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Um debate inédito marcou a tarde desta terça-feira, 15 de fevereiro, durante as comemorações pelos 30 anos de existência da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), da UFMG. A platéia que lotava o auditório da reitoria, no campus Pampulha, assistiu ao debate, iniciado às 14 horas, reunindo a reitora Ana Lúcia Gazzola, o presidente da Fundep, professor José Nagib Cotrim Árabe, e os jornalistas Carlos Heitor Cony, colunista da Folha de São Paulo, Heródoto Barbeiro, da TV Cultura e da CBN, e Arthur Xexéo, do jornal O Globo. Ao longo de duas horas, os participantes discutiram diversos temas relacionados à educação no País, como a função das fundações de apoio à pesquisa, a polêmica das cotas de acesso à universidade, a reforma universitária e o papel desempenhado, no Brasil e no mundo, pelas instituições públicas e privadas de ensino superior. Em seu depoimento inicial, a reitora Ana Lúcia Gazzola ressaltou a importância da Fundep para o progresso acadêmico da UFMG: "A Fundep nasceu como símbolo de novas e promissoras possibilidades de gestão. Hoje, quando a Universidade encontra-se engessada por uma série de questões, seu papel é ainda mais fundamental". Segundo a reitora, a maioria dos hospitais universitários não funcionaria sem a ação das fundações. "Sem a Fundep, não seria possível, nem mesmo, que a UFMG cumprisse a gestão de certas atividades cotidianas. Em qualquer cenário, mesmo de bom orçamento global, as fundações são importantes por nos permitirem, por exemplo, competir em editais internacionais", ressaltou. Isso porque para participar de tais concorrências científicas, é preciso que a entidade possua patrimônio próprio. "É importante dizer, no entanto, que as fundações precisam ser submetidas a rigoroso controle dos conselhos universitários, e devem, sempre, criar fundos de apoio institucional", completou. Mediador do debate, o jornalista Heródoto Barbeiro iniciou a discussão com o relato da experiência de fundações paulistas, muitas vezes acusadas de representarem o primeiro estágio rumo à privatização das universidades públicas. "Ao abrir cursos de especialização pagos, a universidade não entra em concorrência com a iniciativa privada?", perguntou. Em resposta à questão, o professor José Nagib Cotrim Árabe lembrou que as prioridades e deveres da UFMG dizem respeito à graduação e aos cursos de mestrado e doutorado. "Não podemos arcar com os programas de educação continuada. Os professores são os mesmos e o dinheiro gasto com a infra-estrutura dos cursos não pode ser pago com recursos públicos", explicou. O presidente da Fundep também comentou que as fundações não podem ser compreendidas como atores principais do processo educacional: "A Fundep trabalha nos bastidores. Ela é responsável, como agência financiadora, pelo permanente apoio à ciência e ao desenvolvimento das práticas acadêmicas", disse. Ao relembrar o problema do atual "engessamento" das universidades, citado pela reitora Ana Lúcia Gazzola, o jornalista Arthur Xexéo comentou o quanto a história das instituições públicas brasileiras é marcada pela dificuldade de ação. Heródoto Barbeiro aproveitou a deixa e perguntou à professora Ana Lúcia Gazzola o que representa a autonomia para as universidades. "Nossa grande bandeira é a autonomia. Neste sentido, nos itens da atual reforma universitária, há contradições que precisam ser revistas", disse a reitora. O escritor e jornalista Carlos Heitor Cony comentou, inicialmente, a diferença de realidades entre as instituições públicas e privadas. E se disse, por experiência pessoal, contra a implementação de cotas que auxiliassem o ingresso de minorias na universidade. Polêmico, o tema passou pela explicação da reitora Ana Lúcia Gazzola, que comentou o empenho da UFMG na ampliação dos cursos noturnos, fruto das discussões do Conselho Universitário e do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Cepe) da Universidade, como forma de ampliar o acesso à Instituição. Arthur Xexéo declarou-se a favor do sistema de cotas: "É a primeira vez que se discute, no Brasil, o pagamento das dívidas que o País tem com uma série de setores sociais", comentou. Ao longo de mais 60 minutos, a reitora Ana Lúcia Gazzola, o professor José Nagib Contrim Árabe e os três jornalistas convidados debateram outros temas caros à educação brasileira: a proposta do Prouni - programa do governo que pretende usar vagas excedentes em universidades privadas para ingresso de alunos carentes -, a importância de se definir a destinação dos recursos públicos e o papel da ampliação de vagas nas universidades federais e estaduais como forma de democratizar o ensino superior. Selo comemorativo Às 18 horas, no saguão da Reitora, foi aberta oficialmente a Galeria Fundep 30 anos. Na exposição, os visitantes encontram documentos, fotos e obras de arte que relembram a trajetória da entidade. Numa das alas da mostra, os diversos setores da Fundação são detalhadamente explicados. Em outros espaços, ficarão expostos uma pintura com a imagem de todos os ex-diretores da Fundep, feita por José Maria Ribeiro, e retratos em grafite, desenhados por quatro estudantes da Belas-Artes, dos quatro professores agraciados com o prêmio Fundep. Outro ambiente será dedicado ao Fundo Fundep. Saiba mais sobre a Fundep no site da entidade.
Após o debate, às 16h30, acontece lançamento, pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, de selo e carimbo comemorativos do 30º aniversário da Fundep. Além disso, foi realizada solenidade para lacre de uma urna de aço inox, onde serão depositados documentos representativos da atualidade, como o relatório de atividades da Fundep em 2004, peças institucionais da Fundação, material de pesquisas da UFMG, dados socioeconômicos do Brasil, mensagens do presidente da República e do governador Aécio Neves, além de livros da Editora UFMG. A urna só será reaberta em 2025, quando a entidade completa 50 anos.