Começa nesta segunda-feira, 8, o primeiro módulo presencial na UFMG do Curso especial de graduação para professores e educadores indígenas. A solenidade de abertura será às 9h, no auditório Neidson Rodrigues, da Faculdade de Educação, seguida de aula inaugural, com o professor Roberto Jamil Coury, do Conselho Federal de Educação e ex-presidente da Capes. Além dos 142 alunos, participam da solenidade autoridades convidadas, representantes da Universidade e lideranças indígenas. Após a primeira etapa presencial, que se encerra em 2 de junho, os índios retornam às suas aldeias e continuam as atividades do curso, com a orientação de monitores da UFMG. Farão ainda dois laboratórios interculturais, em que participarão de núcleos de pesquisa da Universidade. Em setembro, haverá outro módulo presencial. Com duração prevista para cinco anos, o curso é pioneiro no Brasil, simultaneamente aos dos Estados de Mato Grosso e Roraima. Os 142 índios inscritos nesta primeira edição representam oito etnias residentes em Minas Gerais. Segundo a professora Maria Inês de Almeida, devido à complexidade de saberes envolvidos, a organização do curso “foi pensada em três grandes eixos curriculares”: Realidade sócio-ambiental; Múltiplas Linguagens; e A escola e seus sujeitos, coordenadas respectivamente pelas professoras Ana Gomes, Maria Inês de Almeida e Lúcia Helena Álvares, esta última também coordenadora geral do curso. A partir destes eixos, cada aluno escolherá as disciplinas que cursará, numa proposta curricular denominada percurso acadêmico. “A idéia é privilegiar a diferença dos interesses individuais”, explica a professora. Formação intercultural "Apostamos numa escolarização de qualidade, que respeite as identidades e as diversidades das culturas", afirmou à época a então diretora da Faculdade de Educação e atual pró-reitora de Extensão da UFMG, professora Ângela Dalben. Segundo ela, o novo curso tem caráter de continuidade e atende à demanda dos próprios profissionais que já passaram por cursos de formação no nível médio. "A idéia é consolidar o compromisso com os povos indígenas", complementa a coordenadora do projeto professora Lúcia Helena Álvares Leite. Seleção e currículo Com estrutura diferenciada, a graduação é composta por módulos de aprendizagem e grupos de trabalhos que acontecerão, na UFMG, durante quatro semanas. Etapas intermediárias, realizadas nas comunidades, também fazem parte do curso. O estudante, que também é professor na comunidade indígena, deve realizar projetos de pesquisa, sob a orientação de monitores do projeto. Ao final de cinco anos, os alunos estarão aptos a atuar como professores dos ensinos fundamental e médio. Durante a formação, o professor poderá escolher entre as três habilitações oferecidas: Línguas, literatura e arte; Ciências da natureza e matemática; Ciências sociais e humanidades. A Funai destinará R$ 372 mil anuais ao Curso de Formação Intercultural de Professores, e a Secretaria de Estado de Educação, R$ 89 mil. A UFMG é responsável pelo corpo docente, espaço físico e equipamentos.
O Curso de Formação Intercultural de Professores, licenciatura especial que atende educadores que já atuam em suas comunidades, foi aprovado pelo Conselho Universitário no segundo semestre de 2005. O curso é financiado com recursos do edital do Programa de Apoio à Implantação e Desenvolvimento de Cursos de Licenciatura para Formação de Professores Indígenas (Prolind), aberto pelo Ministério da Educação, que disponibilizou R$500 mil para a licenciatura indígena.
A seleção dos alunos, realizada em dezembro passado, não foi feita com base em teste de conhecimentos, mas em critérios elaborados em discussões com as comunidades indígenas.