Curso de educação continuada da UFMG estimula professora a criar malas de leitura

”Quem não tem cão, caça com gato”. E quem não tem biblioteca, o que faz? Ainda mais, quem é educador e sabe bem a importância de que seus alunos tenham acesso a livros? Para Tereza Dias, a resposta é simples: no lugar de uma sala com estantes, malas de leitura.

Ex-professora que vive hoje em Paracatu, município do noroeste mineiro, há 483 quilômetros de Belo Horizonte, Tereza Dias participou, desde o início de 2006, de um curso de formação continuada desenvolvido pelo Centro de Alfabetização, Leitua e Escrita (Ceale) da UFMG, concluído em junho. A partir dessa experiência e como supervisora da Escola Municipal Frei Brocardo, na zona rural do município, ela criou uma biblioteca ambulante. “Junto com os meninos, eu montei uma campanha para arrecadar livros. A gente pedia para todo mundo da comunidade, até ao pessoal da escola mesmo: os meninos com mais condições e os professores. Algumas funcionárias, inclusive, foram convidadas a serem madrinhas das salas. Assim, elas ficaram mais envolvidas com a campanha”.

Sobre o material, a educadora lamenta não ter conseguido, ainda, reunir textos mais adequados. “Seria importante contar com mais livros infantis, por exemplo, já que na escola estudam crianças da faixa dos seis até os dez anos”. A despeito das carências, a variedade é uma das marcas do pequeno acervo. “Essa é uma preocupação, dar conta dos diversos tipos de texto. Para isso eu até fui à cidade e me inscrevi em todas as lojas, só para receber todos os panfletos comerciais”.

Durante o curso de formação continuada, junto com outros 140 educadores da rede municipal da cidade, Tereza Dias passou 64 horas avaliando as dificuldades dos alunos no aprendizado da escrita, discutindo as capacidades a serem trabalhadas para resolver os problemas e definindo como fazer esse trabalho. Para ela, sempre se destacava, entre os pontos discutidos, o da formação de um banco de textos. “Quando eu fui trabalhar na escola, eu sabia que lá não tinha muita estrutura”. Mas o que ela mais sentiu falta foi de perceber o gosto pela leitura difundido entre os alunos.

Tereza Dias lembra que a sua formadora, Marta Passos, doutoranda da Faculdade de Educação da UFMG (FaE) e pesquisadora do Ceale, levava para os encontros uma mala cheia de livros. “Eu levo livros de literatura em geral. Procuro mostrar para os professores as possibilidades de textos com que eles podem trabalhar com seus alunos”, comenta Marta Passos.

Tereza Dias, então, colocou em malas o material reunido com a campanha: hoje são três. A partir daí, durante a semana, ela passou a fazer um rodízio tanto entre as turmas, como entre as salas, para definir aquela que, naquele dia, seria o espaço da biblioteca, permitindo que todas possam aproveitar a biblioteca, com qualidade e sem confusão. Para garantir o conforto das crianças, a educadora doou um tapete de casa para que elas pudessem também ler no chão. Um dos motivos de satisfação é ver o cuidado dos alunos com o espaço e com o material. “Na zona rural é mais comum a criança brincar na terra, ficar com a mãozinha suja. É legal ver que, antes de deitar no tapete, todos lavam as mãos e tiram o chinelinho. Estão conservando o que têm, até que a gente adquira um espaço novo, uma bibliotecazinha, né?”, comenta a educadora. A esperança cresce com o interesse demonstrado pela Secretaria de Educação do Município. “Disseram que vão fazer uma salinha para a gente. Por enquanto é promessa, mas até já veio o engenheiro aqui”.

Tereza Dias fica satisfeita, também, por saber que o pessoal da escola gostou da idéia e pretende continuar com o projeto. Continuidade que deverá se dar sem a sua participação direta: ano que vem, ela se aposenta, depois de mais de 35 anos dedicados à educação, como professora, diretora e supervisora. Concluir a longa carreira com a biblioteca ambulante da escola, ela comenta, significa “fechar com chave de ouro". (Assessoria de Comunicação do Ceale/FaE/UFMG)