Até o final de 2006, as mulheres brasileiras poderão se prevenir contra o HPV, uma das principais causas de câncer de colo do útero. A conquista se deve, em parte, às ações do Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG. Coordenado pelo professor Aroldo Camargos, o espaço é o único centro de pesquisa em Minas Gerais - e um dos quinze no Brasil - responsáveis pelos testes da vacina contra o HPV. Nos últimos três anos e meio, mil mulheres brasileiras, entre 16 e 21 anos, submeteram-se à vacina. No Hospital das Clínicas, há 81 voluntárias. Para o projeto, foram selecionadas mulheres saudáveis, que nunca tiveram verrugas na região genital ou no ânus e sem feridas no colo do útero causadas pelo HPV. Elas também não poderiam estar grávidas. Algumas mulheres tomaram vacina. Outras, placebo. O resultado demonstrou a eficácia do produto. Apenas aquelas que ingeriram a vacina não desenvolveram lesão cancerígena ou sintomas relacionados ao HPV dos tipos 16 e 18, responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo uterino. O contágio ocorre, na maioria das vezes, através de contato sexual. Contudo, a enfermidade pode ser transmitida por meio de superfícies contaminadas, como roupas, sabonetes e instrumental cirúrgico. Contrair o HPV, no entanto, não significa necessariamente desenvolver câncer ou verrugas genitais. Adultos sexualmente ativos podem ser infectados por um ou mais tipos de HPV e não apresentar sintomas. “A pessoa pode ter o HPV, não desenvolver a doença, e alcançar a cura espontaneamente”, explica o professor Aroldo Camargos.
A vacina
Por ser feita com partículas sintéticas de vírus, a vacina contra o HPV não permite que as mulheres vacinadas desenvolvam câncer ou verrugas genitais. Aprovada pelo Food and Drug Administration, nos Estados Unidos, a vacina está sendo avaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Após a aprovação no Brasil, a fabricação do produto ficará a cargo do laboratório norte-americano Merck, Sharp & Dohme. A Anvisa também definirá os critérios para vacinação no Brasil. Até o momento, sabe-se apenas que a vacina será aplicada em três doses.
Além do Hospital das Clínicas da UFMG, a vacina foi testada em instituições como Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo), Centro de Tratamento e Pesquisa do Hospital do Câncer AC Camargo (São Paulo), IBCC (São Paulo), Hospital Santo Antônio (Salvador), Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis), Famerp (São José do Rio Preto), Hospital Moinho de Vento (Porto Alegre), Hospital PUC (Porto Alegre), Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo, Isbem (São Paulo), HC/FM USP (Ribeirão Preto), Cerhfac (Curitiba) e Cemicamp (Campinas).
Papilomavírus humano
O HPV é a abreviação do Papilomavírus Humano (Human Papilomavirus). Existem cerca de 100 tipos de HPV, divididos, basicamente, em dois grandes grupos: baixo risco ou não-oncogênicos (tipos 6 e 11), associados a lesões benignas; e alto risco ou oncogênicos (tipos 16 e 18), que podem causar câncer de colo de útero. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer do colo do útero é a segunda maior causa de morte por câncer entre as mulheres em todo mundo. Anualmente, cerca de 250 mil mulheres morrem e decorrência da doença.
(Com Assessoria do Hospital das Clíncas)