os países importadores compram o produto irradiado, mas exigem ser informados sobre o processo. Por isso é necessário definir os métodos mais adequados para identificar se um alimento foi ou não irradiado e com que dosagem", explica Alexandre Leal. Nesta pesquisa, os alimentos são irradiados no CDTN - que possui uma fonte de Cobalto 60 - e as amostras são submetidas a análises químicas, físicas e biológicas pelos demais pequisadores. Segurança Leal caredita que a aceitação do alimento irradiado está relacionada ao nível de informação e conhecimento sobre a técnica. Por isso, ressalta, é fundamental difundir a tecnologia de irradiação, bem como informaões e métodos de detecção práticos, seguros e de larga aplicabilidade, "de modo a ampliar a aceitação e a confiança do mercado consumidor em relação a esta tecnologia". Segundo ele, observa-se até uma tendência mundial de se pagar mais caro por um produto irradiado. "Nos Estados Unidos, propensão do consumidor para comprar alimentos irradiados aumentou de 57% para 83%" graças a um campanha educativa", diz o pesquisador Alexandre Leal. Irradiação e radioatividade Já a radioatividade é a capacidade de certos elementos de emitirem radiação ionizante dos tipos, alfa, beta e gama. Esses elementos podem ser encontrados na natureza ou produzidos artificialmente, como os chamados transurânicos (elementos mais pesados que o urânio). Ficha Técnica Equipe: Alexandre Soares Leal (CDTN), Vany Perpétua Ferraz (UFMG), Raquel Gouvêa dos Santos (CDTN), Klaus Krambrock (UFMG), Guilherme Prado (Funed), Jovita Eugênia Gazzinelli Cruz Madeira (Funed), Marize Silva de Oliveira (Funed), Vanessa Andréa Drummond de Morais (Funed), Ionara Fernanda Rezende Vieira (Doutoranda em Engenharia Química Departamento de Engenharia Química da Unicamp) e Patrícia Maria Barragán Frattezi (Graduanda em Química e bolsista de Iniciação Científica do CDTN) Financiamento:
A freqüente incidência de toxinas em produtos agrícolas representa um grande impacto negativo na economia, especialmente nos países em desenvolvimento, onde técnicas adequadas de cultivo, colheita, pós-colheita e armazenamento são raramente praticadas. Estima-se que durante o armazenamento ocorre perda de 10% de cereais, 40% de legumes e frutas e 75% de grãos, e muito mais para carnes, devido ao fato de serem particularmente sensíveis aos ataques enzimáticos e microbiológicos.
"Um alimento submetido aos raios Gama não se torna radioativo, apenas sofre uma irradiação momentânea", explica o pesquisador, ao comparar a irradiação ao processo de aquecimento de alimentos em microondas.
A irradiação é o processo segundo o qual determinado material é submetido ao tratamento pela radiação - pode ser ionizante ou não, dependendo da sua energia. No caso dos alimentos, eles são tratados normalmente por radiação gama do elemento cobalto 60. O tratamento por irradiação do alimento, portanto, não torna o alimento radioativo.
Pesquisa: Avaliação da segurança alimentar de derivados de milho, leite, café e ervas medicinais tratados por irradiação Gama: contaminação fúngica, micotoxinas e detecção de produtos radiolíticos
Fapemig