Termina na tarde desta quarta-feira, 21 de junho, a Mostra das Profissões 2006 da UFMG. No evento, cerca de 40 mil estudantes mineiros do ensino médio exercitam, na Universidade, a prática do autoconhecimento. Mais do que recolher informações sobre os 48 cursos oferecidos pela Instituição, a iniciativa é o momento propício para que os alunos pratiquem a “arte” de escolher caminhos. Ao tentar interpretar os próprios sentimentos, gostos e aptidões, o jovem inicia, definitivamente, sua longa jornada profissional. “Informação não basta, pois cada indivíduo irá processá-la de maneira diferente. É importante que os estudantes atentem para sua capacidade de seleção”, resume a professora Flávia Lemos Abade, do departamento de Psicologia da Fafich. Ela chama a atenção para a dupla importância do evento: a possibilidade de acesso de alunos de escolas públicas ao universo acadêmico da Universidade e o horizonte do auto-conhecimento. “Os profissionais do futuro precisam, cada vez mais, de autonomia. As pequenas escolhas contribuem para a definição do rumo a seguir”, completa a professora. Selecionar caminhos, na verdade, significa não só escolher o que se deseja. Como é impossível ter controle sobre tudo, optar, ressalta Flávia Abade, é também sinônimo de perda: “O jovem deve aprender a controlar os próprios desejos”. O aprendizado deve começar antes do ingresso na Universidade. Daí a importância de oportunidades como a Mostra das profissões, espaço exclusivo para o livre pensamento. No ano passado, cerca de 40 mil estudantes mineiros do ensino médio estiveram na UFMG. Entre eles, alunos pouco convictos que costumavam seguir os colegas de escola em direção a estandes mais concorridos. Concorrência, no entanto, não significa solução para todos. “Não adianta seguir o que a maioria indica”, completa Flávia Abade. Convicção pessoal não faltou à estudante Marina Jardim Dias Fraga, hoje no 2º período do curso de Engenharia de Minas da UFMG. À época da escolha de sua futura estrada profissional, apenas uma certeza a auxiliava: “Só me enxergava em cursos de Ciências Exatas”. Esta percepção, no entanto, não era suficiente para espantar o fantasma da dúvida: “Pensei em tentar o curso de física noturno. Isso porque, segundo o preconceito, as mulheres da área de Exatas só poderiam tornar-se professoras”, conta. A possibilidade de seguir a intuição só se consolidou, para Marina, após conversa com um amigo, aluno de Engenharia de Minas da UFMG. “Um dia, ele me perguntou se eu gostaria de morar em cidade grande para sempre. Como gosto de cidades do interior, respondi, rapidamente, que não”, diz. Foi a gota d'água para que repensasse os próprios caminhos. Hoje, a aluna da UFMG tem outra certeza: “Engenharia de Minas é um ramo que carece de gente com grande capacidade. Um cálculo errado pode matar muita gente. Confio mais em mim do que em qualquer homem”, conta. Tendências “Ainda hoje, a Medicina é uma das áreas de maior reconhecimento social. O médico continua visto como a pessoa capaz de resolver os problemas”, comenta o professor Marcus Vinícius de Freitas, coordenador-geral do Vestibular da UFMG. Por outro lado, Ciências Biológicas indica a vontade latente do jovem brasileiro por se relacionar com os fenômenos naturais, além da preocupação com as questões ecológicas. Tendências, no entanto, não são suficientes para que os estudantes tenham convicção diante da clássica frase: “O que eu vou ser quando crescer?”. Além das profissões da “moda”, o professor Marcus Vinícius aponta outros dois motivos para a escolha de profissões. Um deles diz respeito à respeitabilidade social do curso e o outro ao lugar ocupado pelos “sujeitos” na sociedade. Candidatos pobres costumam evitar os cursos ditos “nobres”, como Medicina e Direito. Outra “bússola” para que os caminhos sejam definidos é o do sucesso financeiro: “Há candidatos que preferem cursos que poderão trazer-lhes mais dinheiro. Mas a maioria busca mesmo a profissão que lhe dará prazer”, completa.
Além de levar informação acadêmica aos estudantes mineiros, a Mostra das Profissões é o espaço para revelação de tendências profissionais. Muitas vezes, a participação em palestras e a busca por informações sobre os cursos mostram o que os jovens têm cogitado para seu futuro profissional. Na edição 2005, a maior parte dos estudantes procurou saber mais sobre Medicina e Ciências Biológicas.