Neste sábado, 23 de setembro, será lançado, em Belo Horizonte, o Prêmio Culturas Indígenas - edição Ângelo Cretã, iniciativa do Ministério da Cultura, através de sua Secretaria da Diversidade e Identidade Cultural, e da Associação Guarani Tenondé Porã. Patrocinado pela Petrobrás, o prêmio se destina a ações de fortalecimento cultural ocorridas nos últimos cinco anos, ou em processo de execução há, no mínimo, um ano. A cerimônia de lançamento do projeto acontece, às 14 horas, no Centro Cultural UFMG (avenida Santos Dumont, 174 - Centro). As inscrições para o Prêmio estão abertas e podem ser feitas até 18 de novembro, através dos Correios e da internet. "Serãopremiadas comunidades que trabalham para que suas tradições fiquem mais fortes e sejam transmitidas aos mais jovens", explica Maurício Fonseca, coordenador da iniciativa, que veio a Belo Horizonte para o lançamento. O edital com as regras da premiação foi publicado no Diário Oficial da União do dia 20 de setembro. Neste sábado, o Prêmio será apresentado às lideranças indígenas de Minas Gerais. O prêmio As iniciativas ou ações que permitem inscrição ao Prêmio dizem respeito a religião, rituais e festas tradicionais; língua indígena, mitos, histórias e outras narrativas orais; músicas, danças e cantos; alimentação; artesanato; educação e práticas educacionais que valorizem as culturas indígenas, arquitetura tradicional; pinturas corporais, desenhos, grafismos e outras categorias de expressão simbólica; jogos e brincadeiras; áudio-visual:cds, cinema, vídeo ou outros meios eletrônicos; teatro e histórias encenadas e textos escritos. Ângelo Cretã Cretã foi o primeiro índio a ter um cargo político no Brasil e poderia ter sido deputado federal, cargo oferecido pelo próprio partido, mas preferiu continuar como vereador e ficar próximo a Mangueirinha, Chapecozinho, Nonohai e Rio das Cobras, cidades em que lideraria, no fim dos anos 70, o confronto contra os posseiros da região. Após a morte de Ângelo Cretã, as lideranças indígenas locais se amedrontaram e o processo de demarcação de terras retrocedeu. Atualmente, Romancil Cretã, filho de Ângelo, é um dos líderes da causa indígena no sul, especialmente no Paraná. Projetos Por fim, há o projeto dos índios Kraô, no Tocantins, Região Norte. Premiado internacionalmente, a iniciativa busca recuperar sementes e formas de subsistência quase extintas após a aproximação do homem branco. "Há muito, os índios se esforçam para recuperar suas tradições e garantir que as novas gerações estejam em contato com esse modo de vida. O Prêmio vai ao encontro desse esforço", resume Maurício. Dúvidas sobre o preenchimento da ficha de inscrição ao Prêmio podem ser esclarecidas pelo telefone 0800 7740240, através do e-mail premioculturasindigenas@uol.com.br ou pelos telefones (11) 3101-1365, 3101 2432 ou 3101-2374 . Mais informações sobre o Prêmio no site da iniciativa: www.cultura.gov.br/premioculturasindigenas.
Segundo o Instituto Sócio-Ambiental (ISA), existem, no Brasil, cerca de 370 mil índios divididos em 220 povos, que falam mais de 180 línguas diferentes. Essa parte da população brasileira reivindica, há tempos, políticas públicas para sua produção cultural. A resposta às comunidades veio na forma do Prêmio Culturas Indígenas, que vai selecionar, até o final do ano, através de edital público, oitenta iniciativas de comunidades e organizações indígenas brasileiras, voltadas para o fortalecimento das expressões culturais desses povos. Cada selecionado receberá um prêmio bruto de R$ 15 mil.
É a primeira vez que as culturas indígenas são beneficiadas por uma ação do Ministério da Cultura. O Prêmio acontecerá anualmente, sempre destacando uma personalidade indígena. Neste ano, o homenageado é Ângelo Cretã, liderança Kaingang, natural de Mangueirinha (PR). Ele foi o primeiro vereador indígena eleito no Brasil, em 1976. Quatro anos mais tarde, seria morto numa emboscada, até hoje não esclarecida.
Não é difícil encontrar iniciativas dessa natureza pelo Brasil, algumas já estabelecidas e que pelo tempo de execução não poderão se inscrever ao Prêmio. Que o diga o projeto Memória Viva Guarani, que lançou os CDs Ñande Reko Arandu (1998) e Ñande Arandu Pygua (2006), com cantos tradicionais entoados por crianças e adultos de aldeias guarani e uma tupi-guarani do Sudeste. Já o Vídeo nas Aldeias, com mais de dez anos de existência, formou gerações de índios que produzem, hoje, os próprios documentários e filmes de ficção sobre o cotidiano das aldeias.