O uso de animais em práticas de ensino e experimentações científicas foi tema da conferência Alternativas ao uso de animais: a realidade brasileira, proferida nesta sexta-feira, 19, no auditório da Reitoria da UFMG, pelo professor Stelio Pacca Luna, da Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp, de Botucatu, São Paulo. Parte da programação do IV Simpósio de Ética em Pesquisa com Seres Humanos e I Simpósio de Ética em Experimentação Animal, a conferência ocorreu sob a coordenação da professora Emília Sakurai, do Departamento de Estatística da UFMG. Os encontros, que se realizam dias 18 e 19 no campus Pampulha da UFMG, foram abertos ontem, simultanemente, em cerimônia acontecida no auditório da Reitoria, com uma palestra do filósofo Renato Janine Ribeiro sobre Responsabilidade ética. As palestras Uma só ética, pelo professor Dirceu Grecco, da UFMG; e Biotério, uma questão de ética, pela professora Marilene Michalick, do ICB/UFMG, além de duas mesas redondas sobre O Ensino da ética e A Ética no ensino e na pesquisa deram prosseguimento ao evento, no dia da abertura. A realização deste evento, proposto pelo Comitê de Ética em Pesquisa, que trata de pesquisas com seres humanos (Coep/UFMG) e pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal (Cetea/UFMG), pretende construir uma visão abrangente da bioética. Esta considera o cuidado com o ser humano e com o animal, enquanto seres vivos, envolvidos na pesquisa e no ensino, que se relacionam entre si e com o ambiente. Animais na pesquisa O conferencistas destacou ainda que tal situação não é realidade somente no Brasil. "No Reino Unido, apenas 25% das pesquisas que utilizam cobaias são publicadas", compara. Ele completa: "É um grande desperdício de dinheiro, tempo e vida". Durante a palestra, foram levantados questionamentos sobre a real necessidade do uso de animais em algumas práticas científicas, que expõem essas criaturas a métodos dolorosos e cruéis. "Procuro me colocar no lugar deles, são indivíduos e cada um com suas particularidades", afirmou Luna, ao levantar a questão da ética. Segundo ele, muitos desses animais sofrem durante as experimentações, passam por desconforto, danos e lesões, além de medo e estresse. "Se sofrem ao servirem ao homem, temos que, no mínimo, tratá-los dignamente", diz. Afinal, "os animais têm emoção? Têm inteligência? Comunicam-se?", questiona. Na ocasião, o professor levanta também reflexões mais profundas: "O homem é o ser mais importante do planeta?". Segundo ele, entretanto, o ideal é repensar essas práticas e propor alternativas. "O importante é ter bom senso e saber cotejar, não podemos dizer que não se aprende com métodos alternativos", completa. Alternativas Ele exemplifica que em alguns laboratórios de cosméticos são realizados testes em coelhos para detectar possíveis alergias e inflamações nos olhos causadas por produtos. "Hoje já existe uma proteína que simula as reações dos olhos humanos", afirma. "Acredito que a transição deve ser gradual, é preciso tentar inovar e mesclar técnicas", finaliza. O IV Simpósio de Ética em Pesquisa com Seres Humanos e o I Simpósio de Ética em Experimentação Animal prosseguem nesta sexta-feira, quando se encerram. Confira a programação na Internet.
Traçar um panorama brasileiro da prática de uso de animais foi o ponto inicial da conferência de Stelio Luna. Segundo dados apresentados pelo professor, a cada três a cinco mil produtos testados em animais durante estudos e pesquisas, apenas um chega ao mercado. "É preciso reavaliar a relação quantidade versus qualidade", afirma Stelio sobre o alto índice de sacrifícios de animais realizados em vista do número reduzido de publicações e produtos que alcançam o mercado.
Softwares, aparelhos simuladores, videos e utlização de cadáveres são algumas das alternativas que podem substituir o sacrifício de animas em práticas de ensino e pesquisa. "Métodos alternativos podem ser eficazes", aponta Stelio.
O professor mostra a tendência mundial de diminuir o uso de animais em laboratórios e salas de aulas. Segundo ele, 70% das 126 escolas norte-americanas pesquisadas não possuem biotérios (viveiros de animais empregados nas experiências). Pesquisadores australianos já reduziram em 90% o uso das criaturas e na Inglaterra, há cem anos não se utiliza as cobaias em práticas de ensino.